Mais uma decisão que afronta a vontade e os interesses da nação
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou na noite desta quarta-feira um novo aumento, de 0,75%, das taxas básicas de juros – Selic, que subiu a 10,25%. A notícia agradou o sistema financeiro, beneficiário da política monetária conservadora do BC, mas mereceu duras críticas de representantes dos trabalhadores e de líderes empresariais da indústria, comércio e agropecuária.
Publicado 09/06/2010 20:54
“É uma decisão que afronta a vontade e os interesses da nação”, afirmou o presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Wagner Gomes. “Querem segurar o crescimento do Brasil, impedir o aumento do emprego, dos salários e dos direitos sociais. É inaceitável, precisamos mudar a política econômica neste terreno. É uma vergonha para a nação continuar ostentando o título de campeão mundial dos juros altos”, complementou.
Insanidade
Em nota divulgada logo após o anúncio do Copom, o presidente da CUT, Artur Henrique, acusou o Banco Central de fazer uma “política assistencialista para banqueiros”. O sindicalista alerta que se ocorrerem novas rodadas de alta dos juros e a Selic avançar para 11,75% como prevê o “mercado” o Brasil gastará mais 13 bilhões de reais “com a rolagem da dívida”.
A Força Sindical também divulgou nota, assinada pelo presidente em exercício, Miguel Torres, assinalando que “os tecnocratas do BC torcem contra o crescimento do Brasil” e classificando a decisão de “insanidade”. No mesmo diapasão, a Federação da Indústria de São Paulo (Fiesp), condenou a decisão, considerando que “o ciclo de aumento na taxa básica de juros (Selic) contraria a lógica dos números da economia brasileira e prejudica o desenvolvimento, incluindo o aspecto relevante da geração de empregos”.
O novo patamar dos juros mantém o país no primeiro lugar no ranking mundial dos juros reais, agora bem à frente dos demais países. Entre as consequências funestas da medida, adotada com o objetivo declarado de conter o crescimento econômico (e destinada, na realidade, a contemplar os interesses da oligarquia financeira), destaca-se o aumento da dívida pública e dos recursos públicos que serão destinados ao pagamento dos juros, que configuram uma perversa redistribuição da renda nacional em benefício dos rentistas. Ao lado disto, é de se esperar uma redução do consumo e dos investimentos, com a elevação do spread bancário e dos juros a empresas e indivíduos.
Leia as notas da CUT, Força Sindical e Fiesp sobre a decisão do Copom:
CUT: BC faz política assistencialista para banqueiros
Desestimular os investimentos produtivos e prejudicar fortemente as contas públicas. Foi isso que o Conselho de Política Monetária fez nesta quarta-feira. Mereceriam elogios por causa disso? De nossa parte, certamente não.
Trata-se claramente de uma política assistencialista para banqueiros.
E ainda existe uma forte pressão por parte do setor financeiro e seus representantes para que esse ciclo de aumento da taxa básica de juros permaneça. Pelos cálculos do economista Amir Khair, se a taxa chegar a 11,75% até o final deste ano, o Brasil gastará a mais com a rolagem da dívida o equivalente a R$ 13 bilhões.
Contra a decisão do Banco Central e seu Copom há ainda outro fato: IPCA de maio em queda, o que indica inflação domesticada. Quanto ao bem-vindo PIB do primeiro trimestre deste ano, antes que seja usado como argumento a favor da decisão de hoje, devemos lembrar que no ano passado, base de comparação, houve recuo no crescimento. Por causa, inclusive, dessa política assistencialista para banqueiros.
Artur Henrique, presidente nacional da CUT
Força Sindical: O Copom torce contra o crescimento do Brasil
A decisão equivocada é um balde de água fria na aquecida economia brasileira, que demonstrou recentemente, através do PIB, uma imensa capacidade para o crescimento com geração de emprego e renda. Os tecnocratas do Banco Central torcem contra o crescimento econômico do Brasil.
É uma insanidade a decisão dos membros do Copom em aumentar a taxa básica de juros. Lamentamos a insistência dos tecnocratas em travar o crescimento, utilizando métodos para conter supostas pressões inflacionárias que são perversos para com os trabalhadores.
É frustrante, neste momento auspicioso da nossa economia, presenciarmos o Banco Central tomar medidas nefastas como esta, com o intuito de frear a produção e o consumo, e bajular os eventuais especuladores. Aliás, estamos virando um paraíso para os especuladores.
Miguel Torres, Presidente em exercício da Força Sindical
Fiesp: Copom contraria a lógica e mais uma vez aumenta a taxa básica de juros
Mesmo contrariando opiniões, mantemos hasteada nossa bandeira em defesa de juros mais baixos, diz Benjamin Steinbruch, presidente em exercício da Fiesp
Nada diferente do esperado. A reunião desta quarta-feira (9) do Copom, pela segunda vez consecutiva este ano, elevou a taxa Selic como, aliás, já previam as expectativas de mercado.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de maneira recorrente, tem afirmado que os primeiros meses de 2010 trouxeram alguma pressão inflacionária apenas em razão de ajustes pontuais e sazonais, como mensalidades escolares, passagens de ônibus, produtos in natura e álcool.
Diante dessa constatação, todos nós sabemos que após esse conhecido período de naturais ajustes os preços voltam à normalidade. E isso já se confirma: o IPC-Fipe mensal fechou maio/2010 em 0,22%, contra 0,39% em abril deste mesmo ano.
Já o IPCA registrou inflação mensal de 0,43% em maio/2010, depois de ter alcançado 0,78% em fevereiro passado, e está com expectativa de fechar este mês de junho em torno dos 0,30%. Segundo o IBGE, órgão do próprio governo, a inflação oficial de maio deste ano é a menor de 2010.
Ou seja, os preços estão se comportando sem altas significativas mesmo antes do primeiro aumento da Selic ter ocasionado efeito na atividade produtiva. Por outro lado, mesmo essas pressões localizadas de preços já sofrem processo de dissipação, o que nos leva a contestar a conservadora política monetária praticada no País.
Além disso, os números mais recentes do PIB apontam um crescimento de aproximadamente 26% dos investimentos, no acumulado dos últimos quatro trimestres, indicando confiança dos empresários na sua capacidade de atender ao crescimento salutar da demanda brasileira.
Diante desse cenário, a Fiesp continua, responsavelmente, argumentando que o ciclo de aumentos na taxa básica de juros (Selic) contraria a lógica dos números da economia brasileira e prejudica o desenvolvimento, incluindo o aspecto relevante da geração de empregos.
“Mesmo contrariando opiniões, mantemos hasteada a nossa bandeira em defesa de juros mais baixos, além de redução da carga tributária e outras reformas estruturais tão necessárias para o crescimento econômico do País”, afirma Benjamin Steinbruch, presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
Da redação, Umberto Martins