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Batista: PCdoB nunca esteve tão forte entre trabalhadores

Nesta entrevista, o secretário sindical do PCdoB, João Batista Lemos, traça um panorama sobre a inserção do PCdoB no meio sindical e do desenvolvimento da CTB no cenário nacional. Para ele, “muitos trabalhadores vêem no PCdoB uma perspectiva de luta política. Isso faz parte da elevação da consciência social”. No entanto, chama atenção das direções sindicais estaduais: “há pouca renovação na diretoria das entidades, o que não combina com a que está acontecendo nas bases das categorias”.

João Batista Lemos _outubro de 2009

Desafios do PCdoB na frente sindical

“O grande objetivo do PCdoB na frente sindical hoje é buscar o protagonismo da classe trabalhadora na luta pelo novo projeto nacional de desenvolvimento. Isso exige três tarefas fundamentais: elevar o nível de consciência política dos trabalhadores e trabalhadoras; construir a unidade da classe, para o que ganha importância estratégica a convocação da 2ª Conclat e elevar o nível de mobilização política das massas trabalhadoras a partir do local de trabalho. Do ponto de vista organizativo vivemos uma nova situação: atuamos entre os trabalhadores através da CTB, sendo esse o leito principal, mas também há várias lideranças que atuam em outras centrais sindicais e que vieram para o Partido através da política. Portanto, o nosso desafio é construir a unidade em torno das orientações partidárias e bandeiras políticas da luta da classe trabalhadora”.

Necessidade de renovação

“A Comissão Sindical do PCdoB tem verificado que há pouca renovação na diretoria das entidades, o que não combina com a renovação que está acontecendo nas bases das categorias devido às novas formas de organização do trabalho e às inovações tecnológicas. Constatamos que nossa pirâmide está invertida: temos mais filiados nas diretorias dos sindicatos do que nas bases. É necessário inverter essa pirâmide, deslocando o centro de gravidade da nossa atuação para o local de trabalho. Diante dessa nova situação é necessário reorientar a direção das secretarias sindicais que antes se confundiam com as coordenações da Corrente Sindical Classista, mas como o congresso que deu origem à CTB levou à extinção natural da CSC, a CTB passou a ter uma institucionalidade própria, com caráter plural e autônomo. Portanto, a atuação das secretarias sindicais passa a ser mais de cuidar do Partido na frente sindical, ajudar a criar frações de comunistas nos ramos de atividade para unificar a orientação do partido; auxiliar as comissões sindicais estaduais a se voltarem mais para a constituição de organizações de base no interior das empresas ou de acordo com as relações de trabalho, de maneira que haja interação com as secretarias de organização nos estados. Além disso, é preciso também trabalhar na formação ideológica dos dirigentes sindicais e divulgar os instrumentos de propaganda do partido entre os trabalhadores”.

Fortalecimento do PCdoB entre os trabalhadores

“O recente fortalecimento do PCdoB entre os trabalhadores tem, a meu ver, relação com dois fatores primordiais. O primeiro é que a CTB abriu caminho para o partido na área sindical. Antes estávamos represados dentro da CUT. Conseguimos entrar em estados ou ramos de atividades que não entrávamos – como Paraná e Santa Catarina. Em São Paulo, além de consolidarmos nossas posições na capital, temos representação em cidades importantes como Sorocaba, Osasco e Guarulhos. Outro aspecto é a ousadia política de construção partidária. O PCdoB se abriu aos trabalhadores e ao povo. Vieram novos filiados que são de outras centrais. Desenvolvemos ações focadas em sindicatos estratégicos, sobretudo em São Paulo. Muitos trabalhadores vêem no PCdoB uma perspectiva de luta política. Isso faz parte da elevação da consciência social. E tem a ver com ao política justa do Partido. Por isso mesmo podemos dizer que depois da redemocratização, o partido nunca esteve tão forte entre os trabalhadores como agora”.

