Conjunto habitacional presta homenagem a Enéas Arruda

Moradores do Conjunto Habitacional Aqui Fico, localizado no bairro Dias Macedo, realizaram no último sábado (19) uma diversificada programação para os 15 anos da comunidade. Durante o encontro, cerca de 260 famílias participaram da homenagem a Enéas Arruda, um dos responsáveis pela conquista da moradia de centenas de pessoas.

Além de comemorar os 15 anos do Conjunto Habitacional, os moradores formalizaram a proposta de mudar o nome do residencial para Conjunto Habitacional Enéas Arruda, homem que teve a vida dedicada às lutas e conquistas do povo.

Enéas Arruda: a lição do exemplo

Por Dalwton Moura e Rita Lisboa

Enéas Arruda era um daqueles homens, como dizia o poeta, verdadeiramente imprescindíveis. Porque sua luta se renovava, com a mesma coragem e o mesmo vigor, todos os dias. Assim como mesmo a noite mais longa e escura finda com o nascer de um novo sol, Enéas reconstruía diariamente sua vontade de trabalhar por um mundo melhor, principalmente para os mais necessitados, excluídos da lógica de uma sociedade composta por pessoas, mas que tantas vezes se esquece dos mais básicos princípios da humanidade.

Estendendo as mãos a quem necessitava, trabalhando pelos mais fragilizados, ajudando a quem se encontrava em situação de dificuldade, Enéas Arruda cativou a admiração de quantos o cercavam, no bairro do Dias Macedo, cuja história se confunde com sua própria vida. Nos dias de hoje, marcados pela velocidade que nos desumaniza, na batalha de cada um pela sobrevivência, é cada vez mais necessário relembrar seu exemplo, seus ensinamentos, suas lições de vida. Porque Enéas sempre nos ensinou que é impossível ser feliz quando alguém, pelos infortúnios da dura realidade, se encontra triste, oprimido, desalentado a nosso lado.

Certamente não é por coincidência que nasceram no Dias Macedo grandes líderes populares, como seu irmão, Inácio, que hoje nos enche de orgulho ao lutar pelo Ceará como senador da República, buscando recursos e políticas públicas que se convertam em melhorias concretas para nossa gente. Pois Enéas era, a seu modo, outro grande lutador, capaz de nos moldar em seu exemplo de generosidade, dedicação, altruísmo. Esta talvez a melhor palavra para sintetizar suas virtudes, dado o desprendimento que ele sempre demonstrou, na missão de ajudar o próximo, independentemente das dificuldades, das barreiras, do preço a pagar.

Assim como não parece ser por coincidência que lembramos os 50 anos de Enéas Arruda, juntamente com os 50 anos do Dias Macedo. Estando a trajetória de Enéas tão intimamente ligada à história do bairro, nada mais justo do que essa comemoração simultânea, nos lembrando de um de nossos grandes companheiros, que nunca se furtou a ajudar, no possível e às vezes até no que parecia impossível, nas causas da população.

Além dessa força e dessa disposição, lembramos Enéas principalmente com as saudades típicas de quem se despede precocemente de um grande amigo. E como não lembrar sua voz, que se erguia ao cumprimentar as pessoas, com um exclamativo “Graaaande!!!”? Como não recordar as histórias engraçadas que costumava contar? Como não nos vermos saudosos da prosa gentil de sua conversa, que ele compartilhava, com a mesma habilidade, com pessoas de todos os setores sociais, tratando a todos com a mesma atenção?

Enéas nos deixou grandes lições, reflexões que se reiteram quanto mais assistimos à ameaça do triunfo da indiferença, da frieza, da “desumanização” do homem. Enéas nos ensinou a lição da simpatia, da alegria na forma de ver o mundo, por mais difícil que este se apresentasse. Enéas nos ensinou a jamais alimentar preconceitos, a não classificar, nem discriminar as pessoas. Enéas nos ensinou a deixar de lado certos aspectos menores da vida, como vaidades e futilidades, em nome do desafio de enxergarmos o que realmente importa: nossos familiares, nossos amigos, nossos vizinhos, nossos companheiros, nossos irmãos.

Eram lições transmitidas em silêncio, sempre que ele ajudava a alguém sem sequer revelar que o fazia, optando pela discrição dos genuinamente grandes. Vivendo assim e mesmo se despedindo muito cedo, terminou por nos legar a verdadeira sabedoria, pelo poder do exemplo. Um exemplo de cidadão, em todas as dimensões da palavra, a quem prestamos hoje nossa homenagem. Nesta data, amigo Enéas, o Dias Macedo lhe aplaude. Com eternas saudades.

Os anjos não morrem, mudam de lugar

Por Chico Miranda

Costumam dizer que os homens bons não morrem, mas mudam-se de lugar. Acho que foi isso que aconteceu com o nosso querido ENÉAS. Ele não morreu, mas mudou de lugar. Foi fazer o mesmo que fazia em outras paragens. Foi ver as pessoas de outros recantos; fornecer uma Kombi para transportar uma pessoa necessitada, uma mulher grávida, um velhinho sem saúde, uma viúva sem por vir, como diria Chico Buarque de Holanda.

Lembro-me bem do ano de 1976, quando vim morar nesse doce bairro chamado Dias Macedo e comecei a freqüentar o grupo de jovens Pe. Guilherme Wassen. Pois bem, chegando ali, encontrei pessoas importantes: Carlos Alberto, Humberto, Eli, Jarina, Cleide, Neyara, Beto, Manoel, Inácio, Aloísio, Egberto, Flávio ainda menino, e um certo ENÉAS. Sério, correto, simples, íntegro e, acima de tudo, prestativo.

Ele nos encantava a todos. Quando tínhamos problemas que achávamos que não havia solução; enganávamos, pois o ENÉAS de pronto, parava um pouco, pensava e em seguida, debulhava risos de solução.

Por isso, nessa minha simples e singela espécie de homenagem, gostaria de deixar o registro do quanto este anjo foi importante não só para os seus familiares, mas para todos que o cercavam.

Carlos Drummond de Andrade, em versos do “Poema de Sete Faces”, afirma: “Quando nasci um anjo torto, desses que vivem na sobra, disse: – Vai, Carlos, ser gauche na vida!” E eu afirmo na minha humilde cultura de poeta: vai, ENÉAS ser anjo na vida. Vai semear papoulas, esmeraldas, margaridas; vai alimentar pássaros; vai cuidar dos desprotegidos socialmente; vai, ENÉAS, continuar o trabalho digno, bom, preciso, necessário, para o crescimento da sociedade, para o bem do homem, para o crescimento do universo.

Vai ENÉAS, cumprir o mesmo papel que tinhas aqui, pois deixaste naquele domingo, 19 de junho, mãe e pai, esposa e filhos, irmãos e amigos, completamente desamparados.