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Encontro prepara comunistas para os congressos da CTB e do PCdoB

Com a participação de 70 lideranças de pelo menos 20 estados, começou nesta terça-feira (18), em São Paulo, o Encontro Sindical Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O primeiro dia de debates pôs em julgamento a saída dos comunistas da CUT para a criação da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). Afinal, qual balanço pode ser feito desse processo?

João Batista Lemos

Às vésperas do 2ª Congresso da CTB (de 24 a 27 de setembro) e do 12º Congresso Nacional do PCdoB (entre 5 e 8 de novembro), a reunião também discute as principais tarefas à vista para os sindicalistas comunistas. “É um encontro de caráter consultivo e elaborador, rumo a esses dois grandes acontecimentos para os trabalhadores”, explicou o secretário sindical do PCdoB, João Batista Lemos, que abriu os debates.

Segundo Batista, “os comunistas devem ir unificados ao Congresso da CTB ― uma central plural, que vem consolidando sua unidade”. Mas o dirigente ressalvou que “a atuação do PCdoB extrapola a CTB”. Prova disso é a participação de lideranças sindicais do partido em sindicatos filiados a outras centrais.

Só no estado de São Paulo, lembrou Batista, o PCdoB responde pela secretaria geral dos sindicatos dos Eletricitários (filiado à União Geral dos Trabalhadores), dos Condutores (Nova Central Sindical de Trabalhadores) e dos Metalúrgicos de São Caetano (Força Sindical). Sem contar os fortes núcleos de comunistas em entidades nacionais ligadas à CUT, como a FUP (Federação Única dos Trabalhadores), a Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino) e a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação).

“É um momento propício ao fortalecimento do PCdoB na luta dos trabalhadores. Muitas lideranças de outras centrais se filiaram recentemente ao partido, mostrando que nossa influência política e ideológica aumenta cada vez mais”, afirmou Batista.

Criação da CTB, um acerto “inequívoco”

O balanço da trajetória dos comunistas no sindicalismo foi apresentado por Nivaldo Santana, membro do Comitê Central do PCdoB e vice-presidente da CTB. Antes organizados numa tendência vinculada ao partido ― a antiga Corrente Sindical Classista (CSC) ―, os comunistas lançaram, em 2007, a ideia de desfiliação da CUT e criação de uma central alternativa, de caráter classista, democrático e plural.

Nivaldo afirmou que, no começo desse debate, havia duas ponderações dentro do PCdoB: 1) o risco de o movimento sindical se dividir ainda mais com outra central; e 2) a dúvida sobre a “musculatura” real dos comunistas diante de um projeto tão ousado. De acordo com Nivaldo, “a direção nacional do PCdoB não subestimou essas ponderações, mas deu um voto de confiança à CSC. Uma reunião do Comitê Central decidiu, por unanimidade, dar autonomia para sua frente sindical conduzir as discussões”.

Passados mais de 20 meses do Congresso de Fundação da CTB (realizado de 12 a 14 de dezembro de 2007, em Belo Horizonte), os sindicalistas do PCdoB avaliam positivamente os rumos tomados nos últimos dois anos. “A CTB foi uma decisão correta, estratégica e vitoriosa. Se a prática é o critério da verdade ― conforme Marx ensinava ―, não há dúvida de que nós acertamos em ter saído da CUT e criado a CTB”, sublinhou Nivaldo.

“A vida nos mostra isso de forma inequívoca e recorrente”, agregou o vice-presidente da CTB. “Além de ter-se ampliado para além do PCdoB ― agregando também o PSB, a Confederação dos Marítimos e a hegemonia do sindicalismo rural ―, a central tem capilaridade, cresceu e está legalizada em todos os estados e em todos os ramos. Nenhum estado deixará de mandar delegados ao 2º Congresso”.

De acordo com sua Secretaria de Organização, a CTB já filiou, até hoje, 558 entidades sindicais. “Cada filiação teve luta política própria, correlação de forças específica. Foram 558 momentos em que nossas ideias e ações foram debatidas a fundo por uma categoria”, diz Nivaldo.

Além disso, a CTB cumpre todos os requisitos para a manutenção de seu reconhecimento legal ― filiação de no mínimo 7% do total de trabalhadores sindicalizados no Brasil, de diferentes ramos de atividades, em ao menos quatro regiões do Brasil. Participa ainda de inúmeros fóruns e conselhos.

Nivaldo acrescentou que a articulação da central com o movimento sindical latino-americano e internacional merece igual destaque. “Não fomos nós ― foi a Central Sindical Cubana ― que reconheceu a CTB como o principal pilar do sindicalismo classista na América Latina e no Caribe, ajudando até a oxigenar a FSM (Federação Sindical Mundial)”, disse Nivaldo. “A realização do encontro Nuestra América no Brasil, dois dias antes do 2º Congresso da CTB, consolida essa proeminência.”

Sobre os pontos fracos de todo esse processo, o vice-presidente da CTB citou o crescimento muito desigual de estado para estado. “Algumas direções estaduais quase vegetam, chegam a depender de estímulos externos. Enquanto não crescer mais nos estados, a CTB não estará consolidada”, afirma Nivaldo. Ainda segundo ele, é preciso aperfeiçoar os trabalhos das secretarias nacionais da central.

As tarefas que vêm pela frente

Já Wagner Gomes (na foto, ao microfone), ao iniciar sua apresentação sobre as principais tarefas dos sindicalistas comunistas, alertou para a elevada inadimplência das entidades filiadas à CTB. Presidente da central e membro do Comitê Central do PCdoB, ele concordou com Nivaldo, segundo quem “o não-pagamento da mensalidade expressa um descompromisso com a construção material da CTB”.

Wagner relatou que muitas dessas entidades inadimplentes, quando estavam filiadas à CUT, alegavam que não queriam dar 10% de sua arrecadação mensal. O motivo: todo o dinheiro repassado ficava à disposição não da CUT, mas, sim, de uma única força interna — a corrente petista Articulação Sindical, de estilo excessivamente hegemonista. “Agora são apenas 3% para a CTB e, mesmo assim, não pagam. Precisamos debater isso no congresso, porque o problema não é mais financeiro, mas de impedimento político”, analisou o presidente da CTB.

Ao tratar das relações entre central e partido, Wagner afirmou que o Comitê Central “foi ganho” para o projeto da CTB, e a maioria do partido “tem se engajado bastante no processo de construção e nas manifestações da central”. Porém, muitos comitês estaduais do PCdoB sequer pautam a discussão do movimento sindical. “A CTB precisa ter raízes profundas nos estados, mas para muitos dirigentes ainda não caiu a ficha”, criticou. “Com todos os seus afazeres, o Renato Rabelo (presidente do PCdoB) é mais cetebista do que muitos dirigentes sindicais.”

Um dos maiores desafios da CTB, segundo seu presidente, é garantir — e até ampliar — a unidade tanto das forças internas quanto do conjunto do movimento sindical. “A CTB não é a central de um único partido. É necessário que nossos aliados dirijam as CTBs estaduais — e dirijam de fato, sem artimanhas para dividir o poder”, advertiu Wagner.

É inevitável, segundo ele, que CTB e PCdoB “entrem em confronto” num ou noutro estado. Mas, diz Wagner, o movimento sindical não pode ser partidarizado — precisa manter sua própria autonomia. “A CSC defendia que a Articulação Sindical fizesse concessões dentro da CUT, e estávamos certos. Para não nos tornarmos uma nova Articulação, precisamos fazer concessões, sim.”

De São Paulo,
André Cintra