Greve vitoriosa dos rodoviários

Os rodoviários do Distrito Federal decidiram, na manhã de quinta-feira, dia 24, finalizar a greve que realizavam desde segunda, 21. A categoria conseguiu aumento salarial de 9%, tíquetes de alimentação e a renovação do acordo coletivo. Os empresários tentaram usar o movimento para garantir aumento dos preços das tarifas, já caras.

Rodoviários DF

Os rodoviários ainda conquistaram a garantia de que não terão o ponto cortado e não serão demitidos pelos quatro dias de paralisação. De acordo com João Osório, presidente do Sindicato dos Rodoviários, "depois de muito embate, conseguimos chegar a um resultado positivo, um aumento no salário retroativo à 1º de maio". Os motoristas e cobradores queriam aumento de 20%, renovação do acordo que prevê tíquete alimentação de R$ 256, cesta básica de R$ 103 e a manutenção da jornada de trabalho de seis horas.

Durante a paralisação, os transportes clandestinos tomaram conta das ruas do Distrito Federal. A população amargou a falta de ônibus. Desservido pelo que é considerado um dos piores serviços de transporte público do país, o povo brasiliense ainda sofreu com o serviço clandestino, que cobrou de R$ 2 a R$ 20, dependendo da distância percorrida. Detalhe: de clandestino esse serviço nada teve, pois foi liberado pela fiscalização. Quem depende do transporte público se viu obrigado a entrar em um carro irregular.

Os trabalhadores não tiveram condução para ir ao seu ganha-pão; os estudantes não tiveram como chegar às escolas; os que precisavam de atendimento de saúde ficaram isolados em suas residências. Pelo menos 600 mil pessoas ficaram, diariamente, prejudicadas com a paralisação, que na verdade transtornou a vida de todo o Distrito Federal.

O impasse se deu entre os empresários e os rodoviários, já que o transporte é privado, visa o lucro e não o atendimento às necessidades de locomoção dos cidadãos. O governador Rogério Rosso, do PMDB, solicitou as planilhas das empresas de transporte para fazer uma análise sobre a alegação dos empresários de que o reajuste só seria possível em caso de aumento das tarifas do transporte público.

O Tribunal Regional do Trabalho, em vez de buscar uma solução, adotou a punição: multou o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários e ainda aumentou o valor da multa diária, responsabilizando-os pelo não funcionamento 60% da frota – essa exigência é a proibição, na prática, da greve, direito constitucionalmente garantido. Mesmo assim, o presidente do sindicato informou que a direção da entidade esteve nas portas das garagens e não havia funcionários suficientes para cumprir a liminar. Ele reclamou que os empresários não colocaram o serviço noturno especial para que condutores, cobradores e demais profissionais chegassem às garagens. De seu lado, o representante dos empresários, Wagner Canhedo, disse que preferia aguardar os acontecimentos e pressionou pela majoração das tarifas para R$ 4,25! Isso quando o DEM está reclamando porque o governo Lula acena, no Orçamento enviado ao Congresso, com o aumento do salário mínimo para até R$ 550,00 mensais no ano que vem!

Acrescente-se ao drama agora vivido pela população devido à greve, o sofrimento dos estudantes, que não têm conseguido validar seus passes escolares por problemas financeiros e administrativos entre o Governo do Distrito Federal e a empresa Fácil, que gerencia o passe livre. Essa empresa está sendo investigada pela Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal – a mesma operação que levou à prisão do ex-governador José Roberto Arruda (ex-DEM). Detalhe que demonstra a concentração de poderes e a subordinação do interesse público aos interesses empresariais: a empresa Fácil é dirigida pelo senhor Wagner Canhedo.

O transporte em Brasília é ruim. E transporte ruim significa demora de trajeto, mais carros nas ruas, mais poluição e piora na qualidade de vida. No Distrito Federal o grosso da economia se concentra no Plano Piloto e a maioria dos trabalhadores depende do transporte público. O descaso com que o setor foi tratado pela gestão DEM beirou a desumanidade. Enquanto o problema for tratado como questão meramente mercadológica a situação só se agravará.

Régia Vitória e Carlos Pompe, de Brasília