Jornais da grande mídia ameaçam cobrar por conteúdo online
A crise mundial acelerou os impactos da internet sobre os meios tradicionais de comunicação. O conjunto da grande mídia internacional se movimenta para iniciar — ou mesmo encarecer — a cobrança por conteúdo jornalístico online.
Publicado 24/07/2009 19:34
Nesta semana, Lionel Barber, editor do jornal inglês Financial Times, participou do evento Media Standards Trust, na Academia Britânica, e deu pistas do que os conglomerados de mídia farão para manter seus lucros. Segundo ele, a maior parte das empresas jornalísticas cobrará por seu conteúdo na internet em menos de um ano.
“Ainda não dá para saber como esses modelos de pagamento online vão funcionar e quanto de receita eles podem gerar. Mas prevejo confiantemente que, nos próximos 12 meses, quase todas as organizações noticiosas estarão cobrando por conteúdo”, discursou Barber.
O FT.com, site do Financial Times, tem mais de 1,3 milhão de usuários registrados, que consultam notícias de graça. Só 110 mil usuários pagam. O site deixa os não-registrados lerem três notícias por mês de graça, enquanto os registrados têm direito a dez. Para ter acesso ilimitado, é preciso pagar.
Segundo Barber, o Financial Times foi pioneiro no conceito de “modelo de frequência”, dando acesso a um número limitado de notícias na rede, antes de pedir aos usuários para se tornarem assinantes. “Os jornais especializados como o nosso correm com vantagem, já que nossas notícias muitas vezes não se encontram em outros meios. É preciso ser diferente dos demais”, disse Barber. “Muita gente acredita que a internet está acabando com o jornalismo — mas eu a vejo como uma oportunidade de fazer as coisas melhor”, agregou.
A cobrança por conteúdo online já era defendida publicamente por Rupert Murdoch, um dos maiores magnatas da mídia de todos os tempos. Em maio, Murdoch afirmou que planeja estender o modelo de cobrança do Wall Street Journal para os outros jornais que controla. Os sites gratuitos de jornais, segundo ele, constituem um modelo de negócios “falho”.
Para Barber, a cobrança por conteúdo se tornou uma medida urgente. “Estamos conseguindo receitas sustentáveis e crescentes, como resultado de nossa estratégia de cobrar por conteúdo global de nicho e de qualidade — o que é essencial em um momento de publicidade mais fraca”, disse o editor. O novo mundo digital, a seu ver, representa “uma ameaça — mas também uma oportunidade enorme para organizações noticiosas estabelecidas”.
O caso do NYT
Também o americano The New York Times planeja começar a cobrar pelo seu conteúdo nas próximas semanas. Depois de fazer uma pesquisa com seus leitores, o jornal chegou à conclusão de que poderia cobrar até US$ 60 por ano. Já houve uma tentativa do New York Times de cobrar pelo acesso ao arquivo e às colunas de opinião, em 2007. O jornal conseguiu cerca de 200 mil assinantes, mas o modelo não compensou, e o acesso voltou a ser aberto.
Curiosamente, o anúncio da provável cobrança ocorre num momento em que o faturamento do grupo proprietário do NYTimes sinaliza que o pior já pode ter passado para o setor nos Estados Unidos. Entre abril e junho, a The New York Times Company ganhou US$ 39,1 milhões — após perder US$ 74 milhões nos três meses anteriores. O resultado é atribuído especialmente ao corte de custos, já que as receitas com publicidade continuaram a cair (30%).
A expectativa de analistas é que a recuperação dos grupos jornalísticos dos Estados Unidos não deve ocorrer antes do segundo semestre do ano que vem — quando a economia norte-americana pode apresentar crescimentos mais consistentes e alavancar novamente os gastos com publicidade. Especula-se, porém, que o fundo do poço ficou para trás.
“O pior basicamente já passou. Provavelmente”, afirma Ed Atorino, analista do setor de jornais da Benchmark. De fato, além da empresa dona dos títulos New York Times e Boston Globe, grandes grupos como Gannett (do USA Today) e McClatchy (que publica o Miami Herald) também tiveram resultados positivos.
Para a presidente-executiva do Times, Janet Robinson, o cenário para a publicidade continuará “desafiador” nos próximos meses. Em contrapartida, diz ela, o declínio nas receitas com esse segmento deve ser menor entre julho e setembro do que nos três meses anteriores.