Irã acusa EUA por misterioso sumiço de cientista nuclear
Um denso mistério cerca o desaparecimento de um cientista iraniano, tido como engajado no programa nuclear do seu país. Teerã acusa os Estados Unidos de envolvimento no sumiço de Shahram Amiri, durante peregrinação religiosa à Arábia Saudita, em junho.
Publicado 08/10/2009 17:36

Washington negou qualquer envolvimento, em comunicado desta quinta-feira (8) citando Ian Kelly, porta-voz do Departamento de Estado. Conforme Kelly, os EUA não têm informações sobre Shahram Amiri.
Chanceler vê interferência americana
"Nós vimos essa história sensível, e a verificamos. Apenas, basicamente, não temos qualquer informação sobre esse indivíduo", disse o porta-voz.
Amiri, pesquisador da universidade iraniana Malek Ashtar, desapareceu depois de partir em peregrinação à Arábia Saudita, em junho. Sua família em Teerã disse que ele foi severamente interrogado pela polícia saudita no aeroporto e depois telefonou à mulher da cidade saudita de Medina, e não se soube mais dele.
Em um sinal das sensibilidades em torno do episódio, as autoridades iranianas não identificaram publicamente o desaparecido como um cientista nuclear, referindo-se a Amiri apenas como um cidadão iraniano. Porém nesta quarta-feira Manouchehr Mottaki, ministro das Relações Exteriores do Irã, acusou os EUA de interferência no desaparecimento do pesquisador.
"Encontramos documentos que comprovam a interferência dos EUA no desaparecimento do peregrino iraniano Shahram Amiri, na Arábia Saudita", disse o chanceler a jornalistas, de acordo com o site da estatal Press TV. O relatório não fornece detalhes, mas cita uma declaração de Mottaki, responsabilizando também a Arábia Saudita, por não proteger Amiri.
A agência de notícias iraniana Isna refere-se a "rumores" indicando Amiri como empregado da Organização de Energia Atômica do Irã, que tencionaria pedir asilo no exterior.
Possível deserção
Meir Javedanfar, um analista do Irã residente em Tel Aviv, disse à TV árabe Al Jazira que o cenário mais provável é que Amiri tenha desertado. "É muito difícil dizer se ele desertou voluntariamente ou foi sequestrado, mas, se você passa em revista os antecedentes, é possível que ele tenha ido embora".
"Se ele foi para a Arábia Saudita por iniciativa própria, e desapareceu dessa forma, acredito – baseado no que sucedeu com o general Reza Asgari – que podemos supor que talvez ele tenha desertado, com a informação de que dispunha, de modo a se entregar e trabalhar com os americanos.
"É muito difícil dizer se ele desertou voluntariamente ou se ele foi raptado, mas se você vai para trás e olhar para os precedentes, é possível que ele é o que algumas pessoas chamam de" walk-in ' ", disse à Al Jazira.
"Se ele foi para a Arábia Saudita de sua própria iniciativa e ele desapareceu assim, eu acho que – com base no que aconteceu ao general Reza Asgari – não podemos descartar que talvez ele andou em si mesmo com a informação, a fim de entregar-se e trabalhar com os americanos".
Ali Reza Asgari, ex-vice-ministro da Defesa, desapareceu na Turquia em 2007. A imprensa turca, árabe e israelense supôs que ele desertou para o Ocidente, mas sua família desmente a hipótese.
Planos sauditas
Javedanfar também disse que o desaparecimento Amiri na Arábia Saudita foi particularmente preocupante para Teerã. "Há uma preocupação sobre a Arábia Saudita, porque o governo saudita tem tentado reduzir a influência do Irã na região", disse o analista à Al Jazira.
"Eles conseguiram uma vitória nas eleições libanesas, onde o Hezbolá [que é apoiado pelo Irã] perdeu, e agora vemos o rei saudita em Damasco. A imprensa iraniana vê a visita como um esforço de Riad para reduzir a presença iraniana. Se você soma todos essesaspectos, acho que o governo iraniano está particularmente preocupado que isso tenha acontecido em solo saudita."
Corrida nuclear
O Irã está envolvido em um braço-de-ferro com o Ocidente em torno de seu programa de energia nuclear. Os EUA e seus aliados dizem que Teerã tenta desenvolver armas nucleares. O Irã nega a acusação.
A universidade Malek Ashtar, ondeAmiri teria trabalhado, está envolvida no desenvolvimento de "projetos especiais de pesquisa nacional". Conforme seu site, a universidade tem faculdades nas áreas aeroespacial e de engenharia elétrica.
Amiri desapareceu há mais de três meses, antes do vazamento da notícia de que o Irã possuiria uma segunda instalação de enriquecimento de urânio em construção, perto da cidade de Qom. A usina subterrânea foi mantida em segredo até Teerã divulgar sua existência, no mês passado. Diplomatas dizem que o anúncio só foi feito depois que transpirou que agências de inteligência ocidentais tinham descoberto a instalação.
Com informações da Al Jazira