Messias Pontes – A verdadeira força do atraso

A campanha eleitoral para o governo do Estado em 1986 foi das mais emocionantes. Primeira eleição pós-ditadura militar, o sonho de derrotar os coronéis foi concretizado. “derrotar as forças do atraso” era a palavra de ordem de então. Com a força do Plano Cruzado e o desejo de mudanças, o jovem empresário Tasso Jereissati, candidato pelo PMDB, sai vencedor com uma larga margem de votos sobre o seu principal concorrente, Coronel Adauto Bezerra.

Mas não demorou muito para que aqui se confirmasse o que dissera há mais de um século o filósofo revolucionário Karl Marx: “a história se repete como farsa ou como tragédia. Tasso revelou-se um coronel moderno, midiático, concentrador e repressor. Todos os aliados de primeira hora pularam do barco porque este começou a fazer água.

Eleito três vezes governador do Estado, sempre com o apoio da máquina governamental, o “coronel do asfalto”, como ficou conhecido, encastelou-se com um pequeno grupo de amigos, desprezando a tudo e a todos, inclusive a sua bancada na Assembléia Legislativa, cujo líder de então do PSDB, seu partido, deputado Fernando Hugo, fez um abaixo assinado para que Tasso recebesse em audiência os deputados tucanos.

Eleito senador em 2002, tornou-se um dos principais líderes da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um dos principais representantes do grande capital nacional e notadamente internacional, defensor incondicional do império do Norte.

Relator na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional no pedido de adesão da Venezuela no Mercosul, Jereissati deu parecer contrário alegando, entre outras baboseiras, que o presidente Hugo Chàvez era um ditador que não respeitava a liberdade de imprensa, já que tinha “fechado” canais de televisão.

Como ditador, se tudo na Venezuela é decidido pelo voto popular? Das 15 eleições das quais participou, Chàvez ganhou 14.Além do mais, a riqueza do petróleo venezuelano, hoje, está sendo carreado para programas sociais, e no ano passado a UNESCO declarou a Venezuela livre do analfabetismo.

Na realidade, o senador tucano cearense é contra a política de integração regional patrocinada pelo presidente Lula, sonho de Simon Bolívar. A admissão da Venezuela ao Mercosul já foi aprovada pelos demais membros que o compõem, e por ampla maioria na Câmara dos Deputados, faltando só o Senado se posicionar favoravelmente, o que deve acontecer apesar do parecer contrário do senador cearense. A serviço do império do Norte, Jereissati vai continuar o seu mandato, até dezembro do próximo ano, defendendo interesses alienígenas.

É oportuno lembrar que no ano passado, o Brasil exportou para o Mercosul nada menos de US$ 21,74 bilhões, sendo que para a Venezuela foi US$ 5,15 bilhões, ou seja, um quarto do total. O Brasil só tem a ganhar com o ingresso da Venezuela no Mercosul.

Outra posição impatriótica e antidemocrática do senador tucano cearense foi explicitada no debate promovido pelo jornal O Estado de São Paulo, realizado para debater o Pré-Sal. Ele se colocou frontalmente contra os quatro projetos encaminhados ao Congresso Nacional pelo presidente Lula dispondo sobre a criação de uma empresa estatal – a Petro-Sal – e principalmente a utilização dos recursos dela advindos para o combate à pobreza e para a educação, a cultura e a defesa do meio ambiente. Jereissati quer que a riqueza do pré-sal seja entregue de bandeja à maioria dos acionistas da Petrobras, que é estrangeira, especialmente norteamericana.

Na realidade, ele é a verdadeira força do atraso.

Messias Pontes é jornalista e colaborador do Vermelho/CE