A crise da Assembléia e uma nova cultura política ( I )

Por MIlton Alves*

Na crise instalada na Assembléia Legislativa do Paraná, além dos fatos condenáveis de corrupção e favoristismo, chama atenção o espiríto de corpo, de auto proteção dos parlamentares, independentemente das suas filiações partidárias e mesmo posturas ideológicas.

Trata-se de um mecanismo de auto defesa, que limita no caso em tela, a separação do joio do trigo, ou melhor, coloca todos no mesmo balaio. Os eventos configuram o maior escândalo de corrupção envolvendo políticos do Paraná dos últimos anos.

Além disso, a gravidade do caso, requer uma conduta mais atilada dos parlamentares, uma necessária postura de investigação e de sentido auto crítico do conjunto da Casa – que diga-se – uma das mais fechadas e conservadoras do Brasil. Para se ter uma idéia, além da falta de transparência, a Alep não tem uma prática institucionallizada que permita a participação da sociedade nos seus debates e no seu funcionamento.

A TV Sinal, que pode ser um instrumento que favoreça a participação da população, ainda tem uma programação, no essencial, de promoção dos próprios parlamentares. O trabalho das comissões permanentes não contam com a necessária integração com as organizações da sociedade e movimentos sociais.

Da Alep pouco se sabe da sua agenda e a condução da mesa executiva, os fatos demonstraram, é pautada por uma visão patrimonialista e voltada para a perpetuação de um determinado grupo político, o que esvazia e viola todo o sentido da vida do parlamento, que deve ser a casa da representação popular, um dos estuários dos anseios da cidadania.

Portanto, aos parlamentares da atual legislatura, extremamentes desgastados com o atual descalabro político e administrativo da Alep, cabe um conjunto de esforços políticos, morais, e de procedimentos renovados para a construção de uma nova cultura política na Casa.

No entanto, um primeiro e urgente passo nessa direção, o que sinalizaria para a população uma nova conduta de seriedade e transparência, é o afastamento imediato de Nelson Justus da presidência e toda a atual mesa diretora. Apenas esse gesto denotaria uma verdadeira vontade política de mudanças no parlamento estadual.

Manter a atual Mesa Diretora revela exatamente o sinal oposto de qualquer mudança substancial nas práticas e condutas da Alep. Neste sentido, os deputados precisam agir, rompendo as barreiras do silêncio coletivo e programado.

A sociedade continuará a demandar as respostas e fará, tenham certeza, o seu julgamento.

*É presidente estadual do PCdoB-PR e membro do Comitê Central do Partido.