José Reinaldo: A luta pela paz é, em primeiro lugar, contra as guerras imperialistas
Integração, solidariedade e luta antiimperialista foram destacados pelo secretário de Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, como passos fundamentais para a superação da crise financeira internacional e a consolidação dos governos progr
Publicado 10/07/2009 18:50 | Editado 04/03/2020 16:20
Vermelho – Em 2005, o 11° Congresso do PCdoB já assinalava as tendências do mundo contemporâneo e a fragilidade do sistema capitalista em se regenerar. E agora em 2009, no 12° Congresso, o que se pode assinalar diante da atual conjuntura internacional?
José Reinaldo Carvalho – O 11º Congresso foi um grande marco na elaboração política do partido sobre a conjuntura internacional. Primeiro porque o partido analisou a Doutrina Bush, que estava em vigência, mostrou que trazia gravíssimo perigo de alastramento de uma guerra que punha em risco a sobrevivência da humanidade e fez uma dura denúncia do imperialismo norte americano como o principal inimigo dos povos. Além disso, o partido já apontava as tendências que se concretizaram através da atual crise econômica e financeira: a incapacidade do capitalismo em promover uma nova era de desenvolvimento econômico e social, o declínio progressivo do imperialismo norte americano e a deterioração do padrão dólar. Hoje, as grandes contradições entre o proletariado e a burguesia, entre o imperialismo e os povos, e entre as próprias potências imperialistas continuam se manifestando, e as principais tendências em relação à conjuntura internacional continuam sendo a polarização entre as posições do imperialismo norte americano e as posições das nações emergentes e dos povos em luta pela sua soberania nacional, pelo desenvolvimento social, pelos direitos e pela paz. Então, estamos vivendo uma época em que aparecem sinais positivos de desenvolvimento de uma luta política e social de grande envergadura e que vai ser a força motriz das grandes mudanças.
V – E de que forma esses conflitos e o surgimento de nações emergentes influenciaram no cenário nacional e na luta antiimperialista?
JR – O Brasil é uma das principais nações emergentes do mundo e o principal país da América Latina, que é a região mais promissora para o desenvolvimento das lutas por democracia, independência e por progresso social no mundo contemporâneo. Dizemos hoje que se trata de um continente rebelde, porque aqui estão se processando grandes transformações políticas de caráter anti imperialista e com grande ressonância mundial. Por isso mesmo, ganha relevo o esforço político e teórico do nosso partido em elaborar um novo programa, que coloca, no seu alvo, o imperialismo norte americano, as grandes potências imperialistas e também as classes dominantes nacionais associadas a esse imperialismo. O programa pode provocar o novo salto civilizatório do Brasil, mas somente se nós superarmos o regime da classe dominante e o imperialismo e constituirmos, no poder, um bloco democrático e popular voltado para a perspectiva do socialismo; que a grande saída da humanidade para os seus gravíssimos problemas.
V – Diante desse cenário, qual o caminho proposto pelo PCdoB para se alcançar a paz?
JR – A luta pela paz é em primeiro lugar contra as guerras imperialistas e em defesa da solidariedade. Aqui na América Latina, temos que ser solidários com todos esses processos que estão em curso; é uma forma que nós temos de nos fortalecer também como povo e como nação. Ao mesmo tempo, é preciso organizar a solidariedade com os países que estão sendo ameaçados, como o Irã, a Coréia do Norte, a Síria; é preciso que os povos digam que estão do lado desses países. E a solidariedade com os países socialistas e todos os que lutam para construir o socialismo.
V – De que forma esses processos de solidariedade e integração contribuem para o fortalecimento das economias nacionais e ratificação da soberania dos países?
JR – Os processos econômicos, comerciais, políticos, de defesa e culturais levam ao fortalecimento das economias nacionais e das soberanias. Na América Latina, estão em curso alguns processos que se complementam: a Aliança Bolivariana das Américas, capitaneada por Venezuela e Cuba e que já envolve o Equador, Nicarágua, alguns países caribenhos e Honduras, que, inclusive, foi vitimada por um golpe de estado por causa disso; o Mercosul, que envolve Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e queremos que envolva também a Venezuela; e a Unasul – União das Nações do Sul.
V – É possível afirmar que a crise capitalista reafirma e coroa o papel do Estado enquanto regulador da economia?
JR – Em primeiro lugar, a crise põe abaixo os dogmas do neoliberalismo, do mercado totalmente desregulado, das privatizações, da abertura da economia, e emerge a questão do Estado Nacional, progressista e popular como indutor do desenvolvimento. É diferente do intervencionismo estatal que está em curso nos países capitalistas, com a colocação de dinheiro para salvar a banca e setores falidos da economia, que o que Lênin chama de “Capitalismo Monopolista Estatal”, que não está a serviço do desenvolvimento nacional nem dos direitos dos povos.
V – Qual a contribuição do debate do 12º Congresso para a integração entre as nações?
JR – O 12º Congresso será também um congraçamento internacionalista entre essas forças políticas mundiais, com a presença de delegações de todos os continentes, reunindo partidos socialistas, democráticos, de esquerda e progressistas que, mesmo não sendo comunistas, têm relação fraterna com o nosso partido. O 12º Congresso é o congresso de um partido comunista contemporâneo, enraizado na nossa sociedade, patriótico, popular e um partido comunista revolucionário, que não perde o norte e que sabe aonde quer chegar; que é a conquista do socialismo em nosso país.
De Salvador,
Camila Jasmin