Defesa da integração do Sul abre Fórum Social na Bahia

O Fórum Social Mundial Temático da Bahia teve início da manhã desta sexta-feira (29/1), trazendo à tona o debate quanto ao protagonismo dos países do Hemisfério Sul diante deste cenário de reconfiguração mundial por conta da crise. Em pauta, a construção de propostas unificadas de transformação estrutural, alinhando sustentabilidade ambiental e desenvolvimento social para a superação das desigualdades regionais.

Dados oficiais dão conta de que existem hoje, em todo o mundo, quatro bilhões de pessoas vivendo à margem da sociedade, excluídas dos processos de poder econômico e alheias a políticas de assistência social. “É realmente uma crise civilizatória; o que nos alerta para a necessidade de se pensar uma outra agenda, fundamentada em eixos estruturalistas e transformadoras em termos sociais, com mudanças profundas para uma sociedade devidamente formada”, pontuou o professor da PUC-SP e consultor de agências das Nações Unidas, Ladislau Dowbor, na abertura da mesa temática “O Sul-Sul como alternativa”.

É neste cenário que desponta o papel do Hemisfério Sul e, em especial, do Brasil, África do Sul, Índia e China. “Até o ano 1.000 da História, o Sul representava 82% da população e da riqueza mundial”, afirmou o sub-secretário geral da ONU, o suíço Carlos Lopes. “A partir deste século, surge um movimento de recuperação do seu papel em importância econômica, capitaneado justamente por esses países emergentes”, completou. A previsão é de que as “novas” nações atinjam o protagonismo mundial em 2050, ao lado dos Estados Unidos.

São estes países que apresentam uma realidade de crescimento e indicadores positivos na área econômica, ao contrário do cenário de crise constatado nos EUA e Europa. A África do Sul, por exemplo, tem um estoque de capital superior ao da Bolsa de Valores de São Paulo – Bovespa e da maioria dos países europeus. Apesar da fama da exploração de minérios, 70% do seu PIB decorrem da produção industrial. “É uma manifestação da punjância econômica que eleva o papel dos emergentes”, explica Lopes.

Nova configuração Sul-Sul

Uma das evidências notáveis desta nova configuração pró-Sul se evidencia no aumento do fluxo migratório para os países da região. E o Brasil desponta na linha de frente como dono do maior potencial para abrigar esse movimento de migração laboral. “Acho que a região tem um papel a cumprir e pode se beneficiar por estar nas rotas dos movimentos migratórios internacionais dentro dessa mudança de fluxos que estamos assistindo em função da crise e das atividades terroristas no mundo”, defendeu a pesquisadora da Unicamp e do IBGE, Neide Patarra.

Nesse aspecto, a economia de blocos entre os países do sul joga um papel positivo no fortalecimento da integração regional. “Meu argumento é em prol de uma abertura maior da região para os movimentos internos de migração, como uma forma de reforçar o mercado de trabalho e, posteriormente, o mercado consumidor”, explica Patarra. A opinião é compartilhada pelo argentino Jorge Beinstein, da Universidade de Buenos Aires. “Diria que temos que pensar no papel dos países do sul no mundo em crise; e não pós-crie. Esse papel, então, seria proteger-se das redes financeiras globais”, pontuou.

E é justamente esse “estar em crise” dos grandes pólos-financeiros internacionais que gerou oportunidades para os países do Hemisfério Sul. “As consequências políticas e ideológicas da crise abrem novas possibilidades”, observou o secretário Nacional de Economia Solidária, Paul Singer.

Para ele, um modelo de economia sem a figura do patrão e do empregado se sobrepõe como alternativa viável às práticas vigentes dentro do estratagema capitalista. “Se olharmos as coisas com a devida perspectiva do tempo, há uma grande esperança de superação do neoliberalismo; do capitalismo selvagem que gera um desemprego em massa de um lado, e super exploração dos trabalhadores de outro; e a construção de uma nova economia, que tem valor de uso como objetivo, e não o valor de troca”, enfatizou.

A julgar pelos efusivos aplausos do público, que lotou o Salão Atlântico do Hotel da Bahia, a expectativa de mudanças em favor de uma nova configuração mundial, de integração solidária para o desenvolvimento, é coletiva.

De Salvador,
Camila Jasmin