Milton Gomes: Educação de Jovens e Adultos x Desistência
O presidente do PCdoB em Palmas Tocantins, Milton Gomes, escreve sobre os problemas enfrentados na educação na capital mais jovem do Brasil.
Publicado 26/08/2010 16:21 | Editado 04/03/2020 17:21
Esse trabalho tem o objetivo de conhecer o alto índice de desistência dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, da Escola Municipal Luiz Gonzaga na cidade de Palmas no Estado do TO, e pesquisar a trajetória escolar dos educando que é motivo de preocupação para a comunidade escolar, tendo em vista, que é notório, durante o semestre letivo as turmas terminarem o semestre letivo com menos da metade dos discentes que começaram. No entanto, esse alto índice de desistência tem causado transtorno para equipe gestora e professores, devido a dificuldade do planejamento com a EJA.
“Construir uma EJA que produza seus processos pedagógicos, considerando quem são esses sujeitos, implica pensar sobre as possibilidades de transformar a escola que os atende em uma instituição aberta, que valorize seus interesses, conhecimentos e expectativas; que favoreça a sua participação; que respeite seus direitos em práticas e não somente em enunciados de programas e conteúdos; que se proponha a motivar, mobilizar e desenvolver conhecimentos que partam da vida desses sujeitos; que demonstre interesse por eles como cidadãos e não somente como objetos de aprendizagem. A escola, sem dúvida, terá mais sucesso como instituição flexível, com novos modelos de avaliação e sistemas de convivência, que considerem a diversidade da condição do aluno de EJA, atendendo às dimensões do desenvolvimento, acompanhando e facilitando um projeto de vida, desenvolvendo o sentido de pertencimento.” (ANDRADE, 2006).
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos; EJA; Expectativas de vida; Processo de Aprendizagem; Desistência escolar.
2. INTRODUÇÃO
Visão de Futuro da Escola – Realizaremos nosso trabalho de maneira eficaz, segura e responsável, respeitando e valorizando nossos alunos, pais, colaboradores e comunidade. (Jornal O Gonzagão 2ª edição)
Missão da Escola – Nossa missão é contribuir para a melhoria das condições educacionais da população, assegurada a universalidade e equidade na prestação de serviços, visando a busca constante na experiência nos serviços prestados. (Jornal O Gonzagão 2ª edição)
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Seção I, Art. 205.
A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Seção V Art. 37.
A coleta e sistematização dos dados coletados nesta pesquisa, possibilitarão à escola Municipal Luiz Gonzaga ter um panorama geral dos cursos oferecidos na EJA, diagnosticando o número total de estudantes desistentes, bem como os problemas que afetam os alunos e a comunidade em que atuamos e quais as reais necessidades de assessoramento técnico e ou pedagógico para atuarmos nesses índices de desistência.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) cresceu bastante na última década, tanto no campo da alfabetização, da escolarização de adultos que não concluíram o ensino fundamental e ou o ensino médio, como também na formação profissional voltada à qualificação e requalificação para o trabalho.
Apesar de todos esses fatores, nos deparamos cotidianamente com problemas educacionais, dentre eles a desistência escolar que se tornou um desafio a ser considerado na escola em que atuo. Quero aqui justificar minha proposição de trabalhar com desistência, abandono da escola pelo aluno durante o ano letivo.
A questão educacional não pode proceder de forma abstrata, imprecisa, genérica, desvinculada do contexto histórico-social e existencial do educando. Ao pensarmos educação, devemos antes de qualquer coisa compreendê-la a partir da concepção de homem que devemos formar. O conteúdo dessa educação deve emergir das condições materiais e existenciais das massas populares, e possuía uma visão positiva a respeito das massas populares, concebendo-as como construtoras do processo de desenvolvimento nacional. Existem lacunas ainda na educação pelo fato de que tradicionalmente os programas voltados à educação de adultos muitas vezes os tem tratado como crianças, utilizando materiais didáticos, metodologias e práticas que não condizem com as especificidades desta faixa etária. Nesse sentido, o ato de educar para o desenvolvimento não se reduz à transmissão de conteúdos particulares de conhecimento, nem tampouco o ensino de determinadas matérias; é muito mais do que isto, pois se trata de preparar o educando para um novo modo de pensar e de sentir a existência em face das condições sociais com que se defronta; é dar-lhe a consciência de sua constante relação com comunidade, país e mundo, e que todo o seu saber deve contribuir para o empenho coletivo de transformação da realidade. (PINTO, 2007).
Nesse sentido essa pesquisa busca entender os motivos que levam os educandos da EJA, a desistirem frequentemente da educação, pois não cabe a nós julgar, mas, procurar entender, para juntos traçarmos caminhos que nos norteiem a solucionar o problema da desistência da escola supracitada.
Entre os prováveis motivos desta ocorrência encontram-se, fatores sócio/ econômicos bem como fatores ideológicos presentes no contexto escolar e social, autoestima dos alunos, políticas educacionais inadequadas à real necessidade educacional do nosso país direcionadas à educação de jovens e adultos, carências na formação pedagógico por parte do corpo docente. Estes fatores supracitados influenciam literalmente na desistência escolar.
