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Conversações de paz aliviam a tensão na Tailândia

A cultura da não violência prevaleceu na sexta-feira (2) na Tailândia, ao término da segunda rodada de conversações de paz televisionadas entre o governo do primeiro-ministro, Abhisit Vejjajiva, e líderes do movimento opositor que realiza protestos há duas semanas.

Por Marwaan Macan-Markar, para a Agência IPS

Porém, nas duas horas de diálogo entre governo e uma delegação dos “camisas vermelhas”, como se chama os opositores pela cor que usam em suas mobilizações, não se chegou a acordo algum.

As conversações, destinadas a encerrar a crescente divisão política, começaram no dia 28, no mesmo lugar, a sede de um centro de estudos em um subúrbio de Bangcoc.

A reunião foi um momento histórico, por ter sido transmitida ao vivo por todas as redes nacionais de televisão e vista por um número recorde de espectadores, segundo analistas.

Também foi singular por não contar, como habitualmente ocorre, com uma terceira parte, neutra, para ajudar os paineis de três membros a resolverem suas diferenças.

“Foi um momento único, sem precedentes. De fato, foram vistas pessoas com profundas diferenças políticas se reunirem e participarem de uma conversação de maneira civilizada”, disse Chaiwat Satha-Anand, presidente da Comissão de Estratégia pela Não Violência do Fundo de Pesquisa da Tailândia.

“Mostra como a sociedade tailandesa está amadurecendo para resolver seus conflitos políticos”. As conversações foram fundamentais também por outra razão, disse à IPS Chawiat, professor de ciência política da Universidde Thammasat, em Bangcoc.

“Os simpatizantes que só acreditavam em seu lado, vendo seu próprio canal de televisão e acompanhando suas notícias, tiveram a oportunidade de ouvir as duas partes do desacordo durante as conversações”, afirmou Chawiat.

De fato, foi o público que “fez o papel de parte neutra ao acompanhar o encontro”, acrescentou. Os dois dias de conversações aliviaram a tensão do final de semana nas ruas de Bangcoc.

Centenas de milhares de camisas vermelhas, mobilizados sob a bandeira da Frente Unida pela Democracia contra a Ditadura (UDD), enfrentaram os poderosos militares para expressar sua rejeição ao governo de Abhisit, há 15 meses no poder.

No sábado, os manifestantes da UDD, apoiados pelo fugitivo ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, forçaram o recuo dos guardas desarmados que custodiavam templos e escritórios do governo na zona antiga de Bangcoc.

No dia 28 pela manhã, milhares de camisas vermelhas foram em massa a um acampamento militar no norte da capital tailandesa, onde Abhisit está refugiado desde o dia 13.

Líderes da UDD consideram os protestos, que começaram há três sábados, um exercício de não violência para forçar o governo a dissolver o parlamento e convocar novas eleições.

Os dezenas de milhares de camisas vermelhas, que chegaram das zonas rurais do norte e nordeste, se converteram em 150 mil em três finais de semana consecutivos.

“As conversações que tivemos com o governo foram uma extensão de nosso compromisso com os protestos não violentos”, disse à IPS Weng Tojirakan, um dos líderes da UDD que participaram dos contatos. “O diálogo para resolver nossas diferenças é uma de nossas opções”.

Entretanto, permanece um importante ponto de discórdia: o pedido da UDD de novas eleições, algo que o governo não concede. “Quinze dias é uma demanda impossível”, disse o primeiro-ministro no início das conversações. Esse foi o ultimato dado pela UDD para a convocação de novas eleições.

No entanto, duas horas depois, o governo mostrou maior flexibilidade, quando Abhisit sugeriu que o parlamento poderia ser dissolvido “até o final deste ano”.

Diante disto, os negociadores da UDD disseram que precisavam consultar seus companheiros no local dos protestos. A UDD exige eleições parlamentares, antes das previstas para dezembro de 2011, porque questiona a forma como a coalizão liderada por Abhisit chegou ao poder.

O primeiro-ministro assumiu após um polêmico caso judicial, que terminou com a dissolução do partido que havia sido eleito para o governo no ano anterior. A atual administração preencheu o vazio após acordos a portas fechadas e manobras por parte do Exército.

Em abril de 2009, eclodiu a fúria dos camisas vermelhas contra o governo de Abhisit nas ruas de Bangcoc, e houve enfrentamentos com soldados.

Desde então, os esforços da UDD para respeitar a tradição tailandesa de não violência nas manifestações de desobediência civil foram acompanhados também pelo governo.

Foi permitido aos opositores, desde meados deste mês, controlar uma grande área na antiga Bangcoc para realizar protestos. Os soldados que fazem guarda nos prédios próximos têm como arma apenas seus cacetetes.

“Aceitamos que as pessoas tenham diferentes visões políticas e queremos expressá-las em público, e assim também desejamos que se faça dentro do império da lei”, disse à IPS um funcionário do governo na primeira semana de protestos. “A Tailândia se beneficiará se as pessoas o fizerem de forma democrática e não violenta”, acrescentou.

Porém, a história tailandesa oferece tristes recordações de como podem terminar os protestos. A primeira grande manifestação opositora, em 1973, e outra em 1992, ambas contra ditaduras militares, acabaram em banhos de sangue.

Também houve golpes de Estado após manifestações imensas, como ocorreu em 2006, quando foi deposto o governo eleito de Thaksin, após meses de protestos de opositores.

Fonte: Envolverde