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"Não existe um movimento mangue beat", diz membro da Nação Zumbi

O gênero mangue beat não existe. Não passa de um rótulo da mídia para definir o som que Chico Science & Nação Zumbi apresentaram com o disco "Da lama ao caos", lançado há 15 anos. Essa, pelo menos, é a opinião de Lúcio Maia, um dos maiores guitarristas do Brasil, membro do Nação desde o começo do grupo e, portanto, um dos artífices dessa ruptura estética vinda de Recife nos anos 90.

"É uma coisa mal-explicada. A mídia inventou o termo "mangue beat", mas nem sabemos explicar isso. Criamos um conceito, que quebrou padrões do rock, mas nunca pensamos nisso como um gênero, um movimento como a bossa nova ou o tropicalismo. Não somos carro-chefe de nada", comenta Lúcio.
 
"As bandas de Recife que vieram depois aproveitaram a movimentação gerada, e isso foi ótimo. Mas não temos seguidores. Não existe um movimento mangue beat, nem pós-mangue beat", completa. Mas, de maneira nenhuma, o guitarrista tira os méritos do disco cujos 15 anos estão sendo celebrados com shows do Nação pelo Brasil.

No próximo sábado, a banda sobe ao palco da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, e toca o álbum do início ao fim (além de faixas mais recentes), assim como Roger Waters e sua banda fizeram com o antológico "The dark side of the moon", do Pink Floyd, na Praça da Apoteose, ano passado. O show da Nação já foi visto em São paulo, no último fim de semana.

O "Da lama" causou muito impacto e gerou estranheza até dentro da banda. É uma ode à diversidade. "Ficamos muito felizes com o relançamento do vinil este ano. Pena que a Sony se esqueceu de mandar discos para o grupo. Eu tive que comprar", queixa-se o músico, em tom bem-humorado. "Vamos tocar o álbum todo, mas não vai soar igual. Vamos dar uma envenenada", contou.

Nem poderia soar idêntico. Para começar, o cantor e compositor Chico Science não está mais entre nós (depois que ele morreu, em 1997, Jorge Du Peixe assumiu os vocais). Além disso, o tempo passou para os músicos da banda. Em 15 anos, Lúcio Maia construiu uma reputação sólida. Muita gente boa o considera um gênio com seu instrumento.

"Hoje, posso voar nos arranjos. Antigamente, eu ficava bem mais concentrado. Além disso, não tenho mais 23 anos e não posso mais me apresentar de calças curtas", brinca o pernambucano, indicado ao prêmio VMB 2009 na categoria Melhor Guitarrista.

De lá para cá, o músico também espalhou os tentáculos. Compôs a trilha sonora do filme "Amarelo manga" com Jorge Du Peixe, gravou três discos com o Soulfly, banda de Max Cavalera, e lançou um projeto solo, o Maquinado, cujo segundo disco ("Mundialmente anônimo") deve ser divulgado no final de outubro, com faixas autorais e covers de Kraftwerk e Jimi Hendrix.

"Minha profissão não é o Nação Zumbi. Eu sou músico e gosto de ampliar", define o guitarrista. A banda do Recife divide a noite de sábado, na Fundição, com os grupos Fino Coletivo e Nós 4, a partir das 22h (ingressos inteiros a R$ 40).

Com O Globo