Foram ofertadas em 2009/01 e 2009/02, 561 vagas distribuídas em 14 turmas (noturno) em 02 semestres, mediante ingresso dos candidatos na EJA por meio matricula na secretaria da escola. No ano de 2007/02, ingressaram no EJA 226 alunos no segundo semestre em 06 turmas de 2º segmento. E no ano de 2008/01, ingressaram no EJA 290 alunos no primeiro semestre em 05 turmas de 2º segmento. Observou-se, no entanto, que grande parte desses alunos desistiram do curso nesse mesmo período.
Foram coletados dados, por meio de uma pesquisa de campo feita na escola, no ano de 2009, onde pôde-se constatar dados que apresentaram números de desistências de alunos matriculados na EJA, que não conseguiram êxito no curso.
Esta pesquisa poderá iniciar uma política institucional, visando promover medidas de permanência e êxito dos discentes na EJA da Escola Municipal Luiz Gonzaga. No entanto a apresentação da pesquisa a comunidade escolar, será relatar as causas que levam os educando a desistirem da vida escolar, bem como conhecer os motivos desta desistência, a realidade social, econômica. Com isso, entendo, que, decorrentes inquietações no sentido de conhecer os motivos que levaram os educandos a desistirem do curso que iniciaram, necessitem de serem criados mecanismos de investigação, para entender essa realidade e agir efetivamente dentro dela. Possibilitando assim, mecanismos norteadores para ações pedagógicas, adequadas aos jovens e adultos da EJA.
O objetivo geral deste trabalho, é verificar as causas da desistência escolar entre os alunos da EJA. Oportunamente, os objetivos específicos são: identificar os alunos desistentes; averiguar o perfil sócio econômico dos alunos da EJA; investigar os motivos da desistência de estudantes da EJA.
Conforme levantamento de dados realizado na Secretaria da Escola, dos alunos da EJA que desistiram de concluir o curso do 2º segmento em 2007/02 e 2008/01. Foi desenvolvida esta pesquisa com 87 alunos que estão matriculados e frequentado a EJA no 2º semestre de 2009, utilizando-se a aplicação de um questionário específico para a categoria, conforme gráficos em anexos.
Nos questionários procurou-se investigar os motivos que levaram os alunos a desistirem da EJA, o perfil dos pesquisados, as dificuldades pedagógicas, qualidade do ensino oferecido, avaliação da escola, relacionamento interpessoal entre professor e aluno e as questões sociais dos alunos desistentes.
Percebe-se, portanto, que a desistência escolar caracteriza-se como um problema social, que deve ser combatida desde a inserção do educando na vida escolar. A educação de Jovens e Adultos, apresenta-se como uma questão ampla e complexa, que não será resolvida somente em nível de decisões governamentais, mas, exige o engajamento de todas as pessoas envolvidas que acreditam no potencial humanizador e transformador da educação, oportunizando a inserção critica e participativa de seus usuários.
3. DESISTÊNCIA ESCOLAR
São várias e as mais diversas as causas da evasão escolar ou infreqüência do aluno. No entanto, levando-se em consideração os fatores determinantes da ocorrência do fenômeno, pode-se classificá-las, agrupando-as, da seguinte maneira:
· Escol: não atrativa, autoritária, professores despreparados, insuficiente, ausência de motivação, etc.
· Aluno: desinteressado, indisciplinado, com problema de saúde, gravidez, etc.
· Social: trabalho com incompatibilidade de horário para os estudos, agressão entre os alunos, violência em relação a gangues, etc.
Estas causas, como já afirmado, são concorrentes e não exclusivas, ou seja, a evasão escolar se verifica em razão da somatória de vários fatores e não necessariamente de um especificamente. Detectar o problema e enfrentá-lo é a melhor maneira para proporcionar o retorno efetivo do aluno à escola (PEREIRA, 2003).
A pesquisa realizada na Escola Luiz Gonzaga, mostra que a quantidade de alunos que desistem da escola e retornam a ela é muito grande, e os motivos são os mais variados desde desinteresse, problemas financeiros entre outros, essa pesquisa foi realizada na Secretaria da Escola através de consulta a documentos arquivados (diários escolar), na tabela abaixo mostra a situação de desistentes entre os alunos matriculados em 2007/02 e 2008/01. os dados encontrados constam no anexo 1
TABELA 1
TURMA/SEMESTRE/ANO/SÉRIE |
MATRICULADOS |
DESISTENTES |
250 2º S. 2007 – 5ª |
44 |
25 |
260 2º S. 2007 – 6ª |
54 |
26 |
270 2º S. 2007 – 7ª |
26 |
07 |
271 2º S. 2007 – 7ª |
29 |
10 |
280 2º S. 2007 – 8ª |
29 |
11 |
281 2º S. 2007 – 8ª |
44 |
08 |
2º Semestre de 2007, Total Mat. |
226 |
87 |
150 1º S. 2008 – 5ª |
63 |
22 |
160 1º S. 2008 – 6ª |
60 |
19 |
170 1º S. 2008 – 7ª |
48 |
08 |
171 1º S. 2008 – 7ª |
58 |
17 |
180 1º S. 2008 – 8ª |
61 |
12 |
1º Semestre de 2008, Total Mat. |
290 |
78 |
Desses dados chegaram-se as seguintes porcentagens: no 2º semestre de 2007, 38% dos alunos matriculados desistiram antes do termino do semestre letivo e no 1º semestre de 2008, 27%, desistiram antes do termino do semestre letivo, o que segundo dados do IBGE, fica abaixo da média nacional que é de 42%.
