Artista cearense doa trabalho a União Brasileira de Mulheres
Arte, interação, questões sobre gênero, emancipação e ações coletivas no fazer artístico são elementos recorrentes nos trabalhos de arte do artista do Ceará que é um dos fundadores do Coletivo Camaradas. O trabalho deverá circular o Brasil, através da UBM.
Publicado 08/09/2009 16:17 | Editado 04/03/2020 16:34

O artista cearense Alexandre Lucas tem um trabalho de engajamento político e de comprometimento com as causas populares na sua arte. Prova disso é a preocupação no seu fazer artístico e o seu desprendimento com a posse de suas obras. Recentemente Lucas doou a União Brasileira de Mulheres (UBM) toda a exposição “Ousadas”. O acervo consta de 20 gravuras digitais (infogravura) no tamanho 60cm x 80cm.
A exposição “Ousadas” tem uma proposta de interação com o público. O artista ressalta que é necessário possibilitar e criar condições para que o grande público se sinta parte do fazer artístico. O trabalho reúne ainda fragmentos de textos do movimento feminista de caráter emancipacionista e deverá circular pelos estados brasileiros, através de uma ação da entidade brasileira chamada “Caravana Ousadia”.
A exposição tem um caráter político e visa fazer uma reflexão sobre o papel da mulher na contemporaneidade e evidenciar a importância da luta do movimento feminista enquanto instrumento de emancipação humana.
Para Lucas, as obras com a UBM são mais úteis para a discussão sobre gênero. Os trabalhos de produção das obras foram financiados pelo Centro Cultural do Banco do Nordeste e a exposição esteve exposta no período de junho a agosto deste ano no Centro Cultural do Banco, em Sousa-PB.
Alexandre Lucas é um dos fundadores do Coletivo Camaradas, organização que reúne artistas, pesquisadores e pessoas ligadas à arte que tem o intuito de discutir e propor ações artísticas com e para o grande público. O Coletivo tem como base teórica os estudos marxistas sobre arte e estética. Lucas é pedagogo, arte-educador, poeta, artesão, artista visual, articulador cultural e atua profissionalmente na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Regional do Cariri (URCA), através do Instituto Ecológico e Cultural Martins Filho (IEC).
Eline Jonas, coordenadora da UBM, fala sobre a Caravana Ousadia e do trabalho de Alexandre Lucas
Como a senhora vê a doação da exposição Ousadas do artista Alexandre Lucas?
Trata-se de uma atitude que demonstra o despreendimento e o forte compromisso social de Alexandre. A UBM terá esse precioso acervo para "conversar"/dialogar com as mulheres nos Estados, nos locais/oficinas de discussões ou representações de cenas do cotidiano na perspectiva emancipacionista. Cabe destacar que nos esforçaremos para construir diferentes formas de fazer/estar, principalmente junto aos setores populares e de trabalhadoras que, em geral têm poucas oportunidades de acesso às produções artísticas em todos os níveis. Participar de iniciativas como esta implica-nos organizar os espaços onde as pessoas se manifestarão, conforme propõe o autor.
São iniciativas como essa que verdadeiramente contribuem para o pensar/o dialogar, numa sociedade fragmentada e com maior desvantagem para as mulheres e negros e despossuídos alargando as estatísticas da exclusão social. Haverá oportunidade das pessoas expressarem de diferentes formas o sentimento despertado frente a obra. Procuraremos ampliar esta divulgação por meio de artigos a serem veiculados pela Revista Presença da Mulher e por outros órgãos de comunicação das cidades brasileiras.
Procuraremos estabelecer uma Rota Cultural emancipacionista em parceria com Instituições Universitárias, salas públicas de exposição e divulgação nos meios para oportunizar as pessoas a traduzirem em palavras e frases o sentimento despertado pelos traços e cores da obra, naquilo que ela lhe toca quando identificamos nós mesmos e a resultante de nossas vidas. Por outro lado, neste caso, reflete a confiança do artista no compromisso e trabalho político da UBM que também comunga com os ideais da igualdade entre homens e mulheres e lutamos por uma sociedade justa e igualitária.
O que senhora achou da proposta deste trabalho?
Trata-se de um conteúdo em movimento – uma atitude/ação socializada que se multiplicará geometricamente por meio de centenas de olhares, mãos feministas e de setores sociais preocupados com a situação de violência, discriminação e preconceito em relação às mulheres. Oportunizará um público diversificando a interagir com sua mensagem por meio dos olhares e sentidos nas diferentes Regiões do Brasil.
A meu ver, a arte possibilita a cada qual observá-la a partir de seu lugar no mundo fazendo a leitura ou traduzindo a partir de seus traços regionais a "criação" para seu cotidiano vivido e sonhado.
A UBM já desenvolve alguma ação aonde relacione Arte x Mulher?
A UBM atua no Brasil com cinco pontos de cultura envolvendo outras formas de expressão da arte – dança, coral, teatro.
Qual será o destino desta exposição? Já tem locais previstos para exposição? Quais os estados?
Neste pouco tempo, já fizemos alguns contatos com as Ubemistas dos Estados para esboçarem um plano em cada local para definirmos datas e quem estará responsável pela caravana cultural OUSADIA.
Qual o papel da arte para emancipação da mulher?
A arte nos envolve emocionalmente e nos incita a reflexões/ações sobre o mundo, a natureza e as relações sociais e de gênero, principalmente quando se trata de pessoas que suportam as reduzidas oportunidades, a dura vida da dupla jornada de trabalho, com salários mais baixos e como únicas responsáveis pelos cuidados e sobrevivência de suas famílias. Mas que resistem a tipo de preconceito ou dificuldades colocadas por um mundo moldado pela ideologia machista, patriarcal fundada na propriedade privada e na naturalização da desigualdade social e de gênero, que valoriza o Ter e não o Ser. A arte e as manifestações culturais constituem em um importante instrumento que alimenta emoções, consciência sobre a realidade – o grito percebido pelo "olhar" – um quesito fantástico que contribui para nossa humanização, portanto para o desenvolver da condição humana.
Fonte: Blog Coletivo Camaradas