George Câmara: Crise e demissões na Grande Natal
Não são poucas as fragilidades da economia do Rio Grande do Norte, de sua capital e da Região Metropolitana de Natal. Em se tratando de mercado de trabalho e oportunidades de acesso ao emprego formal, a principal região do Estado, com uma população de 1 m
Publicado 16/07/2009 19:30 | Editado 04/03/2020 17:08
Respeitada a importância de cada atividade, não podemos desconsiderar que as bases mais sólidas de uma economia estão na geração da riqueza, e não na sua circulação. Nosso turismo tem importância fundamental, porém, nessa atividade, a decisão de vir para cá gastar dinheiro não está em nossas mãos, e sim nas mãos dos turistas. Qual é mesmo o tamanho de nosso mercado interno? Ele tem capacidade de sobreviver a essas turbulências na economia? A que custo?
Na Região Metropolitana de Natal, as margens de nossas principais rodovias não estão ladeadas por indústrias. Estão ocupadas por transportadoras / distribuidoras que, em sintonia com o próprio nome, têm como objetivo trazer produtos das maiores cidades de estados vizinhos para alimentar nossa população. Contribuindo, evidentemente, para a geração de empregos. Só que empregos fora do Rio Grande do Norte. Pergunta-se: Quem fabrica o nosso alimento? Que cidades nordestinas abastecem a CEASA de Natal com frutas e verduras? E a carne bovina que consumimos, vem de onde?
É evidente que uma situação como esta não se configurou em curto prazo. É produto do estágio de atraso econômico e social em nosso país, com tamanhas desigualdades. Sociais e regionais. Históricas e culturais. País de capitalismo dependente, integrado ao sistema internacional pela sua periferia ao longo de cinco séculos, desde a colonização, vivendo sob o tacão da espoliação imperialista. Este é o legado da subserviência de nossas elites, no Brasil e no Rio Grande do Norte. Absolutamente incapazes de assumir com altivez os destinos desse povo trabalhador e excluído.
Nesse contexto, nos deparamos com a crise sistêmica que assola o planeta, desde setembro de 2008. Não é apenas mais uma das crises cíclicas do sistema capitalista, pois perpassa os limites de tempo e espaço. Já dura quase um ano, não tem hora para acabar e atinge todos os países. Maior que a do final do século 19, maior que a de 1929 a 1946.
Mas como essa crise chega até nós? Da pior forma, na medida em que atinge o emprego formal e, sobretudo, o setor produtivo. Provocando o desemprego na já reduzida atividade industrial, produz as reações em cadeia, com reflexos imediatos e futuros nas demais atividades. Como circular uma riqueza que não é gerada?
Por outro lado, como proteger os postos de trabalho, preservando a empregabilidade e evitando o caos social? O empresariado, de imediato, já sinalizou com a sua pauta, com a redução de tributos e a implantação de programas para salvar da quebradeira. Porém no dia seguinte responde ao governo com chantagem e aos trabalhadores com demissões.
Vejamos o que se deu com a SACOPLAST de Parnamirim. Fechamento da fábrica têxtil, alegando que não aceita funcionar com qualquer rebaixamento da taxa de lucro. Resultados: problema econômico, na redução da atividade produtiva num município que já contabiliza inúmeras perdas. Problema social, com a demissão em massa.
Em Natal, a fábrica São Paulo Alpargatas aplica outro tipo de invencionice patronal, ao usar o argumento da transferência das atividades de vários setores para uma capital vizinha. Conseqüências? Demissão em massa.
Por essas e outras lições, não resta alternativa que não seja a unidade e a luta dos trabalhadores pelo seu mais elementar dos direitos: a dignidade do trabalho. Contra a navalha do desemprego, é preciso toda a sociedade em luta.
por George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB