Artigo: Orangotangos se proliferam

O saudoso político Leonel Brizola, que viveu por muito tempo em guerra com as Organizações Globo, certa vez definiu o ex-âncora do Jornal Nacional, Cid Moreira, como um “orangotango branco que lia teleprompter”. Tal aparelho, para quem não conhece, é um monitor de televisão que mostra as notícias de um telejornal aos apresentadores, que as leem para os espectadores. Quer dizer, tal como o primata, Brizola disse que Cid apenas reproduzia aquilo que lhe mandavam.

Sinceramente, não sou brizolista, mas reconheço que os adjetivos proferidos ao jornalista global são, ao menos, instigantes. E servem para compreender a conduta de alguns animais adestrados que têm espaço na grande mídia, e também na alternativa. Quanto aos gigantes conglomerados de comunicação (Grupo Folha, Abril, Organizações Globo e afins), nem é necessário perder tempo tentando debater por que adotam certas posturas. Todos sabem que essas empresas – não imprensas – têm opções claras na política. O fato lastimável é que blogs de internet, espaços teoricamente independentes, estão se tornando incubadoras de primatas da espécie dos orangotangos brancos.

De maneira geral, essas mídias alternativas estão caindo no discurso vazio midiático que serve a interesses subalternos. Quando houve a “explosão” dos blogs, muitos pensaram que o espaço para o debate democrático começava a ser arquitetado. Claro que continuam a existir as valorosas exceções. Mas o “bioma” cibernético já começa a sofrer com a superpopulação de orangotangos. Entretanto, esses animais têm seus predadores naturais, os leitores, que podem fazer a seleção natural entre o que vale ou não à pena. Pouca coisa tem valido, a bem da verdade.

Em Belo Horizonte, há um blog de política hospedado em um dos principais portais de notícias de Minas Gerais. O jovem jornalista responsável pela atualização é bastante talentoso. Pena que usa sua sabedoria para reproduzir o que a grande mídia difunde. Um pequeno apanhado em seus textos mostra títulos assim: “Dilma e Lula usam PAC 2 como trampolim de campanha”; “Lula presidente e candidato”… E blá, blá, blá. Curioso é o que governador Antonio Anastasia, que há pouco tempo era um desconhecido, pelo menos na cena política, tem feito discurso em voz alta, aparece na TV com dedo em riste e faz uma verdadeira maratona por prefeituras do Estado há um tempão. Ninguém fala nada.

Parece que existe uma espécie de lei velada no Brasil. Aqui, quem não presta é o Lula, e o demônio atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores, sendo personificado, às vezes, nas figuras de Dilma Rousseff, do próprio presidente da república e de outros sujeitos sérios que têm seus nomes e trajetórias jogados na lama a troco de nada. Ou melhor, a troco do que sabemos bem. Felizmente, ao que parece, parte da população não está aceitando mais ser enganada. A disparada de Dilma nas pesquisas mostra isso, apesar de toda campanha demoníaca. A ex-ministra causa tanto temor na oposição que o tucanato está até questionando idoneidade de instituto de pesquisa sério. E o governo que se prepare. O jogo sujo oposicionista está só no começo. Quem viveu as eleições de 1989 sabe do que nossa mídia é capaz.

Por Orozimbo Souza Júnior – jornalista