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Por que ver "A Origem" quando estrear

Os primeiros elogiam sua capacidade de lidar com temas complexos da mente humana em filmes inquestionavelmente bem escritos e montados. Nolan é capaz de criar quebra-cabeças psicológicos tão bem que tem gente que o compara a Alfred Hitchcok – exagero (ou não) que só poderá ser comprovado com o passar dos anos.

Por Leonardo Carvalho, em UOL

Os primeiros elogiam sua capacidade de lidar com temas complexos da mente humana em filmes inquestionavelmente bem escritos e montados. Nolan é capaz de criar quebra-cabeças psicológicos tão bem que tem gente que o compara a Alfred Hitchcok – exagero (ou não) que só poderá ser comprovado com o passar dos anos.

Os últimos o idolatram por ter conseguido tirar Batman do limbo cinematográfico onde tinha sido jogado por Batman & Robin. Mais do que isso, Nolan entregou um filme de superheroi que tanto fãs quanto críticos e gente que nem se importava com o personagem considera como um trabalho de qualidade indiscutível.

Os anos que o separam da confecção do próximo episódio da saga do Homem Morcego foram preenchidos com a produção de um filme que tanto envolto em mistério quanto em antecipação. O falatório em torno A Origem (Inception) na mídia do dia em que a primeira notícia apareceu até sua estreia (estrondosa, diga-se) nos EUA só é comparável com a grande interrogação que estampou os rostos dos jornalistas presentes na exibição para a imprensa na sala IMAX em SP deste dia 27 de julho. Uma interrogação diferente, meio esmaecida, daquelas que vão ganhando forma conforme você toma consciência do que acabou de acontecer diante dos seus olhos.

Durante 140 minutos, Nolan brincou com o nosso subconsciente e com nosso inconsciente perguntando o que é realidade e o que é sonho e se somos capazes de discernir entre as duas coisas. A pergunta é feita sem palavrório filosófico, não há um guru à la Morpheus ensinando um jovem a pular prédios. O papel do sonho no filme é prático, mas não simplório: é uma porta de entrada para quem quer roubar segredos. Mais além, é o lugar perfeito para transformar uma pessoa.

Dom Cobb( Leo di Caprio) é um ladrão de segredos industriais que usa o sonho de megaempresários como cena do crime. Usa uma tecnologia que permite que ele navegue pelo subconsciente das suas vítimas e obtenha o que precisa. Antes de se tornar um criminoso, foi aluno brilhante de um professor (Michael Caine) que ensinava a arquitetura do sonho e como ela podia ser manipulada. Era casado, tinha dois filhos. Se perdeu nos sonhos dos outros, e nos seus próprios.

Nolan conta essa história sem pirotecnia tecnológica. Recusou-se a filmar em 3D ou a fazer a conversão do filme depois de pronto. Abraçou a história – desenvolvida desde os seus 16 anos, segundo a história oficial – e apostou em efeitos visuais mais do que em computação gráfica. O resultado é soberbo, consistente e convincente.

Em última instância A Origem é a prova de que Hollywood pode se beneficiar muito mais de uma boa história do que de novas tecnologias. É escapismo: foge-se dessa nossa realidade em que blockbusters dependem apenas de efeitos especiais e de que bons filmes dependem de verborragia pseudointelectual. É um híbrido, uma nova linhagem que traz sim ação vertiginosa mas não despreza questionamentos humanos sobre a vida e a morte e aquilo que está dentro de nós, vivos, no meio disso tudo.