Luiz Carlos Antero: para onde marcha o PCdoB? (2)

Então, camaradas, o combate à estagnação referido na primeira parte deste artigo pressupõe aspectos que, colocando a luta institucional em seu devido lugar, sugerem uma instância derivada da cotidiana e incessante luta dos comunistas em atenção às aspirações e demandas populares, às batalhas de classe em seus diversos níveis.

Uma possibilidade que se abre pela via do protagonismo na luta política institucional em todo o seu espectro, incluindo-se aí o Parlamento e as estruturas de governo, mas que não se impõe enquanto elemento fundante da linha partidária e se dá precipuamente no interesse da classe operária e do povo trabalhador.

São elementos de contínua avaliação que impulsionam nossa força política no caminho revolucionário, percorrendo o leito natural dos acontecimentos, sem artificialismo ou ilusões idealistas, sem desvios quanto à realidade objetiva e à nossa possibilidade subjetiva de intervenção.

Desse modo, essa posição não deve ser confundida, como pretende o inimigo de classe que por vezes mora ao lado, com o desvio voluntarista que consiste em bater de frente com um ambiente de liberdades políticas sobre o qual somos em grande parte responsáveis.

Essa conjugação inclui como pressuposto a luta heróica dos elementos históricos referidos na primeira parte do artigo, que se empenharam até o limite na realização das metas estratégicas e táticas do Partido em diversos momentos de sua trajetória, tanto nas circunstâncias nas quais prevaleceu a democracia burguesa quanto nos momentos em que as trevas da intervenção autoritária e castrense se abateram sobre o País e seu povo, seja no período do Estado Novo, seja na ditadura militar de 1964.

Assim, sob a compreensão de que o referido “desenvolvimento pacífico” em certa medida nos confere a possibilidade de ampliação de nossa influência na correlação de forças da hora ou em sua dimensão prospectiva, entendemos que as eleições são momentos de colheita de nossa permanente ação política.

A safra dos votos virá na exata medida da nossa contiguidade com o povo, do aconchego dos comunistas nos bons e maus momentos da vida, na sua presença nas imensas dificuldades enfrentadas pela nossa gente simples, trabalhadora — que, generosa e sábia, discerne claramente a fronteira entre seus protagonistas e aliados, ou inimigos de classe — estes, responsáveis por suas dificuldades e, em especial, pela imensa concentração da renda ainda persistente no Brasil.

O presidente Lula, muito mais que sua agremiação, o PT, foi beneficiário dessa expectativa ainda nos limites da ação institucional, em duas eleições.

Na segunda delas, em 2006, colheu um espetáculo privilegiado, no qual se humilhou as classes mais conservadoras e reacionárias, juntamente com suas legendas e seu principal partido, o da imprensa golpista.

No plano do pragmatismo, tal colheita lastreou-se também nas ações muito simples e notoriamente rentáveis e “baratas” das políticas compensatórias — que custam poucos bilhões de reais contra dezenas bilhões presenteados em bandeja de ouro aos rentistas e agiotas.

E aí se coloca nosso dilema e nossa encruzilhada: ou avançamos além dos limites (postos e subscritos) em 2002, combinando ações de massas e atuação institucional na medida das nossas pretensões transformadoras; ou subordinamos a linha partidária ao rumo vacilante de forças políticas de objetivos limitados, arraigadamente reformistas, vacilantes quanto aos interesses da classe operária e do povo brasileiro.

Na primeira hipótese, devemos assumir abertamente a defesa da maioria da população na expectativa de elevar seus ganhos e minimizar suas perdas, tanto na questão que envolve a espoliação do trabalho como na extorsão promovida pelas concessionárias do serviço público (energia, telefonia, etc.), protegidas por agências reguladoras que funcionam como autênticos escritórios desses interesses, além da draconiana tributação, da privação dos direitos sociais, inclusive previdenciários, entre outros aspectos.

Na segunda hipótese, entre as piores mazelas, faríamos pouco caso das humilhações sofridas pelos trabalhadores, nos conformaríamos com o respeito incondicional aos contratos fraudulentos que submeteram aqueles serviços públicos essenciais à grotesca exploração multinacional derivada das privatizações, com a espoliação e remessa da poupança dos nossos compatriotas à matriz da rapinagem; aceitaríamos a perpetuidade das concessões das emissoras de rádio e TV às quadrilhas especializadas e confiáveis ao grande capital e às infernais máquinas para-evangélicas.

Tal subordinação ao institucionalismo, entretanto, apenas levaria o PCdoB a assumir gradualmente o perfil humilhante reservado às legendas de aluguel, a quem se oferece posições mendicantes e subalternas na administração pública e em todos os níveis de governo — num poder ainda empolgado pelo inimigo de classe.

É de extrema relevância a presença do PCdoB no centro dos acontecimentos que apontam a copa mundial de futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016 enquanto titular do Ministério dos Esportes, com a posse de bola do nosso camarada baiano Orlando Silva.

Também destaco exemplarmente, entre outros momentos de corajosa evidência dos nossos camaradas, o dia em que Aldo Rebelo, ao lado do combativo corneteiro de Pirajá, enfrentou, na Câmara dos Deputados, o exclusivismo petista, sob a consigna “avançar, degolando”. (Então, fiz questão de, no plenário, diante dele, que ocupava seu lugar na Presidência, afirmar, no tom exato da sua grandeza daquele instante: “Saudações aos que tem coragem!”).

Entretanto, do mesmo modo que deve se esquivar do perfil de legenda eleitoreira e oportunista, o Partido nosso não tem porque lutar por cargos e mandatos que se subordinem às conveniências meramente institucionais, que não sirvam ao povo com a devida radicalidade e honestidade, a troco de “caixas”, sinecuras ou vantagens materiais no balcão de negócios dos rentistas, negocistas da honra, pilantras pós-modernos e ratazanas dos cofres públicos.

Mesmo distante do padrão udenista do proselitismo hipócrita e da ética de fancaria, nossa força política deve zelar pelo respeito aos que com ele, na crista de alguma transformação revolucionária, em certo dia empolgarão o poder, valorizando a linha e a identidade comunista do PCdoB.

Luiz Carlos Antero é filiado desde 1969 e membro da delegação cearense ao 12º Congresso.