Carta: Em defesa de um Correio Público e de Qualidade!

Em Assembleias realizadas nos municípios de Natal e Mossoró, os trabalhadores dos Correios no Rio Grande do Norte decretaram, por unanimidade, greve de 24 horas a partir das 0h desta quarta-feira, 26. A paralisação foi motivada pelo não cumprimento da Cláusula 17 do Acordo Coletivo de Trabalho 2009/2011. Reproduzimos na íntegra a carta dirigida à população norte-rio-grandense.

Hoje (26 de maio), nós, trabalhadores e trabalhadoras dos Correios, estamos paralisando as atividades em todo o Brasil. Tomamos esta iniciativa para chamar a atenção da sociedade para as precárias condições trabalho a que temos sido submetidos. Da mesma forma, queremos esclarecer os reais motivos dos atrasos nas entregas e identificar os verdadeiros responsáveis por esta situação. Somos trabalhadores conscientes da importância dos serviços postais, do papel estratégico que a ECT desempenha para o desenvolvimento econômico, social e cultural do País, e queremos o melhor para a Empresa. Mas, infelizmente, nem todos pensam assim.

Não faz muito tempo, a ECT gozava de grande respeito e prestígio. A marca CORREIOS era reconhecida como verdadeiro patrimônio nacional. Há três anos, em uma pesquisa realizada por um instituto internacional, com sede em Nova Iorque, a ECT chegou a figurar entre as 50 empresas mais respeitadas do mundo e entre as cinco mais confiáveis do Brasil. Em outra pesquisa, mais recente, abrangendo 27 países, em seis continentes, a Empresa figurou entre as 50 de melhor reputação, sendo a primeira, entre as empresas de correios. No entanto, nos últimos anos esta situação se modificou rapidamente. Atrasos na entrega de correspondências, documentos e objetos postais passaram a ser freqüentes, gerando grande descontentamento e insatisfação por parte de usuários e clientes. Paralelamente, as condições de trabalho na Empresa foram se deteriorando e os trabalhadores passaram a acumular intensa sobrecarga. O que aconteceu, afinal?

1. Monopólio Postal ameaçado

A crise econômica internacional fez com que os grandes capitalistas voltassem os olhos para a atividade postal. Em todo o mundo, esse mercado chega a movimentar centenas de bilhões de dólares por ano, e é operado, na grande maioria dos países, em regime de monopólio, por empresas públicas, como ocorre no Brasil. Nos últimos anos, os capitalistas têm trabalhado intensamente pela quebra do monopólio postal: querem ingressar neste mercado, arrebatando a maior parte dos lucros, mas sem as preocupações sociais de uma Empresa Estatal como a ECT.

2. Como quebrar o monopólio?

De olho nesse mercado, os grandes grupos capitalistas, nacionais e estrangeiros, atacam em duas frentes. Pela via legal, no Congresso Nacional, e diretamente sobre a Empresa, forçando a sua privatização, por meio da abertura de capital. Atualmente, as duas estratégias estão em andamento. No Congresso, tramita um Projeto de Lei que acaba com o monopólio postal (PLC nº. 3677/08). Já, no Ministério das Comunicações, um Grupo de Trabalho, que não contou com qualquer participação dos trabalhadores ou de representantes da sociedade, preparou uma proposta que visa transformar a ECT em S/A.

3. E o que justificaria a quebra do monopólio?

É aí que reside o X da questão. Como não havia argumentos que justificassem a necessidade de quebra do monopólio ou de privatização da ECT, era necessário criá-los. Afinal, até há pouco tempo, a Empresa era considerada um modelo de eficiência e organização. Portanto, para quebrar o monopólio postal ou privatizar a ECT, sem que isso gerasse maiores resistências, era preciso criar um ambiente de descontentamento; de insatisfação com a qualidade dos serviços prestados pela Empresa. E é exatamente o que está acontecendo. Uma precarização deliberada, forçada pela Direção Nacional da ECT.

4. Como se dá essa precarização?

Imposição de condições de trabalho insatisfatórias, com baixos salários e efetivos reduzidos, gerando intensa sobrecarga para os empregados, filas nas agências e atrasos constantes nas entregas domiciliares em todo o Brasil. Pressionada pelos trabalhadores, a direção da ECT abriu inscrições para a realização de um concurso público. Mais de um milhão de pessoas se inscreveram, mas, um ano depois, nem sequer as datas das provas foram divulgadas. E o pior. Nesse período, a Empresa abriu um Plano de Demissão Voluntária a que milhares de trabalhadores aderiram, agravando ainda mais a situação.

5. Quais as conseqüências da quebra do monopólio?

Em nosso país, os Correios estão presentes em todos os municípios, fazendo a entrega de objetos postais com tarifas abaixo dos valores de mercado, em todo o território nacional. Isto só é possível porque o lucro obtido pela ECT nos grandes centros urbanos subsidia os custos que a Empresa tem que arcar para poder atender aos municípios pequenos e mais distantes. Nenhuma empresa privada ousaria fazer o mesmo, com os preços cobrados pela ECT, porque elas têm por objetivo central o lucro. O interesse dessas empresas é ficar com o "filé" do mercado, penalizando usuários que ficarão sem atendimento adequado em diversas localidades.

6. Mas, afinal, quem são os responsáveis por essa situação?

Por este caos, nós responsabilizamos o atual presidente da ECT, Carlos Henrique Custódio, e o Diretor de Recursos Humanos, Pedro Bífano, que nem sequer pertencem aos quadros da Empresa. Ambos estão cientes dos problemas enfrentados pelos trabalhadores e nada fazem, jogando a responsabilidade pela queda da qualidade dos serviços sobre os ombros dos carteiros e atendentes. Estes, inclusive, estão sendo agredidos verbalmente e fisicamente por alguns clientes, que ainda não compreenderam as causas da situação.

7. E o que a população pode fazer?

Diante deste cenário, nós, trabalhadores e trabalhadoras da ECT, pedimos a solidariedade da população ao nosso movimento, enviando uma mensagem de apoio a essa luta e pela exoneração do presidente da ECT, Carlos Henrique Custódio, e do Diretor de Recursos Humanos, Pedro Bífano, para a Presidência da República ([email protected]). Você também pode ajudar divulgando essas informações e denunciando irregularidades. Os trabalhadores dos Correios do Rio Grande do Norte agradecem o apoio à luta por um Correio Público e de Qualidade.

 

SINDICATO DOS TRABALHADORES DA EMPRESA
BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS DO RIO
GRANDE DO NORTE – SINTECT/RN