Ao fazer 93 anos, Júlio Romão recebe homenagem de Osmar Júnior

Neste sábado (22), uma dos maiores expoentes da literatura e dramaturgia piauiense completa 93 anos. Júlio Romão da Silva nasceu no Piauí, mas é radicado no Rio de Janeiro, onde ganhou cidadania e o nome de uma das ruas do bairro Méier.

Júlio Romão e Osmar Júnior - Jarbas Santana
A orfandade aos 4 anos de idade ou as dificuldades econômicas. Nada impediu que o então estudante em meados dos anos 30 fosse um representante-chave nas lutas dos movimentos negro e literário.

Hoje, aposentado, o escritor vive em Teresina e é um memorável filiado do PCdoB-PI, que serve como exemplo de força e inspiração aos demais militantes. Reconhecendo a importância artística e política de Júlio Romão, o deputado federal Osmar Júnior se pronunciou, na última semana, no parlamento da Câmara Federal em homenagem ao aniversário do também ex-jornalista. Exaltando suas qualidades e feitos, o deputado deixou registrado mais um ano de vida desse autêntico representante das minorias que chegou além dos limites impostos pelos censuradores e ditadores da ordem vigente na época.

Confira na íntegra o discurso do deputado:

 

Há 93 anos, nascia no Piauí um ilustre homem que viria a ser um dos nossos maiores intelectuais. Refiro-me a Júlio Romão da Silva, escritor, jornalista, etnógrafo e fundador da Frente Igualitária Brasileira no Rio de Janeiro. Ele empreendeu lutas imprescindíveis ao movimento negro e a literatura.
Descendente de pretos africanos, vendidos como escravos na Bahia, Júlio Romão ficou órfão aos quatro anos de idade. Foi criado pela avó paterna, Mônica Efigênia da Conceição, em Teresina. Este piauiense que recebeu o nome de “Romão” em homenagem ao Padre Cícero Romão superou as dificuldades econômicas e até geográficas em um Brasil ditatorial da primeira metade do século XX e conseguiu fazer um trabalho memorável para o país.

Enquanto estudante, foi marceneiro em Teresina e depois em São Luis do Maranhão. O contato com as letras se deu inicialmente com um jornal experiência: ‘O Artífice’, fundado em 1932, no antigo Liceu Industrial de Teresina, onde se formou. Depois lançou o jornal ‘O Eco’, onde expôs suas idéias renovadoras sobre a poesia e romance regionais.

Em 1937, migrou para o Rio de Janeiro e, sem qualquer ajuda financeira, enfrentou dificuldades extremas, mas nunca desistiu de estudar. Na então capital federal, fez o curso ginasial no Colégio Matos e cursou Comunicação Social na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil.

Iniciou a carreira jornalística como revisor do Jornal do Comércio, exercendo o ofício de jornalista por mais de quarenta anos, trabalhando em importantes veículos da imprensa carioca, como Correio da Manhã, Diário Carioca e a Revista da Semana. Ainda no Rio de Janeiro fundou o jornal Terra Mafrense, que divulgava os fatos e coisas do Piauí.

Do jornalismo passou a literatura. Com 42 obras literárias publicadas, algumas traduzidas para o espanhol, Júlio Romão é membro da Academia Piauiense de Letras e já foi indicado por mais de uma vez para a Academia Brasileira de Letras.

Em 1950 passou a atuar no serviço público. Foi chefe do setor de Publicidade do Conselho Nacional de Geografia; assessor do Presidente da Comissão Federal de Abastecimento e Preços; diretor do Departamento de Geografia e Estatística da Prefeitura do Distrito Federal. Durante o governo Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro, Júlio foi responsável pelo levantamento da estatística econômica e pela política administrativa do estado da Guanabara.

O Rio de Janeiro reconheceu o trabalho de Júlio Romão concedendo-lhe cidadania carioca e dando seu nome a uma das ruas do bairro Méier, na capital daquele Estado, através do projeto de Lei n° 2.158 de 1966.

Júlio Romão é um importante escritor vivo da história brasileira. Este piauiense atuou em um cenário político de governos centralizadores e de uma cultura de contestação intensa presente na literatura, música, teatro e no jornalismo. A história de Júlio Romão possui episódios de embate com o regime ditatorial e de auto afirmação como negro em uma sociedade racista.
Em 1988, Romão voltou a residir em Teresina, após 53 anos no Rio de Janeiro. Hoje, Júlio Romão da Silva é aposentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É membro da Sociedade Brasileira de Geografia e da Associação Brasileira de Geografia e da Associação Brasileira de Imprensa e ainda escreve artigos para jornais e tem projetos de escrever novos livros.