Metalúrgicos: Futuro para quem trabalha e o desenvolvimento

O 4º Congresso dos Metalúrgicos, realizado no Hotel Samuara, em Caxias do Sul, pelo Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul, abriu as discussões entre a classe trabalhadora da região sobre o novo projeto de desenvolvimento do país.

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O encontro começou na manhã deste sábado (24 de abril) com o objetivo de debater o futuro para quem trabalha e contou com a participação da diretora-adjunta de Estudos e Políticas Macroeconômicas do IPEA, Denise Gentil, do senador Paulo Paim (PT) e da deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB).

Crescimento com distribuição de renda

Denise Gentil abriu sua palestra afirmando que é impossível crescer sem se desenvolver. E acrescentou crescer sem distribuir os frutos da riqueza também é insuficiente para um país que almeja se desenvolver. "A luta dos trabalhadores não é só por postos de trabalho". A diretora-adjunta do IPEA também lembrou da importância da intervenção do governo na criação de políticas que contemplem isso. "Vivemos numa sociedade capitalista, que não cria postos de trabalho para suprir a demanda. Se deixarmos por conta dela nunca teremos postos suficientes".

Ela destacou a importância da indústria nesse cenário, porque foi dando ênfase para esse setor que os países desenvolvidos cresceram. "A indústria tem que ser o carro-chefe da economia".

Na avaliação dela, o Brasil está no caminho certo, porque fez política econômica industrial e distribuiu renda, dois pré-requisitos essenciais. "Temos um programa de assistência social sólido, que é o Bolsa-Família, que é exemplo internacional. E o nosso sistema de seguridade social é um dos mais avançados do mundo".

Denise lembrou que desde 2006, um outro modelo de desenvolvimento se instalou no país, trazendo crescimento com distribuição de renda. "Estamos conseguindo reduzir a pobreza numa velocidade que nenhum país europeu conseguiu. Em 2008, a extrema pobreza foi reduzida à metade em relação a 2003. O salário mínimo cresceu 24,7% entre 2006 e 2008. Isso é inédito"

Trabalhador tem lado

O senador Paulo Paim (PT) abriu sua participação concordando com Denise Gentil, mas acrescentado que não está tudo resolvido ainda. E ele lembrou que existe uma grande luta pela frente em defesa dos trabalhadores e que, para isso, contava com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Assis Melo. "Você vai estar lá", disse Paim, apontando para a Assis, em uma referência à candidatura do vereador para deputado federal, e arrancando palmas da plateia.

Em seguida, acrescentou : "Os trabalhadores têm lado. E, para mim, é Lula e é Dilma".

Ele lembrou que quando começou a defender o salário mínimo de 100 dólares, parecia um sonho distantes. "Hoje é quase 300 dólares", comparou. "Antes com um salário mínimo dava para comprar uma cesta básica. Hoje dá para comprar quase duas e meia", acrescentou.

Paim defendeu o fim do fator previdenciário. "Para quem ganha 27 mil reais, o fator não faz diferença. Para o trabalhador faz". E argumentou que parte do dinheiro do fundo social do pré-sal deve ir para a previdência social. "Eu defendo que 5% desse fundo seja para a previdência".

O senador finalizou falando da necessidade do Congresso Nacional aprovar a PEC 50, que acaba com o voto secreto no parlamento. "Não tem lógica um homem público se esconder atrás do voto secreto".

O debate é de projetos

A deputada federal Manuela D'Ávila destacou a importância de estar sendo realizado um congresso dos trabalhadores metalúrgicos que se reuniram para discutir política. "É difícil ver no Brasil um sindicato tão consistente quanto esse Metalúrgico de Caxias do Sul. E quero destacar a legitimidade desse encontro promovido por uma entidade que tem como tema 'nossa classe fazendo história'."

E acresentou: "É muito fácil para a elite dizer que o debate político é desnecessário, porque os filhos da elite não precisam desse projeto de desenvolvimento nacional. Eles não precisam de segurança pública porque têm segurança privada. Não precisam de saúde publica. Será que a elite precisa debater política pública? Alguém conhece bairro de elite com fossa de esgoto aberta e criança brincando no valão? A classe trabalhadora precisa discutir política.

Manuela concordou com Paim ao dizer que ainda há muitas lutas pela frente, mas que, unidos, os trabalhadores terão força para conquistar ainda mais direitos do que os já conquistados. "Para nós esse é só o início da caminhada. Mas não conheço nenhuma criança que tenha aprendido a andar e dito: vou voltar a engatinhar porque era mais fácil."

Ela também lembrou que o debate político a respeito das eleições desse ano deve ser ainda mais aprofundado. "Em eleição não é todo mundo igual. E o que está em disputa esse ano é uma diferença de projetos".

