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Avante!: Os militaristas na América Latina

O imperialismo é de um descaramento impressionante. Sabendo que controla a maioria dos meios de comunicação, mente descaradamente com a certeza de que muito boa gente acreditará em tudo o que saia dos laboratórios da guerra suja de Washington. E quando encontra pela frente um governo progressista, que não se submete totalmente aos seus desejos de ave de rapina, então começa a “guerrilha mediática”. A Venezuela é um desses governos insubmissos. E paga cara a ousadia.

Por Pedro Campos, no Avante!*

Segundo Frank Mora, vice-ministro de Defesa dos Estados Unidos, o governo bolivariano “deve explicar com transparência para que é que se arma e o que é que vai fazer com essas armas que está comprando”. Esta advertência aparece numa sequência metodicamente elaborada de declarações sobre o “militarismo” do governo de Hugo Chávez.

O que é que se passa realmente na América Latina em termos da compra de armas? Está a Venezuela a comprá-las? Sim. Mas não de fabricantes dos Estados Unidos. Se por um lado a Venezuela continua a ser um fornecedor fiel de petróleo ao império, a verdade é que este não paga na mesma moeda, optando por boicotar a venda de material militar. Violando os contratos assinados há vários anos, Washington tem-se negado sistematicamente a vender à Venezuela as peças e equipamentos tecnológicos de que precisa para manter operacionais os aviões F16. Mas o império vai mais longe. Impediu que o Brasil e a Espanha vendessem a Caracas unidades aéreas necessárias para modernizar a sua força armada. Não esqueçamos que a “especialidade” de Washington é atacar países mais ou menos desarmados.

Algumas comparações esclarecedoras

O International Peace Research Institute (Sipri), com sede na capital sueca e grande credibilidade nisto dos investimentos militares, oferece-nos uma boa comparação desses gastos e a sua relação com o Produto Interno Bruto.

Vendo os números em questão, a preocupação de Frank Mora e das mídias internacionais é, mais do que ridícula, uma provocação e uma cortina de fumaça para justificar possíveis ações militares de Washington – ou da Colômbia – contra a Venezuela.

Vejamos o ano de 2008. As compras militares da Venezuela atingiram os US$1,987 milhões ou seja, 1,3% do seu PIB. Entretanto, as da Colômbia mais do que triplicaram as do seu vizinho e chegaram aos US$ 6,568 milhões (4,0% do PIB). O Chile, frequentemente apresentado como “governo bem comportado”, gastou US$ 4,778 milhões (3,4% do PIB). Como é natural, o Brasil é o grande comprador: US$15,474 milhões, mas com uma relação de 1,5% ao PIB, ou seja abaixo da Colômbia e do Chile. Por que será que Washington e a mídia do capitalismo não pedem explicações nem à Colômbia nem ao Chile? Será porque um é país ocupado e o outro um “governo exemplar”?

Sempre seguindo os dados de Sipri podemos ver que entre 1968 e 2008, na Venezuela, a relação gastos militares/PIB desceu, em termos percentuais, de 2,1 para 1,3. No caso do Chile a relação passou de 2,1 para 3,4. Mas se falarmos de Bogotá ela saltou de 2,1 para 4,0. Escandaloso, mas o imperialismo não se escandaliza! Por outro lado, qual é a autoridade moral dos Estados Unidos para falar em armamentismo? Washington não só é o grande vendedor de armas, dando-se mesmo o caso – ou casos – de que as vende às duas partes em conflito, como é o país com o maior orçamento militar. Este ano são US$ 820 mil milhões, mais do que todos os outros países do mundo juntos! E este gasto militar não é necessariamente para a defesa do seu território, mas para tomar por assalto outros países. O Iraque e o Afeganistão são duas situações gritantes.

Washington tem descaramento suficiente para ditar aulas de moral a todo o mundo. No caso das drogas, o país que mais as consome, o que controla o país que mais cocaína produz (Colômbia) e o que mais ópio exporta (Afeganistão) atreve-se a “certificar” nesta área alguns países… e reprovar os que não se lhe submetem, como a Venezuela.

Leia-se, porém, isto: “Não basta que os Estados Unidos passem ‘certidões’ de bom comportamento a outros países (…) mas que também que se certifiquem a eles mesmos”; e mais isto: Washington “carece de qualidade moral para pontificar no tema do consumo de narcóticos”. Quem assim fala não é um esquerdista suspeito de má vontade contra os Estados Unidos. É Jesus López Rodríguez, dominicano e cardeal da Igreja Católica!

*Fonte: Avante!, com adaptações ao português usado no Brasil