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Cracolândia paulistana: o maior fracasso urbano dos tucanos

A região da cracolândia é o maior fracasso urbano e da política antidrogas dos tucanos. Foram eles que anunciaram pelo menos duas vezes que acabariam com os problemas da região, o que não ocorreu. Não é difícil entender por quê.


 


Desde 1998 os governos tucanos gastaram cerca de US$ 100 milhões (cerca de R$ 200 milhões) em projetos grandiosos, como a Sala São Paulo, mas não fizeram o que urbanistas classificam como óbvio: a implantação de moradias na área, para que haja ali ocupação 24 horas.



Há dez anos, quando foi inaugurada a Sala São Paulo, o então governador Mário Covas (PSDB) anunciou que a sala de concertos significava o começo do fim da deterioração da Luz. Como foi adotado o princípio arquitetônico dos bunkers -a sala praticamente não se comunicava com o entorno-, não aconteceu nada na região.



Outras três obras (a reforma da Pinacot eca, a Estação Pinacoteca e o Museu da Língua Portuguesa) também não tiveram impacto no entorno.



Ninguém é contra projetos culturais grandiosos, mas não é preciso ser especialista em urbanismo para notar que essas obras ocupam a região de modo temporário e episódico.



Uma universidade, como a que a USP fez na zona leste, garantiria ocupação permanente. Mas o governador Geraldo Alckmin preferiu fazer marketing político ao criar a USP-Leste: naquela região os tucanos sempre apanharam do PT.



A ausência de projeto habitacional na cracolândia parece derivada de uma crença ideológica, compartilhada pelos tucanos e pelos demos: a de que o mercado resolve essa questão. Se o mercado resolvesse essas questões, não existiriam áreas degradadas nas cidades.



O PT não se saiu melhor na cracolândia. A administração Marta Suplicy (2001-2004) tinha um projeto tão grandioso para a região central, que quase nada saiu do papel. O outro problema da região -o consumo de crack- continua intocado.



A solução adotada no princípio da administração de Serra na prefeitura chega a ser cômica -demoliram uma quadra talvez imaginando que os dependentes desapareceriam com o fim dos prédios. Os dependentes continuam onde sempre estiveram.



Pelo menos uma lição os tucanos e os demos tiraram da cracolândia: ninguém tem coragem de mandar a polícia prender os dependentes.


 


Texto reproduzido do jornal Folha de São Paulo