2014: Entre as cifras e os sonhos

Que me perdoem os acadêmicos e respeitáveis jornalistas, mas não me atrevo de maneira alguma a tecer aqui uma reflexão sobre os problemas de infra-estrutura que as sedes da Copa de 2014 estejam vivendo e se elas conseguirão de fato atender em tempo hábil às exigências da toda poderosa FIFA.

Por Daniel Ilirian

Confesso que tal assunto me soa distante e enfadonho e duvido que não o seja também para o torcedor de forma geral, já que as cifras de milhões e bilhões do dinheiro que há de ser gasto com o evento são muito difíceis de mensurar e ainda mais avaliar com a devida propriedade sobre qual será o custo-benefício das obras e reformas necessárias.

Saibamos somente, a título de informação, que o Brasil foi o único candidato devido a um rodízio de continentes promovido pela cúpula do futebol mundial, possibilitando assim a futura realização da vigésima Copa do Mundo sem nenhuma concorrência. Depois veio a candidatura das cidades e finalmente se iniciou a novela que acompanhamos desde então, sobre o desempenho das sedes para conseguirem a aprovação de Joseph Blatter. Sem sombra de dúvida, nada mais broxante para o apaixonado pelo futebol discutir nas mesas de bar.

O futebol e a Copa do Mundo me parecem algo bem mais simples do que toda essa pretensiosa discussão. Lembro bem da primeira Copa que vi, justamente a da “era Dunga”. Inventei uma dor de cabeça para não ir à escola e enquanto meus colegas quebravam a cabeça num prova de matemática, me deliciei assistindo à abertura quando os leões indomáveis de Camarões derrotavam a Argentina de Maradona. Simples assim. E ainda passara de ano sem recuperação. E esses números e a matemática da Copa de 2014 permanecem tão distantes e desinteressantes quanto as inúmeras provas que fiz em outros tempos.

Penso, sim, que quando chegar a hora, vamos nos deparar com inúmeras publicações, livros, revistas, álbuns de figurinhas, filmes, mesas-redondas, discussões e debates, como as que testemunhamos desde já em função desta Copa, coisas muito mais atraentes e divertidas, como o futebol é e deve ser. Daí sim, o torcedor irá comprar, guardar, emoldurar, apostar, e tudo o que tiver direito independentemente do “legado” que virá ou não.

Pra não dizer que essa publicidade feita pelas grandes empresas de comunicação, cientes obviamente do entretenimento que isso gera e do lucro conquistado, vai de encontro a um certo discurso, feito por esses mesmos e espertos criadores, insistente em apresentar à população um possível caráter enviesado dos rumos que os investimentos financeiros estariam tomando, dando a clara sensação de que o debate denota um interesse muito mais político do que esportivo, pois as autoridades diretamente responsáveis pela realização da Copa talvez não sejam palatáveis aos provavelmente saudosos dos tempos em que um Rei virou Ministro.

No entanto, fugirei a dar à nossa conversa um ar de gravidade desnecessário e voltarei à peleja pra dizer apenas que será um momento e tanto para nós torcedores acompanharmos de tão perto, depois de outras Copas vistas apenas pela TV, essa que será bem debaixo de nosso nariz. Afinal, com ou sem o devido legado de 2014 esperado sabe-se lá por quem, nós torcedores seguiremos com preocupações bem mais simples, que de preocupação nada há na verdade, mas apenas os mesmos sonhos que carregamos desde meninos. O futebol como ele é e sempre foi.