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Mazzuchelli: esquerda deve advogar regulação pública de finanças

A busca pela compreensão do capitalismo em suas diversas fases e contextos foi o mote da palestra ministrada pelo professor da Unicamp, Frederico Mazzuchelli, na noite desta quinta-feira (14) no curso de nível 3 da Escola Nacional de Formação do PCdoB, em Atibaia (SP). “Nunca vimos uma derrota tão fragorosa do argumento neoliberal como nesta crise”. Para ele, as forças progressistas e de esquerda “devem aproveitar este momento para advogar a regulação pública sobre as finanças internacionais”.

Frederico Mazzuchelli - Priscila Lobregatte

Baseando-se em seu mais recente livro – “Os anos de chumbo: economia e política internacional no entreguerras” – Mazzuchelli fez um histórico das várias faces assumidas pelo capitalismo ao longo de sua história e a necessidade de compreendê-lo para melhor enfrentá-lo.

O professor começou lembrando que no começo do século 20 “o sistema já era o do capitalismo monopolista, da Segunda Revolução Industrial e naquele momento, a hegemonia inglesa – do ponto de vista produtivo – era questionada”. A força daquela potência baseava-se, já naquele momento, no setor financeiro e não no produtivo, então mais forte na Alemanha e nos Estados Unidos.

Eram anos de instabilidade na ordem mundial, mas de grande euforia, por exemplo, nos EUA, que começava a experimentar o consumo de massas. “Se por um lado o país encontrava-se isolado no cenário internacional, internamente estava em expansão”, explicou.

A grande depressão

A crise de 1929 mudou esse quadro e a Alemanha passou a enfrentar grandes dificuldades econômicas que acabaram possibilitando, mais tarde, a ascensão do nazismo. “A crise dilacerou a economia alemã e isso levou à exacerbação de posições políticas”, destacou.

Pelo mundo, era difícil acreditar que no colapso do sistema. “Afinal, a cartilha liberal pregava que a liberdade de mercado resultaria num funcionamento equilibrado da economia mundial, mas a crise mostrava que não era bem assim”, colocou o professor. “E ninguém sabia exatamente como responder aos seus efeitos”.

Na sociedade alemã, a fome e o desemprego abrem caminho para que o povo apóie o Partido Nazista, que pregava ações de cunho nacionalista como saída para a crise. Em 1932, já são 230 os deputados nazistas eleitos, o que possibilitou que Adolf Hitler se tornasse chanceler. “Eles tinham uma visão bastante crítica a respeito do sistema financeiro; informalmente, estatizaram o sistema de crédito e investiram na indústria. Em dois anos, o desemprego que era de 33% foi praticamente zerado. Isso fortaleceu o movimento nazista”, explicou.

Os Estados Unidos, por sua vez, buscaram saídas diferentes, privilegiando o sistema financeiro. “Só depois da guerra o país sai, de fato, da depressão”, disse o professor. “Foi uma guerra vencida por homens soviéticos e dinheiro americano”.

Reconstrução e bem-estar social

O fim da Segunda Guerra Mundial faz emergir um novo cenário mundial, marcado por duas potências (EUA e URSS), o que muda novamente a “cara” do capitalismo. “Era um momento de reconstrução das economias capitalistas e os países que mais conseguiram se modernizar foram os que controlaram as finanças através do Estado, como Japão, França e Itália”. Ganhava força o Estado de bem-estar social (ou consenso keynesiano), fundamental para recuperar a Europa do pós-guerra.

Mais tarde, o final dos anos 1960 vê surgir outro capitalismo. O modelo de Estado de bem-estar social – responsável pelos “anos de ouro” da economia mundial por cerca de 30 anos – começa a ruir. E, como resultado, emerge um novo formato de economia: o liberalismo dos anos 80 que, mais tarde, atingiu a face neoliberal. “Acontece que o capital, regido pelas finanças privadas, é incapaz de garantir um mínimo de empregabilidade e qualidade de vida para a população. Dos anos 1980 em diante, o capitalismo tem explicitada a sua natureza contraditória e antagônica, conforme colocara Marx”, enfatizou Mazzuchelli.

A recessão que estourou em 2008 é resultado desse processo. “Mais uma vez, a crise coloca a possibilidade de reestruturação do capitalismo. Mas, há um claro consenso de que o comando do sistema pelas finanças gera resultados catastróficos”, finalizou.

A mesa de debate foi composta pelo professor Pedro Dutra Fonseca, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – que fará palestra durante o curso nesta sexta-feira – e pelo economista Sérgio Barroso, professor da Escola Nacional do PCdoB.

De Atibaia,
Priscila Lobregatte