Crise mundial: uma nova queda ameaça a "estabilização"
Ar de otimismo soprou semana passada nos mercados internacionais, quando o Federal Reserve (Fed) referiu-se à visível estabilização da economia. E, embora, o Fed seja o último que se atreve a falar em recuperação — para que não seja desmentido, conforme observam vários especialistas do mercado — neste caso surge mais otimista em comparação com economistas da fama de Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Nouriel Roubini, que são pouco distantes de se tornarem as modernas cassandras.
Por Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil
Publicado 20/08/2009 12:58
Obviamente, o otimismo do Fed não parece insustentável, pois elevado volume de dados tende a configurar alguma melhoria na economia norte-americana. Os gastos de consumo aumentaram em junho pelo segundo mês consecutivo, a produtividade do mercado registrou alta atingindo os mais altos níveis dos últimos seis anos, enquanto, as exportações norte-americanas registraram alta de 2%.
Daí a decisão do Fed de prolongar por mais um mês o programa da compra de debêntures do erário norte-americano, assim como anunciar seu encerramento em outubro deste ano, derrubando os preços dos papers estatais. Também, na semana passada divulgou-se uma melhoria nas duas maiores economias da Zona do Euro, Alemanha e França.
Porém, conforme destacou semana passada o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, a situação não é tão simples assim. A economia norte-americana e por extensão a mundial, embora tenham escapado de uma repetição da Grande Depressão de 1930, graças aos pacotes de medidas que os governos adotaram, Deus sabe como o mundo sairá da queda atual, considerando que não se pode esperar recuperação baseando-se nas exportações.
O encontro dos quatro
Ainda mais pessimista é o também laureado com o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, o qual insiste em sua avaliação de que o caminho da recuperação terá muitos obstáculos e, eventualmente, reviravoltas. Stiglitz encontrou-se, semana passada, em Southampton, Nova York, com o igualmente famoso economista Nouriel Roubini, o "Profeta do Apocalipse", e com os dois mais importantes investidores internacionais, o bilionário George Soros e o administrador do quarto maior hedge fund dos EUA, John Paulson.
Neste encontro, os quatro compartilharam a preocupação de que a economia norte-americana será desacelerada pela segunda vez, despencando em queda. A opinião deles tem peso particular e Roubini foi o primeiro economista a prever a eclosão da crise atual. Mas, também, recentemente, tem destacado, publicamente, os riscos de uma "desempregada" e "sem salário" recuperação, advertindo que o risco de uma nova queda de dois pontos baixos ("W") persiste, no caso em que os preços do petróleo se aproximarem, novamente, do nível de US$ 100 o barril.
Já os dois megainvestidores, que, além de serem os mais importantes players (leia-se especuladores) dos mercados internacionais, também são considerados particularmente bem sucedidos, com Paulson tendo registrado desempenhos operacionais de US$ 5,7 bilhões nos últimos dois anos, em meio à instabilidade generalizada, graças à sua escolha de apostar em empréstimos habitacionais e bancos.
O pessimismo dos quatro está baseado, principalmente, nas imprevisíveis consequências do incessante crescimento do desemprego, o qual, espera-se, será lançado novamente perto de 10% no final deste ano. A propósito, conforme destacam vários outros economistas, nos EUA já foram perdidos cerca de 6,7 milhões de postos de trabalho desde dezembro de 2007 e ninguém prevê em futuro próximo uma recuperação bastante forte para promover a criação de novos postos de trabalho.
Consequência negativa, espera-se, também para o setor financeiro norte-americano, considerando que a perda de postos de trabalho afeta, diretamente, as possibilidades de resgate dos empréstimos e, consequentemente, aumenta os riscos bancários.
Preocupação particular provoca, também, a contínua debilidade que registra o mercado de imóveis comerciais nos EUA. Talvez esta preocupação dissimula-se atrás da decisão do Federal Reserve (Fed) de prolongar até ano que vem, inclusive, as compras de bônus estatais norte-americanos, atrelados a empréstimos habitacionais, totalizando US$ 1,45 trilhão, tentando impulsionar a compra de específicas debêntures.
Alemanha e França
Condições de frágil melhoria detectam analistas internacionais nos dados divulgados semana passada, sinalizando o retorno das economias da Alemanha e França à recuperação. Em primeira leitura, os dados sazonais proclamam o fim da pior queda após a Segunda Guerra Mundial para as duas maiores economias da Zona do Euro.
O Produto Interno Bruto (PIB) aumentou pelo segundo trimestre em 0,3% contra o primeiro, enquanto as previsões indicavam contração de 0,2% para a Alemanha e de 0,3% para a França.
Entretanto, os analistas mantêm-se reservados. Economistas do Deutsche Bank apressaram-se em observar que a situação é positiva, mas frágil. No terceiro trimestre, talvez, ocorra retorno em crescimento limitado, pois a economia não apresenta, ainda, indícios de recuperação auto-sustentável e o desemprego continua deixando seu rastro. As dúvidas indicam risco de reversão negativa, conforme a queda é de caráter mundial e a "paralisia" da atividade muito séria.