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Micheletti quer negociar com OEA para evitar isolamento

Um dia depois de Honduras ter sido suspenso da Organização dos Estados Americanos (OEA), o governo de facto – intalado no país após o golpe militar do último dia 28 – disse à entidade que está disposto a negociar. O presid

“Nossa intenção é harmonizar com os demais países, não podemos permanecer isolados permanentemente. Por exemplo, a América Central já abriu as fronteiras comerciais, que estiveram fechadas. Reiniciamos uma relação, ao menos comercial, com os países da América Central”, afirmou Micheletti, durante uma entrevista coletiva, realizada neste domingo, no Palácio Presidencial hondurenho.

Em um comunicado enviado à OEA, redigido pelo presidente da Suprema Corte hondurenha, Jorge Rivera Avilez, o governo interino de Honduras propôs a criação de uma delegação hondurenha para “conduzir negociações de boa fé” com representantes da entidade.

No sábado, os 33 países que constituem a entidade decidiram por unanimidade suspender o país da organização, após ter fracassado a missão diplomática em Honduras do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, que esteve reunido com autoridades hondurenhas na sexta-feira.

A decisão da entidade se deu por conta da deposição do presidente Manuel Zelaya, que ocorreu no domingo passado, quando um grupo de militares invadiu o Palácio Presidencial, obrigando o líder hondurenho a embarcar em um voo para a Costa Rica.

Segundo um funcionário do atual governo, que concedeu entrevista a jornalistas por telefone, a disposição do governo de começar uma negociação é “bem-vinda”, mas ainda não há detalhes sobre quais os objetivos dessa inciiativa. No entanto, em Tegucigalpa, o ministro das Relações Exteriores do governo de facto, Enrique Ortez, disse à Reuters que a negociação não envolve a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, que seria “não negociável”.

Pressão econômica

O governo de facto de Honduras começou a ceder porque está sob intensa pressão econômica. Segundo fontes, Honduras tem petróleo suficiente para apenas mais seis dias. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, grande aliado de Zelaya, cortou na quinta-feira o fornecimento de petróleo subsidiado para Honduras.

Além disso, vários países estudam sanções contra o governo hondurenho. Na resolução aprovada pela OEA na madrugada de ontem, além de suspender Honduras da organização, foi incluída uma cláusula exortando países a “revisarem suas relações” com o país. O texto foi proposto pelo Brasil como forma de avançar na pressão sobre o governo golpista, em vez de ficar apenas com a suspensão de Honduras da OEA, que já havia sido indicada.

O Brasil já estuda possíveis sanções contra Honduras. Em Brasília, o objetivo seria garantir que a suspensão de ajuda não afete a população, sendo apenas um instrumento de pressão sobre o governo ilegítimo. “Não haverá nenhum corte de programas sociais. O destinatário dessas medidas não pode ser o povo hondurenho”, disse o embaixador do Brasil na OEA, Ruy Casaes.

Os EUA já cortaram a cooperação militar com Honduras e suspenderam temporariamente parte da ajuda financeira. “Estamos fazendo uma pausa nos programas”, disse ao Estado uma fonte do departamento. Programas de ajuda humanitária e de promoção de democracia não foram cortados.

Honduras também teve suspensos mais de US$ 200 milhões em empréstimos do Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento.

No sábado, durante a reunião da assembleia extraordinária da OEA, o secretário-geral José Miguel Insulza fez um relatório sobre sua tentativa de negociação em Tegucigalpa, na sexta-feira. Insulza afirmou que encontrou no país “um ambiente de extrema tensão” e disse que a posição do governo era “muito rígida e inflexível”.

A resolução determinou a suspensão de Honduras da OEA, que implica na retirada da Junta Interamericana de Defesa e no isolamento regional. Além disso, a entidade não reconhece nenhum ato do governo de facto. Portanto, a decisão do governo de se antecipar a Insulza e se retirar da OEA era “inexistente”, disse Casaes.

Acusações à Nicarágua

Ao mesmo tempo em que adotou um tom mais conciliador em relação à OEA, o governo interino hondurenho acusou a vizinha Nicarágua – cujo líder, Daniel Ortega, é um forte aliado de Zelaya – de haver mobilizado tropas para a fronteira entre as duas nações.

“Quero respeitosamente pedir ao governo da Nicarágua, aos irmãos nicaraguenses, que não se atrevam a cruzar nossa fronteira, porque estamos dispostos a defendê-la”, disse o líder interino, que afirmou não ter relatos de que as forças nicaraguenses estivessem tentando cruzar a fronteira hondurenha ilegalmente, mas disse que a Nicarágua promove “uma invasão psicológica”. “Estão tentando, por todos os meios, intimidar a população, especialmente os moradores da fronteira.”

A Nicarágua negou ter deslocado soldados para a fronteira entre os dois países. E o próprio Micheletti, apesar de acusar a nação vizinha, pareceu recuar em suas afirmações ao longo da entrevista deste domingo.

De acordo com o presidente interino, a suposta ação militar teria sido lançada por “pequenos grupos de tropas, possivelmente sem mesmo a autorização de seus comandantes”. Sem autorização

O presidente golpista também comentou a negativa do governo provisório em autorizar que o avião que transportava o líder deposto Manuel Zelaya pousasse em território hondurenho. Zelaya pretendia retornar a Honduras neste domingo, após o vencimento do prazo de 72 horas, dado pela OEA, para que ele fosse reconduzido ao cargo.

“Nós insistimos que não queremos conflitos internos. Aqui não se derramou uma gota de sangue e isso (o retorno de Zelaya) poderia ter essa consequência.”

O aeroporto Toncontin, da capital hondurenha Tegucigalpa, foi cercado por centenas de soldados e policiais, a fim de conter os milhares de manifestantes pró-Zelaya que foram até o local esperar pelo voo que traria o presidente deposto de volta ao país.

Os soldados dispararam gás lacrimogêneo contra a multidão. No confronto, pelo menos duas pessoas foram assassinadas pelos militares. No sábado, uma gigantesca manifestação com milhares de manifestantes favoráveis ao líder deposto partiu do centro da cidade e se concentrou nas imediações do aeroporto.

Com agências