Cordel do Fogo Encantado chega ao fim
Uma das bandas representantes da nova safra de boa música brasileira anuncia seu fim. O Cordel do Fogo Encantado publicou em seu site comunicado oficial informando o "encerramento das atividades artísticas da banda". Tudo aconteceu sem briga, mas com tristeza, diz Antônio Gutierrez, o Gutie, que foi empresário da banda durante os onze anos de existência.
Publicado 25/02/2010 17:44
Segundo Gutie, o motivo do fim do grupo pernambucano é a saída, por vontade própria, de seu fundador e vocalista, Lirinha, o que "implica na impossibilidade de continuidade". O artista, que no palco com o Cordel sempre misturou música com teatro, já vinha investindo na carreira de ator. Seu monólogo Mercadorias e futuro colhe elogios da crítica nacional. Ele não quis dar entrevista sobre o fim da banda e apenas se pronunciou pelo site oficial de Cordel.
"O grupo que é independente desde a sua origem, com integrantes do Sertão de Pernambuco (Arcoverde) e do Morro da Conceição (Recife) se tornou uma das bandas mais ativas do cenário de shows da música brasileira. Isso aconteceu com a total entrega dos participantes e a verdade da mensagem emitida. É com muita dificuldade que redijo essa informação, devido ao imenso amor que eu sinto pelo público e pelos meus companheiros/guerreiros do projeto. Revelo, por respeito aos que me acompanham, a minha vital necessidade de trilhar novos caminhos", diz Lirinha no post.
Ele continua o texto dizendo que ajudou a desenvolver "um dos espetáculos mais originais da cultura pop do país e é com esse sentimento de orgulho que sigo em frente. Com a certeza de que o fogo da nossa poesia e da nossa música nunca se apagará e que nossa força é infinita", completou. Os demais integrantes da banda não se pronunciaram. Além de Lirinha, o Cordel era Clayton Barros (violão e voz), Emerson Callado (violão e voz), Nego Henrique (percussão e voz), Rafa Almeida (percussão).
Foram 14 anos de trabalho do Cordel do Fogo Encantado, sendo 11 anos de banda e 3 de peça teatral que levava o mesmo nome. Não se fala em show de despedida. Mas, de acordo com o comunicado, será lançado em breve o DVD do show que o Cordel realizou no Domingo de Carnaval, no Marco Zero do Recife, assim como material de arquivo selecionado entre registros realizados ao longo da carreira.
Na última apresentação, não havia sinais do fim da banda. Lirinha, inclusive, cantou músicas inéditas que estariam no próximo disco do grupo. O show foi considerado histórico antes mesmo de se saber que seria o derradeiro.
Não teve motivo, é como num casamento. Chega uma hora que acaba. A gente vempensando há um tempo. Gravamos o show do Marco Zero, vamos lançar, vai ter muito material de arquivo que estávamos compilando dos últimos dez anos, vamos manter o site oficial para comunicar com as pessoas e colocar produtos pela loja", diz Gutie.
Segundo ele, nenhum projeto em especial fez Lirinha desistir da banda, apesar do artista deixar subentendido no seu texto de despedida do site, que traçaria "novos caminhos". Os demais integrantes também não teriam nenhum projeto paralelo em vista. Apenas Clayton Barros tem um CD gravado com músicas infanto-juvenis. Nada que supere a força que a banda adquiriu.
"Lirinha tem o Mercadorias e Futuro, mas o fim não foi por um projeto específico. Ele vai passar por um hiato agora. Ele quer aprofundar nos estudos. Ele se aprimora muito nas coisas. Vai se aprofundar nessas linguagens de teatro, cinema", conta o produtor. Ele também diz que foi Lirinha quem mais se posicionou pelo fim da banda, mas que a decisão foi conversada com todos e não houve a possibilidade da bandacontinuar sem a figura principal. O certo é que o fim da banda, nesse momento, levanta dúvidas nos seus fãs do que exatamente pode ter acontecido.
Lirinha, nos últimos tempos, era mais bem sucedido sozinho (com sua peça e livro) do que com a banda, cujo último disco de músicas novas é de 2006. Mas o Cordel já tinha música nova (para um novo disco) e até um show agendado na Bélgica. Não dava sinais, portanto, de que estava perto do fim. Ontem, poucos minutos depois do anúncio oficial no site da banda, os fãs repercutiam no Twitter a surpresa que foi o anúncio do término.
O núcleo do Cordel foi formado em 1997, enquanto espetáculo teatral. Por dois anos, percorreu o interior do estado até vir para o Recife, transformando a peça numa apresentação musical. Virou show que estreou, já com muita repercussão, no carnaval recifense de 1999.
A percussão forte, de candomblé, mais o violão dedilhado de Clayton, as letras dramáticas e poéticas de Lirinha, somados ao cenário, luz e figurinos sempre teatrais, importantes,transformou rapidamente o Cordel do Fogo Encantado numa banda cultuada.
Lançaram três discos: Cordel do Fogo Encantado (2001), o independente O Palhaço do Circo sem futuro (2003) e Transfiguração (2006). A banda também deixa o MTV Apresenta, gravado em São Paulo, em 2005. Além de canções clássicas que serão entoadas ainda por muito tempo pelos fãs: Chover, Pedrinha. Os oim do meu amor, Morte e vida Stanley, Boi Luzeiro.