12º Congresso

“A proposta de transição para o socialismo, proposta no processo do 12º Congresso, cai como uma luva para a luta dos trabalhadores porque abre uma perspectiva concreta de construção de uma sociedade sem explorados e sem exploradores. A proposta do novo projeto nacional de desenvolvimento levanta bandeiras importantes como atualizar a CLT ou construir um novo código de trabalho que garanta e amplie os direitos trabalhistas e a organização sindical. O novo projeto nacional de desenvolvimento proposto pelos comunistas também traz a questão da valorização do trabalho, essencial para a garantia dos direitos e a melhoria dos salários; tal projeto servirá como alavanca para o mercado interno. Há pontos também de reformas estruturais, como a agrária, necessária para acabar com a concentração latifundiária e valorizar a agricultura familiar. A estratégia de organização solidária na América Latina e as prioridades de relações externas – sobretudo através do BRICs – busca criar novas condições para o desenvolvimento do país e de correlação de forças para avançar na luta pela transição ao socialismo. A política de quadros é outro ponto importante porque levanta de maneira muito viva a necessidade de projetá-la para a área sindical, como é o caso da alternância e renovação nas secretarias sindicais e nos sindicatos dirigidos pelos comunistas”.

A construção da CTB

“A formação da CTB foi uma atitude ousada e os fatos mostraram ter sido acertada porque conquistamos posições e aumentamos nossa influência junto aos trabalhadores no curso político do país. Há estados em que conseguimos ampliar e consolidar nossas forças, como Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais e Ceará; em outros, demos grandes saltos aumentando nossa influência, como é o caso do Paraná, Mato Grosso e São Paulo. A CTB conquistou a presidência da Contag, a mais simbólica de todas devido à sua atuação em defesa da unicidade sindical no meio rural, e não perdemos nenhuma posição. Nosso êxito na CTB deve-se muito à atitude e à política dos dirigentes comunistas que têm colocado em primeiro lugar a consolidação da frente que construiu a CTB, uma atitude de unidade e respeito à diversidade política da central. Isso é reconhecido por nossos aliados em diversas reuniões que demonstraram o nível de unidade que alcançamos. Outro ponto é o esforço que o partido fez em todo o território nacional para buscar a filiação de entidades de maneira ampla, dialogando com as demais forças sem comprometer o caráter autônomo e plural da CTB. A meu ver, esse esforço deve se tornar permanente”.

Processo de consolidação da CTB

“Hoje a CTB ainda está em processo de consolidação, mas já alcançamos, nesses dois anos de atuação, êxitos muito importantes. Primeiramente do ponto de vista de representatividade: conseguimos alcançar a exigência de termos em nossas fileiras 7% dos empregados sindicalizados do Brasil, o que amplia nossa capacidade de ousar. Em seu conjunto, a CTB representa cerca de 600 sindicatos, 380 deles já registrados no Ministério do Trabalho. As federações e sindicatos até hoje filiados a CTB representam mais de 7 milhões de trabalhadores”.

União do movimento sindical

“No entanto, o maior êxito da CTB é do ponto de vista político porque a questão da unidade da classe trabalhadora sempre foi prioridade para os comunistas. E se inicialmente a saída da CUT soou como uma divisão, o tempo demonstrou que a CTB está, na verdade, contribuindo para a união do movimento sindical e do movimento social de maneira mais ampla. Um exemplo disso foram as manifestações do dia 30 de abril, quando estivemos lado a lado com as demais centrais e recebemos o reconhecimento delas quanto à nossa atuação unificada em torno da data. Em seguida, as Centrais apresentaram uma pauta ao presidente da Câmara, Michel Temer, com oito pontos que consideramos fundamentais para os trabalhadores, entre elas a redução da jornada sem redução salarial, valorização do salário mínimo, adoção das convenções 158 e 151 da OIT, sendo esta última já aprovada em Congresso. Acontecimentos como esses reafirmam que nossa leitura de que a união da classe trabalhadora hoje no Brasil passa não só por uma central, mas pela união de ação de todas elas e dos movimentos sociais”.

