Jornais de PE escondem denúncias contra Celpe

Ontem, sábado 3 de outubro, foi um dia (mais um) de grande vergonha para a imprensa pernambucana. Foi o dia em que os três jornais do estado mais uma vez boicotaram o direito à informação da sociedade.

Falo dos escândalos envolvendo a empresa que tem a concessão de distribuição de energia na região, a Celpe. A audiência pública da CPI federal que apura os aumentos abusivos na energia elétrica, realizada sexta-feira, no Recife, borbulhou de denúncias contra a Celpe e os jornais locais se dividiram entre ignorar solenemente o assunto e maquiar a notícia.
O bicho pegou na audiência, que ocorreu na Assembleia Legislativa de Pernambuco. As mais graves dão conta de que a Celpe pode ter subornado diretores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para ver aprovados os aumentos que elevaram em média a conta de luz em 187% no estado, nos últimos nove anos (o reajuste foi de 152% para consumidores residenciais e 254,2% para empresas). Durante o mesmo período, o maior índice de inflação, o IGP-M, foi quase a metade: 107,41%.
Esses diretores da Aneel sob suspeita são, hoje, consultores contratados pelo grupo Neoenergia, controlador da Celpe. A CPI anunciou que vai quebrar os sigilos fiscais e bancários dos dois acusados e dos diretores da fornecedora de energia.
Outro assunto foi a autorização do Governo do Estado, durante a gestão anterior, para que a Celpe bancasse (inclusive com “incentivo de produtividade” aos policiais) uma delegacia de polícia específica para apurar furtos de energia, o famoso ‘macaco’. A delegacia, apurou a CPI, trabalhava sobre ordens diretas da empresa e serviu como instrumento de coerção não apenas para quem fez ‘macacos’ como também para quem estava em dívida com a concessionária. O caso está sendo investigado pelo Ministério Público.
Várias outras denúncias foram feitas durante a audiência. E os jornais locais o que fizeram?
O Diario de Pernambuco e a Folha de Pernambuco não divulgaram uma linha sobre isso nas suas edições do dia seguinte. O Jornal do Commercio optou pela velha estratégia de dar a notícia e escondê-la ao mesmo tempo.
Publicou uma matéria no rodapé da última página do caderno de economia – para encontrar, só com uma lupa (veja na imagem acima). E foi além. Numa ginástica de inversão dos fatos impressionante, colocou como título “Celpe diz que conta pode cair 7% no próximo ano”. Como assim, JC?!
O texto da reportagem (reportagem?) cita an passant as denúncias da CPI contra a ‘boazinha Celpe que vai reduzir o preço da luz’ e arremata surpreendetemente:
“A má educação foi uma constante durante toda a audiência. Os deputados federais Eduardo da Fonte (PP-PE), Alexandre Santos (PMDB-RJ) e Márcio Junqueira (DEM-RR) falaram, alto e de forma exaltada, quando interrogaram Marcelo Corrêa e José Humberto Castro [atual e ex-presidente da Celpe].”
Será que JC significa Jornal da Celpe?
Eu fico me perguntando o por quê de tanta benevolência da mídia local com essa empresa… Pensando bem, já que os jornais preferem sonegar essas informações aos pernambucanos, o blog vai fazer sua parte. Vamos convidar o presidente da CPI, o deputado Eduardo da Fonte, para um bate-papo aqui no Acerto de Contas.

Autor: Marco Bahé
Blog Acerto de Contas