Crise: era de debilidade e instabilidade econômica
Crescimento mundial de 2,5% no ano que vem, e de -1,5% neste. Esta é a previsão do Deutsche Bank, que promoveu uma revisão ascendente em suas avaliações, algo decorrente principalmente das perspectivas melhores nas economias desenvolvidas, mas também d
Publicado 21/07/2009 12:00
Desde meados da década de 1980, a volatilidade nos fundamentos macroeconômicos recuou, caracterizando uma época que os comentaristas econômicos de então chamaram “época da Grande Moderação”. Durante aquele período, a volatilidade no crescimento econômico e na inflação foi reduzida, e a credibilidade dos bancos centrais melhorou. O resultado foi a redução do desempenho a mais que exige-se para a assunção de risco.
Também foram reduzidas as taxas de juros, ao mesmo tempo em que se normalizou a diferença entre as taxas de juros de curto e de longo prazo. Isto influenciou todas as categorias de capitais positivamente, principalmente nas aplicações de alto risco.
Mas, aquele período trouxe vários desequilíbrios na economia mundial. Exemplo gritante é o déficit na balança de pagamentos dos EUA. Por outro lado, as economias emergentes e os exportadores de matérias-primas registraram superávit em suas balanças.
Criou-se uma assimetria, também, no sistema financeiro. Os problemas que o setor financeiro enfrentou foram originados pela conjugação e relação de excessiva liquidez e exacerbação da titulação de dívidas, que por sua vez elevaram o custo e a disponibilidade dos créditos em níveis tais que alimentaram a expansão de crédito. Em consequência, a “bolha” no mercado de casa própria provavelmente foi resultado de todos os fatores acima, e não a fonte do problema. Os gastos das famílias também registraram excessos em relação aos rendimentos existentes.
Uma grande parcela da riqueza criada nos últimos 20 anos pode ser atribuída aos benefícios gerados pela conjugação de globalização, progresso tecnológico e aumento maciço dos níveis de dívida no mundo desenvolvido, particularmente nos países anglo-saxãos. Enquanto os consumidores ocidentais consumiam cada vez mais bens provenientes dos países emergentes (principalmente os da Ásia), estes compravam as dívidas dos países ocidentais e assim o sistema funcionava.
Agora este sistema se desestruturou, e o Deutsche Bank avançou um passo a mais. A nova época sinaliza o fim do modelo econômico que predominou no mundo desde meados da década de 1980, no qual predominaram ritmos elevados de crescimento e a estabilidade dos fundamentos macroeconômicos. Neste momento, o mundo adentra em uma época de crescimento débil e instabilidade econômica.
Desequilíbrios nas balanças
No novo mundo que está sendo conformado, avalia o Deutsche Bank, os desequilíbrios nas balanças de contas correntes dos países serão menores, assim como serão menores os capitais para investimentos destinados ao financiamento dos desequilíbrios. Assim, os estados deverão equilibrar melhor a poupança com seus investimentos.
Com o consumo mundial recuando, em consequência da desmanipulação (redução de empréstimos) das empresas e das famílias nas economias fortes, desmanipulação esta que não poderá ser substituída por outros (emergentes) países que continuam “guardando dinheiro embaixo do colchão”, a menos que ecluda uma imprevista onda de novas tecnologias e investimentos, as perspectivas por uma repetição dos recentes fortes ritmos de crescimento mundial são reduzidas.
Neste âmbito, um grupo de analistas alemães sustenta que, apesar do regime das chamadas “melhorias limitadas” (green shoots) que se observa nas economias, os mercados já se conscientizam da existência de um “beco sem saída” no cenário de uma recuperação sustentável e contínua a partir dos níveis atuais. Considerando a posição superendividada dos consumidores, as ações poderão permanecer reféns de uma série de “mini-cíclos auto-destruídos”.
Mercados “no fio da navalha”
Os mercados e as economias mostram estar “no fio da navalha”, enquanto permanece sendo lugar comum entre os “analistas” a avaliação de que as perspectivas dos ativos de risco dependerão do ritmo e da extensão que a recuperação da economia mundial assumirá.
O fato que os desequilíbrios mundiais estão sendo corrigidos é indiscutivelmente, por si só, uma boa nova. Contudo, as reduções de dívidas, a crescente tendência de poupança, uma dinâmica produtiva superavitária e uma demanda por empréstimos enfraquecida contribuem para a sensação de que determinadas frentes abertas continuam ocupando os mercados.
