Messias Pontes – Honduras: consciência democrática não aceita retrocesso

Quando todos pensavam que a democracia estava sendo consolidada em toda a América Latina depois de sucessivas ditaduras militares no continente nas décadas de 60 e 70 do século passado, eis que direitistas civis e militares se aventuraram em novo golpe de

Inconformados com a mudança de rumos do governo do presidente Manuel Zelaya no rumo da inclusão social da maioria dos hondurenhos, as oligarquias daquele país centro-americano não hesitaram em interromper esse processo. No dia 28 de junho último, militares encapuzados invadiram à noite a residência presidencial e sequestraram o presidente constitucionalmente eleito e o enviaram, ainda de pijamas, à vizinha Costa Rica.


 


Mas para surpresa dos golpistas, o repúdio da consciência democrática em todo o mundo veio tão logo a notícia se espalhou. Até mesmo a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas (ONU), por unanimidade, exigiram a volta à normalidade democrática e o imediato retorno do presidente Manuel Zelaya à presidência daquele país. O prazo estipulado foi de 72 horas, expirado sábado, 04. Como isto não aconteceu, a OEA decidiu excluir Honduras das suas hostes.


 


O presidente Zelaya, com o apoio de todo o mundo, inclusive dos Estados Unidos, tentou retornar ao seu país no domingo, 05, porém, os militares golpistas impediram, colocando caminhões na pista do aeroporto de Tegucigalpa. Milhares de hondurenhos desrespeitaram a proibição do impostor Roberto Micheletti e cercaram o aeroporto. Os militares reagiram com incomum violência, matando três manifestantes com tiros na cabeça e ferindo dezenas de outros.


 


Acostumadas com a conivência e o incentivo do imperialismo norte-americano a golpes de Estado, principalmente na América Latina, a surpresa maior das oligarquias hondurenhas foi com relação à posição do presidente Barack Obama que, tão logo tomou conhecimento da posição de todos os governos latino-americanos, tendo à frente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não hesitou em condenar o golpe e exigir o retorno à normalidade democrática.


 


Os aventureiros golpistas hondurenhos já começam a sentir a reação de completo isolamento: o Banco Mundial já anunciou a suspensão da linha de crédito de US$ 270 milhões; o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também anunciou a suspensão, por tempo indeterminado, de todos os projetos naquele país. Os militares, as oligarquias, a maioria conservadora no Legislativo, a mídia conservadora, venal e golpista de lá e a Suprema Corte que também tem o seu Gilmar Mendes, já estão percebendo que o tiro saiu pela culatra.


 


Uma missão do “governo” golpista tenta buscar apoio em Washington, contudo o Departamento de Estado Norte-Americano já anunciou que não reconhece autoridade do golpista Roberto Micheletti e portanto não se reunirá com seus representantes. “O governo dos Estados Unidos não reconhece o governo ilegítimo de Honduras”, enfatizou o porta-voz da chancelaria ianque, Ian Kelly.


 


Para desespero da grande mídia conservadora, venal e golpista brasileira, nenhum dos seus editorialistas ou colonistas teve o topete de vir a público defender a aventura golpista em Honduras, embora colonistas como a tucana global Miriam Porcão tentasse justificar a deposição do presidente constitucionalmente eleito.


 


Continuo esperando que os tucanos de todas as matizes se posicionem. Gostaria muito de ver todos eles, em todo o País, e em especial o deputado Fernando Hugo usar a tribuna da Assembléia Legislativa do Ceará para condenar a aventura golpista, o assassinato de manifestantes legalistas e exigir o retorno ao seu posto do presidente Manuel Zelaya, bem como a punição dos civis e militares golpistas.


 


Messias Pontes é Jornalista e colaborador do Vermelho/CE