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Milhares fazem caminhada contra a intolerância religiosa no Rio

Mais de 80 mil pessoas, entre umbandistas, católicos, evangélicos, muçulmanos, candomblecistas, kardecistas, judeus, presbiterianos participam neste domingo (20) da 2ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

A presidente da Congregação Espírita Umbandista do Brasil (Ceub), mãe Fátima Dantas, defende o diálogo como a principal arma contra a intolerância religiosa. “A única forma de a gente se entender é por meio do diálogo. É a gente provar que está fazendo um trabalho sério.”

Integrante da comissão organizadora da caminhada, a presidente da Ceub assegurou que o movimento prega paz. "Não queremos que o Brasil venha a passar por uma guerra santa, como estamos vendo lá fora. Por isso, estamos nessa luta.”

Ela citou como exemplo o caso de pastores evangélicos que invadiram um templo umbandista no bairro do Catete, zona sul do Rio, em junho do ano passado, e depredaram a Cruz de Oxalá. Apesar disso, ela prometeu dar seguimento à luta contra a intolerância religiosa. “Não vamos parar.”

Outro membro da comissão é frei Athaylton Jorge Monteiro Belo, o frei Tatá, da Ordem dos Franciscanos. Ele confirmou que apesar de ser maioria no Brasil (73%, de acordo com dados do censo de 2000), os católicos também são alvos de perseguição religiosa. “Infelizmente, [os católicos] sofrem algum tipo de discriminação, embora sejam ainda maioria no país.”

Intolerância política

Apesar de ser uma caminhada contra a intolerância, a secretária de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, foi à caminhada, mas não foi autorizada a subir a um dos carros de som, de acordo com a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), que organizou o evento. Segundo o CCIR, o motivo é que a caminhada não faz parte de movimentos políticos e nenhuma pessoa com cargo político seria autorizada a falar, numa clara demonstração de preconceito contra a política institucional.

Para o muçulmano Salah Al-Din Ahmad Mohammad, da Sociedade Beneficente de Desenvolvimento Islâmico, não existe dentro de antigos movimentos brasileiros o respeito à diferença religiosa. No Brasil, a Lei 7.716/89 considera crime inafiançável a intolerância religiosa e o racismo.

Ahmad Mohammad disse que, devido à ignorância, muitos olham os mulçumanos como se fossem terroristas. "No Islã, o terrorista também é criminoso", disse. Outros grupos relataram preconceitos como os ciganos, os candomblecistas e umbandistas.

Segundo Ahmad, batizado no Brasil como Marco Antonio dos Santos, os umbandistas e candomblecistas, por exemplo, “foram e continuam sendo sistematicamente violados”. Disse que também os muçulmanos sofrem limitações e agressões governamentais. Dentre essas, apontou o embarque nos aeroportos.

“As mulheres muçulmanas são obrigadas a retirar os seus hijabs (véus), enquanto as mulheres católicas passam e não são sequer solicitadas a conversar com a Polícia Federal. Então, a comissão vem fazendo um trabalho fundamental de conscientização e de luta pela igualdade religiosa. Nós, muçulmanos, vemos essa comissão como um fator de equilíbrio na balança do poder brasileiro”.

Com agências

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