Guarulhos não pode virar um “piscinão”

O resultado das fortes chuvas que castigaram a região metropolitana de São Paulo no últimos dias, fez soar uma sirene: Guarulhos não pode virar um “piscinão” de São Paulo. Os temporais também fez suscitar o debate sobre a drenagem em nossa cidade. Diante disso, cabe ao poder público de Guarulhos discutir com mais profundidade o tema drenagem, levando em consideração a interligação fluvial que existe entre a nossa cidade e seus municípios vizinhos. Principalmente com a Capital São Paulo.

Ao falarmos sobre drenagem, mais precisamente sobre o escoamento da água da chuva, não podemos deixar de citar as regiões do Presidente Dutra, Lavras e Vila Any que em pleno aniversário de Guarulhos foram inundadas por enchentes. Na Vila Any, em especial, cerca de 50 famílias ficaram desabrigadas. A volumosa quantidade de água, sem ter para onde fluir, ali estacionou e causou grandes prejuízos e riscos a saúde dos moradores, – infelizmente pessoas simples que não tem como repor o que perderam.

Pretendo, nas linhas que se seguem abaixo, elencar três pontos que aliados a um fluxo maior de chuva, contribuíram para que cidadãos guarulhenses, ao invés de comemorarem os 449 anos de sua cidade, tivessem de se mobilizar na tentativa de não morrerem afogados e salvarem os poucos bens que possuíam.

O primeiro deles envolve a Usina da Traição. Inaugurada em 1940, este equipamento tem como objetivo reverter o curso das águas dos rios Tietê e Pinheiros, para serem encaminhadas à Usina Elevatória de Pedreira e depois ao Reservatório Billings. Na terça-feira 8, a Usina da Traição traiu o governo e principalmente a população, pois a manobra de conversão não foi realizada. É interessante se verificar como vai a manutenção deste complexo.

O segundo ponto trata sobre a Barragem da Penha. Para evitar que uma cheia maior atingisse a Marginal Tietê e bairros em seu entorno, comportas desta barragem foram fechadas. Assim, o refluxo de água de Guarulhos que deveria fluir por dentro de São Paulo retornou e atingiu mais gravemente a Vila Any. “É como se o governo do Estado, por meio do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) tivesse o direito de poupar uma cidade e sacrificar outra”. Resumindo, para aliviar a situação de São Paulo, pois o Rio Tietê já havia recebido grande quantidade de água do Rio Pinheiros, devido a não conversão da Usina da Traição, fecharam de forma fria e cruel comportas da Barragem da Penha.

O terceiro e último fator que agrava a situação envolve o governo do estado e a prefeitura de Arujá. Ambos continuam executando uma obra de canalização, retificação e impermeabilização na montante do Rio Baquirivu aumentando o volume e a velocidade das águas que vêm para Guarulhos.

Deixando rivalidades partidárias de lado, vejo que a Câmara Municipal, local onde atuo como vereadora, deve tratar com urgência estas questões, junto aos deputados estaduais da Frente Parlamentar das Águas da Assembleia Legislativa. Este é um assunto que deve ser resolvido tecnicamente, sem paixões políticas. Temos que considerar, por fim, o desrespeito ao meio ambiente e o pragmatismo desenvolvimentista, desrespeita a áreas naturais de acomodação das águas prejudicando a qualidade de vida dos moradores das grandes cidade.

Luiza Cordeiro, vereadora em Guarulhos, membro do Comitê Estadual do PC do B, e presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Câmara.