Painel debateu cenário econômico

O segundo painel de debates do 4º Congresso dos Metalúrgicos foi sobre os dilemas e cenários do setor para os próximos anos. Os palestrantes foram o economista David Fialkow Sobrinho e o secretário adjunto de relações internacionais da CTB, João Batista Lemos, que fizeram uma apresentação sobre o cenário econômico brasileiro e mundial, explicando o papel dos trabalhadores nesse contexto.

Ano eleitoral deve ser de reflexão

Fialkow lembrou que o Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, como China e Índia, não é mais diretamente influenciado pela economia dos Estados Unidos, por causa das ações de seus governos. "Antes, se os Estados Unidos tinham uma gripe lá a gente pegava aqui. Agora não é mais assim."

O economista usou como exemplo a crise econômica de 2008, que afetou brutalmente o setor produtivo norte-americano, mas não teve o mesmo efeito no Brasil. "Nós fomos um dos últimos países a entrar na cries, e um dos primeiro a superá-la".

Sobre Caxias do Sul, Fialkow lembrou que a tendência é de crescimento econômico, sobretudo na indústria, o que atinge diretamente o setor metalúrgico. "Em fevereiro desse ano, só a indústria cresceu 21,9% a mais do que em fevereiro do ano passado". As perscpectivas apontam para crescimento contínuo até 2016, tendo em vista a realização da Copa 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Brasil. Além do Pré-sal e PAC, tudo isso deve influenciar no aquecimento do setor metalúrgico disse Fialkow.

Ou seja, todos os indicativos mostram que a economia – em âmbitos nacional e local – vive um bom momento. Como esse é um ano eleitoral, Fialkow argumentou que os trabalhadores devem refletir a respeito desse cenário e fazer comparativos entre a situação econômica agora, depois do governo Lula, e como ela era em gestões anteriores. "O que está em jogo nessa eleição não é apenas a diferença entres as biografias dos candidatos. A diferença é de projetos".

"Sem exploradores nem explorados"

O secretário adjunto de relações internacionais da CTB, João Batista Lemos, entende que os trabalhadores estão vivendo um momento importante no qual terão a oportunidade de decidir que tipo de país querem para si. "Vamos construir uma nova sociedade sem exploradores nem explorados".

Ele lembrou que o salário mínimo nunca foi tão valorizado no país. Mas defendeu que é preciso avançar mais nessa conquista. "Hoje o salário está em quase 300 dólares. Mas o que dá para fazer com isso? Não podemos achar que é normal. Somos nós que produzimos a riqueza e precisamos lutar para melhorar ainda mais."

Lemos lembrou que, em qualquer crise, os trabalhadores são os que mais sofrem. São eles que são afetados pelas demissões e pela precariedade das condições de trabalho e de salário. Por isso, também devem se engajar nas lutas decisivas para o país. "É preciso fazer luta de resistência nos sindicatos e também luta política."

Lutas essenciais

O secretário adjunto de relações internacionais da CTB, João Batista Lemos, listou algumas das bandeiras que devem ser defendidas pelos trabalhadores:

* Fortalecer a luta pela redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais sem redução de salários. "Essa é uma bandeira central para a classe trabalhadora, sobretudo para os metalúrgicos. Temos que trabalhar para viver e não viver para trabalhar".

* Reivindicar que o fundo social do pré-sal seja voltado para os trabalhadores. "Temos que defender o pré-sal, porque essa é uma riqueza nacional, que precisa ser convertida em benefícios aos trabalhadores".

* Defender a reforma agrária.

* Garantir o cumprimento da Convenção 158, que inibe as demissões desmotivadas.

* Exigir a regulamentação das terceirizações. "A terceirização é usada pelas empresas para que elas aumentem seu lucro, mas precarizam as relações trabalho. É preciso regular isso".

* Criar mecanismos para reduzir as doenças ocupacionais

* Combinar luta de resistência, nos sindicatos, com luta política. "Esse é o caminho".


Avaliação

O presidente do Sindicato, Assis Melo, ao fazer um balanço das atividades do dia 24, destacou a grande qualidade do debate feito e dos palestrantes que mantiveram a atenção dos presentes mesmo em temas mais técnicos como na área da economia.

Melo reafirmou a disposição do Sindicato ao promover o Congresso: "Nosso grande objetivo aqui é fazer a reflexão e definir os caminhos a seguir neste ano tão importante para os trabalhadores e a nação", disse.

Atividades paralelas

As famílias de metalúrgicos que têm filhos pequenos, puderam levar as crianças ao Congresso dos Metalúrgicos. Um grupo de profissionais se encarregou de cuidar dos meninos e meninas enquanto os pais participavam dos debates. Diversas atividades de recreação foram promovidas, entre elas brincadeiras, desenhos, jogos e passeios.

O participantes do Congresso também tiveram momentos de relaxamento. Entre as palestras, foram servidos lanches, café e refeições, também com recreação. Além disso, os que tiveram interesse, puderam participar de uma atividade de ginástica laboral desenvolvida na piscina térmica do Hotel Samauara.

Graziela Andreatta