Espera-se que desempenharão papel catalítico na evolução dos investimentos e, naturalmente, dos desempenhos, ao longo dos próximos meses. O primeiro parâmetro diz respeito à evolução das economias. Hoje, avalia-se que elas registraram aquilo que denomina o “fundo” (trough), as perspectivas melhoram com os incentivos fornecidos pelos governos e bancos centrais como catalisadores, e determinados economistas não excluem que a atividade industrial e transformadora se recuperarão dinamicamente.
Todavia, o impulso que surgiu pelos incentivos fiscais deverá expirar gradualmente, enquanto as onerações tributárias aumentarão a fim de cobrir gastos maiores. As preocupações com os déficits fiscais poderiam impulsionar o custo do endividamento ascendentemente, no caso de os desempenhos dos bônus de longo prazo melhorarem, ao mesmo tempo em que o contínuo processo de redução da desmanipulação dos bancos e das famílias impede uma recuperação econômica forte.
Possível crescimento “W”
A maioria dos economistas aposta na possibilidade de uma recuperação econômica de tipo “W”, já que o indispensável saneamento dos balanços por parte de bancos e governos inviabiliza uma rápida recuperação da atividade econômica. Já um percentual muito menor aguarda uma recuperação de formato “V”, baseada no fato de que os governos e os bancos centrais continuarão canalizando volumes elevados de dinheiro barato a fim de apoiarem a recuperação.
Porém, não se exclui o cenário de uma recuperação gradual (mesmo que astênica), com oscilações. O Produto Interno Bruto (PIB) mundial continuará evoluindo de forma ascendente até o segundo trimestre de 2010, mas em continuação espera-se que recuará novamente a níveis inferiores no segundo trimestre de 2011, os quais, contudo, serão superiores aos deste ano. O segundo parâmetro básico diz respeito aos desempenhos operacionais das empresas, que nos últimos tempos apresentam uma relativa melhoria, fato que tem como resultado a revisão das avaliações para a futura lucratividade das empresas.
Vários economistas, aliás, não excluem um novo aumento real de desempenhos operacionais no quarto trimestre deste ano, mas algo assim não se provará suficiente para impedir a classificação deste 2009 como o segundo ano consecutivo com redução de lucratividade. De acordo com avaliações, baseadas em pesquisas da Thomson Financial realizadas no final do mês passado, os desempenhos operacionais das empresas do indicador mundial de ações MSCI (MSCI World) deve recuar 16,4% neste ano, e para 2010 prevêem uma virada com ritmo de aumento de 21,2%.
Os desempenhos operacionais das empresas do indicador MSCI Europe na Europa, avalia-se, recuarão 20% neste ano antes de valorizarem 21% em 2010. Um terceiro parâmetro refere-se à evolução da inflação. Em vários dos países desenvolvidos, a inflação despenca para níveis quase zerados, mas, conforme se avalia, será evitada uma crise deflacionária generalizada.
Em cenário mais a longo prazo, a inflação permanece abaixo dos níveis regulares (subpar) em sintonia com a existência de excessivo dinamismo produtivo (excess capacity), o que afasta o temor de criação de pressões inflacionárias.
Expectativas inflacionárias
Segundo se comenta nos mercados, a quatitative easing (flexibilização quantitativa) e os movimentos dos bancos centrais – de um modo geral – levam ao crescimento das expectativas inflacionárias, enquanto os déficits fiscais e a explosão da dívida pública de várias economias tornam o iminente aumento da inflação (talvez não a partir do ano que vem) quase inevitável.
É característico que, em encontros dos analistas de Credit Suisse com investidores institucionais das duas margens do Atlântico, eles tenham avaliado que deve-se preparar o portfólio de forma a evitar uma eventual alta da inflação. Com o âmbito acima, se há dois meses o ponto de vista predominante entre os administradores de portfólios institucionais era “venda em uma provável corrida”, hoje – conforme decorre das posições “secretas” registradas pelo Credit Suisse – sua estratégia evolui mais próxima ao ponto de vista “compre em provável correção dos preços”.
Contudo, após 9 de março, existem os seguintes fundamentos: os setores com fortes características cíclicas e os mercados emergentes (em relação aos desenvolvidos) registraram bons desempenhos, e fenômenos assim são observados quando se inicia uma recuperação com caráter não prematuro. Entretanto, com os altos desempenhos empresariais dos últimos tempos, os fundamentos indicam que as ações n evoluirão mais “lateralmente” o espaço temporal seguinte, com desvio próximo a 10%.