Manuel Domingos lança livro em Teresina sobre coronelismo

O professor de Ciência Política da Universidade Federal do Ceará (UFC), Manuel Domingos Neto, lançou na últimsa, o livro "O Que os Netos dos Vaqueiros me Contaram”, que trata das nuances entre a modernização do sertão brasileiro e o coronelismo. O lançamento da obra vai ocorreu no Arquivo Público do Estado do Piauí, a partir das 19h.

Manuel Domingos - PCdoB
Apoiado pelo Banco do Nordeste, por meio de seu Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), a publicação, cujo subtítulo é “O domínio oligárquico no Vale do Parnaíba", revisa o conceito tradicional de coronelismo, desmistificando a ideia de que ele seria o maior responsável pelo atraso na Região.

O campo de observação privilegiado pelo Autor foi o Vale do Rio Parnaíba, secular área de apoio das populações do semi-árido cearense, baiano e pernambucano. O livro destaca o papel desempenhado pelo Piauí, grande fornecedor de gado para as zonas exportadoras durante mais de dois séculos e hoje transformado numa das áreas mais pobres do país. Na grande seca de 1877 – a maior calamidade social da história brasileira, com mais de meio milhão de mortos – foi no Vale do Parnaíba que boa parte dos retirantes sertanejos encontrou meios de sobrevivência. A pesquisa revela que as fazendas sertanejas, mesmo com a pecuária extensiva em crise irreversível, mas exportando produtos do extrativismo vegetal, geraram divisas indispensáveis ao financiamento do desenvolvimento industrial do Sudeste. A grande motivação do estudo foi precisamente esta trajetória aparentemente paradoxal do Vale do Parnaíba: de grande abastecedor da população brasileira à condição de paradigma de pobreza.

"Pelo que os netos dos vaqueiros me contaram, não é difícil concluir que tanto os coronéis como seus supostos opositores integraram a linha de frente da modernidade brasileira. A pobreza do sertanejo nordestino seria uma das faces desta modernidade”, afirma Manuel Domingos Neto, que, além de ser Professor de Ciência Política do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC é professor visitante da Universidade Federal Fluminense (UFF). Manuel Domingos coordena, ainda, o Observatório das Nacionalidades, grupo de pesquisa da UFC que edita a revista "Tensões Mundiais".

Para a professora Linda Gondim (UFC), que prefaciou a obra, “atribuir às oligarquias nordestinas a responsabilidade pelo ‘atraso’ é, no mínimo, um simplismo que escamoteia os vínculos de complementaridade da industrialização do sudeste com as dificuldades do Nordeste”.

Sobre o autor

Manuel Domingos Neto nasceu em Fortaleza em 1949. É graduado em História pela Université de Paris VI, mestre em Sociedade e Economia pelo Institut des Hautes Études de l’Amérique Latine e doutor em História pela Université de Paris III.

Foi pesquisador da Casa de Rui Barbosa (Rio de Janeiro) e superintendente da Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí. Realizou estágio de pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales em 2000.

Um dos articuladores do PCdoB no Piauí, foi deputado federal pelo partido no Estado e vice-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Atualmente, é professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.

É líder do grupo de pesquisa "Observatório das Nacionalidades" e editor da revista "Tensões Mundiais". Pesquisa e orienta pós-graduandos nas seguintes linhas: processos de construção das nacionalidades, cultura brasileira, desenvolvimento da ciência no Brasil, organizações militares e defesa nacional.