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Vietnã será um dos países mais atingidos pela mudança climática

O Vietnã é um dos países que será mais prejudicado pela mudança climática. Os piores prognósticos indicam que as terras baixas alagáveis do delta do rio Mekong, onde se concentra o grosso da produção de arroz, ficarão debaixo de água.

Por Helen Clark, para a agência IPS

O aumento de um metro do nível do mar, previsto para 2100, afetará 10% dos atuais 86 milhões de habitantes, e reduzirá em igual proporção o produto interno bruto. As previsões divulgadas em agosto pelo governo não poderiam ser mais corretas, segundo muitas organizações internacionais.

A relação entre direitos humanos, saúde e mudança climática preocupa cada vez mais pelos milhões de pessoas deslocadas por razoes ambientais e pela possibilidade de aumentar a propagação de doenças transmitidas por um vetor, como malária ou dengue. O vínculo entre os três elementos foi discutido na Conferência Internacional sobre Realização dos Direitos de Saúde e Desenvolvimento para Todos, realizada em Hanói entre 26 e 29 de outubro.

Um milhão dos 150 milhões de pessoas que emigram no mundo o farão por razoes ambientais na Ásia, disse na abertura do encontro Daniel Tarantola, professor de saúde e direitos humanos na Universidade de Nova Gales do Sul. “A emigração forçada afasta as pessoas da infraestrutura básica que é imprescindível para uma boa atenção sanitária, com saneamento e água potável, e as deixa vulneráveis a doenças transmissíveis em abrigos temporários lotados e com poucos serviços”, acrescentou Tarantola, um dos organizadores do encontro de Hanói.

A rápida urbanização, e os problemas de saúde que supõe, é outro assunto que preocupa. Cerca de 60% da população mundial viverão em cidades em 2030, bem mais do que em 1900, quando a relação era de apenas 14%, disse Tarantola. “A urbanização deixa centenas de milhões de pessoas expostas à contaminação aérea e a serviços e saneamento inadequados, especialmente na Ásia”, ressaltou. Três em cada quatro vietnamitas vivem no campo, mas o país sofre uma rápida urbanização. Ho Chi Minh, polo comercial do sul, há pouco superou os sete milhões de habitantes.

“Distritos rurais serão cidades devido à mudança climática”, afirmou Tarantola à IPS. Os centros urbanos “não estão preparados para tanta gente. Como vamos proteger Ho Chi Minh?”, perguntou. Dois terços dessa cidade do delta do Mekong estarão sob as águas em 2050, estima o Banco de Desenvolvimento Asiático. A resposta à mudança climática na Ásia consistiu mais em responsabilizar as nações industrializadas do que em adotar medidas de mitigação próprias, afirmou o especialista em mudança climática Gurmit Singh, da Malásia. O governo do Vietnã “implementou muitas políticas de adaptação sofisticadas. Há consciência de que amanhã não será como hoje”, afirmou Tarantola, mais otimista do que Singh.

Não será “transcendental nem sofisticada”, disse por e-mail à IPS Koos Neefjes, assessor de mudança climática do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). “Mas, ao menos o Vietnã avançou na implementação de melhorias para a gestão de desastres”, acrescentou. Os rápidos esforços realizados pelo governo salvaram muitas vidas quando o tufão Ketsana arrasou a costa central do país e matou 163 pessoas. As previsões indicam que aumentarão os episódios climáticos severos. “O Vietnã recebe cerca de seis tufões ao ano e este foi o nono”, disse à IPS Ugo Blanco, da área de gestão de desastres do Pnud, referindo-se ao Ketsana, que atingiu o Vietnã no final de setembro. “E ainda faltam um ou dois meses para o fim da temporada de tempestades tropicais. A mudança climática terá um impacto negativo”, ressaltou.

Este país “sofrerá mais as consequências da mudança climática no futuro”, disse o vice-primeiro-ministro Hoang Trung Hai na conferência de Hanói. O governo aprovou um fundo entre US$ 12 milhões e US$ 14 milhões para levar adiante 36 projetos, a partir deste ano e até 2020. Um dos assuntos centrais será conscientizar a população sobre a mudança climática, segundo a imprensa local. Também aprovou o Programa Objetivo Nacional para responder ao fenômeno. “O Vietnã será respeitado por ter conseguido isto tão rápido quando todo mundo tomou consciência da mudança climática por volta de 2007”, disse Neefjes.

Os direitos humanos têm muito a ver com as soluções de adaptação e mitigação do problema, ressaltou Tarantola. As pessoas que sofrem inundações e perdem suas terras e seus cultivos têm, em geral, duas opções: ficar ou partir. “Até que ponto as pessoas envolvidas estão incluídas na decisão?”, perguntou. “A recolocação põe em risco seus direitos humanos. Dificilmente haverá mais terras cultiváveis no Vietnã. O novo contexto cultural, social e econômico será diferente. A desvantagem é a reduzida capacidade para lidar com o assunto”, disse à IPS. “As crianças se afogam, com protegê-las das inundações? É preciso ver a mulher de um ponto de vista social e econômico. Considerar os direitos humanos e tratar de respeitá-los”, afirmou Tarantola.

“Diferentes comunidades de profissionais e especialistas em desenvolvimento, saúde e meio ambiente se juntam, e isso tem de ocorrer de maneira mais freqüente. Mas, misturamos tudo. Não creio que a mudança climática seja um cenário, mas um conjunto de pressões”, destacou Neefjes.

Fonte: Envolverde