Diferenças em relação à CUT

“A CTB tem uma diferença estratégica em relação à CUT. Inclusive em seus documentos congressuais, a CUT insiste na tese da luta pela hegemonia no movimento sindical, o que a tem levado a posições sectárias e exclusivistas. A CTB luta para que a classe trabalhadora tenha protagonismo na luta política que se desenvolve em nosso país. Este protagonismo passa pela unidade de ação das centrais em torno de uma plataforma comum. Não tem protagonismo sem a força da união dos trabalhadores. Por isso, propusemos como nossa principal bandeira unitária no 2º Congresso da CTB a realização de uma nova Conclat, para o começo de 2010, onde se deve trabalhar um programa mínimo em torno de um projeto nacional com valorização do trabalho e soberania nacional, buscando assim influenciar nas próximas eleições e garantir a terceira vitória popular com a continuidade do ciclo de mudanças iniciada pelo Governo Lula”.

Segunda Conclat

“É plenamente possível uma nova Conclat porque já existem experiências de união do sindicalismo brasileiro em torno de bandeiras centrais. É o caso de 11 de novembro, quando as centrais realizarão, unidas, a 6º Marcha sobre Brasília cuja bandeira principal é a redução da jornada sem redução salarial. Além disso, há uma base política unitária importante. Afinal, todas as centrais apoiam Lula. Sem isso, seria impossível. Apesar da dubiedade do governo, Lula tem se voltado para a classe trabalhadora. Exemplos disso são a política de valorização do salário mínimo, o freio às flexibilizações, a legalização das centrais, a posição de manter nas mãos do Estado o comando do pré-sal – o que gerará empregos e recursos para o país –, o apoio à atualização dos índices de produtividade no campo, a política solidária em relação aos demais países de nosso continente etc. É inédito termos todas as centrais apoiando um governo. Um evento como esse pode elevar o protagonismo dos trabalhadores, dando a eles maior capacidade de influência nos rumos políticos do país”.

Congresso CTB

“O Congresso foi acima das nossas expectativas. Recebemos cerca de 1.400 delegados dos 27 estados. A CTB chega a seu segundo ano de vida mais unida e representativa: somos a primeira força entre os trabalhadores do campo, entre os trabalhadores dos correios e telégrafos e também a primeira força entre os trabalhadores marítimos e aquaviários; a segunda força na educação (e primeira no setor privado) e a terceira entre os metalúrgicos, além de grande influência no setor de serviços. Temos agora três grandes desafios: consolidar a central nos estados com bases fortes e capazes de responderem às mobilizações de nível nacional e se fortalecerem em suas regiões; formar quadros através da estruturação do Centro de Estudos Sindicais, garantindo sua educação política, ideológica e sua capacitação prática para a ação em negociações, manifestações etc. Além disso, a CTB deve se basear em sindicatos fortemente enraizados no local de trabalho, o que demanda uma nova atitude das direções calcada na desburocratização, na renovação e na democratização da vida sindical. Há certa acomodação dos dirigentes em não se voltarem para a base, para o local de trabalho. A maior atenção a este aspecto é que vai oxigenar as direções. Este é um desafio grande e permanente”.

2º Encontro Nossa América

“A realização desta segunda edição partiu de uma proposta original da CTB, da CTC (Central dos Trabalhadores de Cuba) e CTE (Central dos Trabalhadores do Equador), que ganhou força no continente, o que mostra que apresentamos uma proposta justa de construção de unidade de ação entre as centrais independentemente de sua filiação internacional. Mostrou ainda sintonia com as diversas vitórias políticas da esquerda no continente. Participaram organizações sindicais de todos os países onde a esquerda saiu vitoriosa. Reunimos 21 países das Américas, além de nove de outros continentes; ao todo, tivemos 250 participantes. As centrais presentes construíram uma plataforma comum e 17 dirigentes do continente farão parte de uma coordenação criada para buscar a solidariedade concreta dos trabalhadores de toda a região e o seu protagonismo nos processos de integração na América Latina, como Alba, Unasul, Mercosul, entre outros. Com isso, a CTB sai fortalecida também em nível continental”.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte, com a colaboração de André Cintra

Atualizada dia 16/10, às 13h