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UNE realiza ato na porta da Uniban hoje

Após expulsão da estudante Geisy Arruda da Uniban de São Bernardo por usar vestido curto, União Nacional dos Estudantes (UNE) e movimentos de mulheres repudiam decisão da universidade e organizam ato nesta segunda-feira (9/11) reivindicando, entre outras coisas, uma bolsa de estudos para a jovem.

- Fábio Braga-2.nov.09/Folha Imagem

A UNE (União Nacional dos Estudantes), juntamente com movimentos sindical e de mulheres, marcou para esta segunda-feira (9/11) um protesto em frente à Uniban de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) contra a expulsão da aluna Geisy Arruda, 20, após o episódio em que ela foi humilhada por outros alunos por usar um vestido curto.

Geisy foi xingada nos corredores da universidade, no último dia 22, por usar um microvestido rosa. O tumulto foi filmado e os vídeos acabaram na internet. A aluna, que está no primeiro ano do curso de turismo, parou de frequentar as aulas após a confusão.

No texto da convocação do ato, marcado para as 18 horas em frente ao campus de São Bernardo, onde ocorreu o episódio, os movimentos feminista, sindical e estudantil afirmam que "a vítima foi transformada em ré" e os "agressores ficaram impunes".

Assista vídeo em que o presidente da UNE repudia expulsão de estudante e chama universidade de "machista":

O mundo virtual foi tornado em um grande espaço para expressão de opiniões acerca do caso. Tanto as opiniões mais conservadoras quanto abaixo-assinados em solidariedade à estudante e repudiando o machismo circularam por e-mails, blogs, twitter, orkut e páginas noticiosas nas últimas semanas. E a onda de publicações cresceu após divulgação do comunicado da Uniban expulsando a estudante por meio de anúncio em jornal neste domingo (8/11). O advogado da estudante se disse "perplexo" e "atordoado" com a decisão da universidade e disse que estuda a possibilidade de entrar com um recurso contestando a decisão.

UNI-tali-BAN

No próprio domingo, diversas organizações e movimentos se mobilizaram pela internet. Um dos abaixo-assinados, que em três horas obteve mais de mil assinaturas, afirma que "a expulsão envergonha os subscritores desse manifesto e coloca em cheque os princípios basilares do Estado Democrático de Direito". O texto encerra dizendo que "desejamos que fatos como esse sejam sempre lembrados como exemplos de involução cultural da sociedade, para que nunca mais se repitam". Em diversos blogs, a unibersidade foi apelidada de "UNI-tali-BAN", em alusão ao talebã, taliban ou taleban, que é um movimento islamita extremista nacionalista, conhecido mundialmente por realizar e assumir ataques considerados terroristas.

O presidente da UNE, Augusto Chagas, afirmou que a decisão de expulsar a aluna é descabida, e completou: "é como nos casos em que se responsabiliza a vítima de um assalto por estar segurando a carteira, ou se diz que uma mulher é culpada quando sofre um assédio ou abuso por causa da sua roupa. Isso nos parece lamentável."

Segundo a nota da universidade, foram colhidos depoimentos de alunos, professores e funcionários, além da própria Geisy, para embasar a sindicância. Em seu depoimento, a Uniban diz que "a aluna mostrou um comportamento instável, que oscilava entre a euforia e o desinteresse".

A aluna da Uniban afirmou à Folha Online no último sábado (7/11) que a decisão da universidade de expulsá-la é absurda. "Eu fui a vítima. Como que eu posso ser expulsa? A vítima é expulsa da faculdade? Isso é um absurdo", disse. 

Ministérios cobram explicações da faculdade

A secretária de Ensino Superior do MEC, Maria Paula Dallari, disse à imprensa que a instituição será notificada oficialmente, dentro de um processo de supervisão especial que pode ser aberto a qualquer momento quando há denúncias. "Uma universidade tem uma obrigação educacional que precisa estar presente em todos os momentos. É um local não apenas de convivência, mas de formação de valores. Esse caso me parece ter um forte caráter de gênero", afirmou Maria Paula. "O MEC tem o dever de pedir explicações. Seria a mesma coisa em um caso de racismo".

A ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), informou neste domingo que vai cobrar da Universidade Bandeirante (Uniban) explicações sobre a decisão de expulsar uma aluna que usava um vestido curto e sobre o andamento das medidas contra estudantes que a “atacaram verbalmente”.

Nilcéa condenou a decisão de expulsar a universitária e disse que a atitude da escola demonstra “absoluta intolerância e discriminação”. “Isso é um absurdo. A estudante passou de vítima a ré. Se a universidade acha que deve estabelecer padrões de vestimenta adequados, deve avisar a seus alunos claramente quais são esses padrões”, disse a ministra à Agência Brasil, ao chegar para participar do seminário A Mulher e a Mídia.

Imprensa internacional

A expulsão de Geisy Arruda ganhou espaço também nas agências internacionais de notícia e nas versões online de alguns dos principais jornais do mundo. Com o título "Aluna brasileira é expulsa após usar minissaia", o New York Times online publicou duas reportagens narrando o caso. Uma delas, assinada pela agência de notícias Reuters, ironizou o fato de o episódio ter acontecido em um país conhecido pelos seus biquínis minúsculos e sua atitude liberal.

No site do britânico The Guardian, a reportagem, assinada pela agência de notícias Associated Press, ganhou um lugar de destaque, logo abaixo das reportagens sobre os jogos de futebol. O Daily Telegraph também deu espaço para o tema.

De São Paulo, Luana Bonone, com agências e Blog do CUCA