Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula comemora 10 anos

O projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, criado pelo poeta Arievaldo Viana, completa dez anos de atividades e com balanço positivo.

Capa Acorda Cordel

Nos versos de Tonico Marreiro, o reconhecimento:

Arievaldo Viana
Agora, esta cidade,
Da cultura se ufana
Porque, na realidade,
Caiu a sopa no mel,
Na escola tem cordel
Parabéns pra Caridade!

Rouxinol do Rinaré também usa as rimas para exaltar o projeto:

A de Acorda Cordel
Um projeto de respaldo
Dentro da sala de aula
A Educação tem saldo
Pra aluno e professor…
Seu idealizador
É o vate Arievaldo!!!

O projeto Acorda Cordel, idealizado pelo cordelista Arievaldo Viana, começou ainda em 2002, através de palestras em salas de aula para alunos, professores e arte-educadores que se interessam pela difusão da poesia popular em classe.

A partir de 2002 o projeto ganhou novo impulso com a adesão da Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Canindé, que o adotou em aulas do EJA (Educação de Jovens e Adultos). O então secretário de Educação do município, Celso Crisóstomo, financiou a publicação de uma caixa contendo 12 folhetos que foi distribuída gratuitamente entre professores do município e alunos concludentes do curso de alfabetização.

Após participar de um grande encontro realizado em Brasília, com as participações do cartunista Ziraldo, da atriz Lucélia Santos e do cineasta Nélson Pereira dos Santos, Arievaldo Viana lançou oficialmente a sua ideia e encantou a plateia de mais de 3 mil pessoas com a declamação de “A Gramática em Cordel”, do poeta cearense Zé Maria de Fortaleza.

A partir daí, surgiram muitos convites para realização de palestras e oficinas pelo Brasil afora. Arievaldo Viana, Rouxinol do Rinaré, Zé Maria de Fortaleza, Klévisson Viana, Geraldo Amâncio e outros integrantes do projeto já percorreram mais de dez estados brasileiros difundindo o uso do cordel como ferramenta paradidática nas escolas. O projeto Acorda Cordel já visitou cidades como Palmas (TO), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Uberlândia (MG), Recife (PE), Campina Grande (PB), Mossoró (RN) e dezenas de municípios do Estado do Ceará.

O projeto coletivo Corda Cordel já tem grande repercussão, até nacional. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, de imediato deu grande apoio à iniciativa divulgando-a amplamente em suas antologias e nas sessões realizadas Brasil afora.

Com a realização do I Encontro de Poetas Populares e Cordelistas em Brasília, que contou com a presença do Presidente Lula, a adoção da Literatura de Cordel como ferramenta auxiliar no ensino ganhou mais visibilidade, uma vez que projetos similares vêm sendo desenvolvidos em outros estados, com poetas como Manoel Monteiro (Paraíba) e Pedro Costa (Piauí).

Outro advento importante foi o lançamento da coleção “Baião das Letras”, lançada em 2007 pelo Governo do Estado do Ceará, incluído três textos de cordel no formato “cordelivro” ilustrado. A ideia foi prontamente absorvida por várias editoras. Hoje mais de 20 editoras do Nordeste e do Sudeste se interessam pela publicação de cordeis em formato de livros ilustrados. Muitos deles já foram adotados oficialmente pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) através do Programa Nacional da Biblioteca Escolar. É o caso de “A raposa e o canção” e “A ambição de Macbeth”, de Arievaldo Viana.

Novos caminhos

No início do próximo mês de agosto, entre os dias 05 e 07, Arievaldo Viana estará em Mossoró (RN) realizando uma capacitação para cerca de 60 professores da rede pública de ensino. A parceria entre a Secretaria de Educação do município e o cordelista surge com a intenção de popularizar o cordel e utilizá-lo como ferramenta de educação. “Temos convicção de que o cordel estimula o hábito da leitura. Hoje, percebemos que tanto os jovens quanto as crianças não costumar ler como deveriam”, avalia.

Segundo Arievaldo, o cordel facilita o processo de alfabetização por usar essencialmente uma linguagem simples e de fácil alcance. “Todo mundo se interessa pelo cordel. Todas as faixas etárias aceitam bem a linguagem popular”, ratifica.

Cultura Secular

A poesia popular impressa, denominada Literatura de Cordel, é uma das mais legítimas expressões culturais do povo nordestino. Desde que surgiram os primeiros folhetos impressos, no último quartel do Século XIX, a Literatura de Cordel tem sido uma poderosa ferramenta de alfabetização e incentivo à leitura junto às populações carentes do Nordeste. Nas últimas décadas, o Cordel esteve ameaçado de extinção pelo fechamento de várias editoras e o falecimento de vários poetas.

Mais sobre Arievaldo Viana

Natural de Quixeramobim (CE), Ari foi alfabetizado pela avó Alzira de Sousa Lima em 1974, com o valioso auxílio da Literatura de Cordel. É o criador do Projeto que dá nome ao livro, que utiliza a poesia popular na educação. No início da década de 1980, Arievaldo mudou-se para a cidade de Canindé, onde começou a escrever os seus primeiros folhetos, alguns em parceria com os poetas Pedro Paulo Paulino e Gonzaga Vieira.

Arievaldo Viana é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, na qual ocupa a cadeira de nº 40, patronímica de João Melchíades Ferreira. Autor de mais de 100 folhetos e diversos livros: O Baú da Gaiatice, São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel, A Raposa e o Cancão, O Bicho Folharal, O Pavão Misterioso (com Jô Oliveira), A ambição de Macbeth (ed. CORTEZ, PNBE 2009), dentre outros.

No livro Acorda Cordel, 112 páginas, ilustrado com xilogravuras de vários autores, a temática vai desde a origem do cordel, aos dias de hoje quando aconteceu sua revitalização – as principais modalidades, técnicas, contagens das sílabas, exercícios e atividades escolares baseadas no cordel. É um trabalho para ser lido pelos admiradores, por estudantes e pelos próprios cordelistas.

De Fortaleza,
Carolina Campos (com informações do site Queima-Bucha)