Ato por medidas contra enchentes é brutalmente reprimido em SP

Por sugestão do internauta Raphael Tsavkko Garcia, a TV Vermelho reproduz vídeo que mostra a violência da polícia contra o protesto dos alagados, que exigiu medidas contra as enchentes, realizado em fevereiro deste ano em frente à Prefeitura de São Paulo. Gás de pimenta, cacetetes e muita repressão é a maneira encontrada pela gestão demotucana do prefeito Gilberto Kassab de tratar a grave crise habitacional e de planejamento urbano que assola a cidade há décadas.

Leia abaixo trechos do depoimento de Maria Frô, fotógrafa que acompanhava o protesto:

"Era uma manifestação de quem vive sob as águas de esgoto desde antes das chuvas de 8 de dezembro, alguns deles desde o dia 17 de novembro de 2009, conforme relato da senhora Maria Alice, moradora do Jardim Romano. Os manifestantes impunham cartazes com reivindicações e críticas ao prefeito e ao governador que até o momento nada de concreto fizeram para resolver a situação de calamidade pública que vivem essas pessoas.

Pouco depois chegou um mini-carro de som e as falas começaram. Não houve por parte dos manifestantes nenhum sinal de desordem, de agressão ou provocação aos policiais. Em suas falas e cartazes eles cobravam uma solução para o alagamento em que vivem, falavam da situação em que estavam, responsabilizavam os administradores da cidade e do estado pelo quadro desumanizador do represamento que inunda há meses as suas casas. Tenho certeza que se qualquer leitor/a tivesse experimentado um dia da vida daqueles moradores da Zona Leste não teria a paciência que eles tiveram, eu certamente não teria.

Por volta das 14h30min fomos informados que [Gilberto] Kassab não estava na prefeitura. O contingente policial aumentava assustadoramente: motos e viaturas chegavam com sirenes fazendo escândalo e os policiais se comunicando por rádio.

Cerca de 40 minutos depois do início da manifestação desceu um representante da administração municipal para falar com os manifestantes. A primeira coisa que ele exigiu foi que os manifestantes se afastassem do pátio da Prefeitura. Detalhe, os manifestantes sequer estavam próximos às portas da prefeitura que são todas gradeadas e já contava com uma boa fileira de policiais militares fortemente armados e guardas civis metropolitanos protegendo-as, assim como um batalhão de fotógrafos amadores ou não. O sol castigava as crianças e idosos e se afastar dali significava empurrar cerca de 400 pessoas para a Avenida do Viaduto do Chá.

A reação desmedida da polícia militar, por volta das 15 horas diante de dezenas de câmeras, sem poupar vereadores e parlamentares, fotógrafos, jornalistas não tem justificativas. A polícia desceu o cassetete em alguns pescoços como no blogueiro Raphael Garcia e deu banhos de spray de pimenta em manifestantes que sequer se aproximaram das portas gradeadas da Prefeitura que como disse já estavam bastante protegidas por policiais armados.

O vídeo mostra o início da agressão policial que mesmo diante dos parlamentares empurraram os manifestantes e iniciaram o ataque com o spray de pimenta.

Eu pedia socorro, porque a respiração ficava cada vez mais difícil e aumentava a nuvem de pimenta ao meu redor. Uma garota do movimento Passe Livre me puxou e caminhamos juntas por todo o Viaduto do Chá . Ela conduziu minha caminhada, dando-me a sua mão, até um bar para que eu pudesse lavar meu rosto e braços com água e sabão.

Meu corpo ardia em brasa, doía tudo: pescoço, entre os dedos, palmas das mãos, braços, rosto, lábios, olhos, pernas… mas já conseguia ao menos respirar. Não havia água no bar em que fomos. A região do centro da cidade, assim como a do Butantã e Morumbi estão sem água desde domingo. Não deixa de ser irônico estar em uma manifestação em prol dos moradores submersos da Várzea do Tietê, saber que as represas estão transbordando e ao mesmo tempo vivenciar a falta água em várias regiões da cidade.

E para finalizar, nada como sentir literalmente na pele o horror que o gás de pimenta é capaz de produzir em nossos corpos. Toda a classe média, que fecha os seus olhos para as condições de vida a que são submetidos os mais excluídos, deveria experimentar para ver o que é bom para a tosse. Espero que os parlamentares brasileiros, alguns deles que também descobriram que pimenta na própria carne não é refresco, discutam uma lei que proíba a polícia militar no Brasil de fazer uso deste veneno contra a população civil que tem direito de se manifestar livremente e de modo pacífico como fizeram os moradores das áreas represadas da Várzea do Tietê."

 
Fonte: Blog do Tsavakko e da Maria Frô

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