A pesquisa realizada com alunos matriculados no segundo semestre de 2009 e que estão freqüentado aponta as principais causas dessas desistências. Essa pesquisa foi realizada em sala de aula com alunos do segundo segmento do ensino fundamental turmas de 5ª. 6ª, 7ª e 8ª serie.
Neste item serão analisados e discutidos os resultados obtidos através de pesquisa aplicada entre alunos matriculados EJA no segundo semestre de 2009, o questionário foi aplicado entre os dias 04 e 09 de novembro de 2009. .
5. APRESENTAÇÃO DOS DADOS PESQUISADOS
Na tabela 2, demonstrarar quantas vezes o aluno iniciou a EJA e o nº. de desistência. Nesta coleta de dados foram entrevistados 87 alunos que responderam essa questão, ficando assim a amostragem.
TABELA 2
Alternativas |
Nº. de alunos |
Nunca Desistiu |
52 |
Desistiu 1 vez |
14 |
Desistiu 2 vezes |
15 |
Desistiu 3 vezes |
4 |
Desistiu 4 vezes |
1 |
Desistiu + de 4 vezes |
1 |
Os dados nos mostram que sessenta porcento dos alunos matriculados nunca desistiram de estudar enquanto que quarenta porcento dos mesmos já desistiram e retornaram de novo à sala de aula. Estes dados poderão ser visualizados no anexo 2 deste trabalho no Gráfico 14.
Na tabela 3, demonstrarar quais os motivos que levaram o aluno a desistir da EJA. A amostragem.
TABELA 3
Alternativas |
Nº. de alunos |
Dificuldade com leitura |
1 |
Desinteresse |
5 |
Problemas Financeiros |
2 |
Problemas na Escola |
0 |
Média Baixa |
10 |
Problemas Particulares |
17 |
Não se manifestou |
52 |
Podemos verificar que nessa amostragem os alunos manifestaram que o que mais fizeram eles desistirem da EJA, foram problemas particulares, média baixa e desinteresse. Na questão de desinteresse vemos que os alunos não veem o por que de estarem estudando com faltas de perspectivas futuras. Gráfico 15 do anexo 2.
Na tabela 3, demonstrarar os resultados obtidos sobre o quesito de qual é a perspectiva de futuro do aluno em relação ao ensino.
TABELA 4
Alternativas |
Nº. de alunos |
Melhorar Renda Financeira |
20 |
Não penso no futuro |
1 |
Aprender ler e escrever |
2 |
Arrumar um bom emprego |
63 |
Não se manifestou |
1 |
A maioria dos alunos responderam que seu objetivo principal no estudo é ter um melhor emprego e consequentemente uma boa renda financeira. Gráfico 16, anexo 2.
A seguir será apresentado na tabela
TABELA 5
Alternativas |
Nº. de alunos |
Ruim |
4 |
Regular |
24 |
Boa |
28 |
Ótima |
31 |
Não se manifestou |
0 |
Verifica-se que na maioria das vezes a escola ou o ensino ofertado em si teve uma boa conceituação, se classificando entre ótima e boa. Amostragem feita no Gráfico 17 anexo 2.
A Tabela 5, inserida a seguir, apresenta a informação de como os alunos avaliaram a Escola Municipal Luiz Gonzaga e como eles a veem, desde a parte física e a interação escola/aluno.
TABELA 6
Alternativas |
Nº. de alunos |
Ruim |
4 |
Regular |
33 |
Boa |
26 |
Ótima |
20 |
Não se manifestou |
1 |
Com essa afirmativa observamos que a escola não foi bem conceituada na visão dos discentes, pois a classificação foi bem alta ficando quase que empatado entre os que a acharam a escola boa e ótima e os que acharam a escola ruim e regular. Gráfico 18, anexo 2.
Nesta tabela 7, podemos ver que na avaliação dos discentes sobre o relacionamento professor/aluno, os mesmos viram os professores acolhedores e amigáveis.
TABELA 7
Alternativas |
Nº. de alunos |
Respeitosa e amigável |
74 |
Indiferente e profissional |
12 |
Não se manifestou |
1 |
Apenas uma minoria viram o professor como um profissional indiferente e profissional, às vezes até um pouco distante do discente. Veja gráfico 19, anexo 2.
Ao ingressar em uma instituição de ensino pública, o aluno é motivado, dentre outras razões, pela expectativa de melhores condições de vida e de realização profissional. Porém, a aprovação e a matrícula em uma instituição de ensino não garantem que a motivação permaneça e que o aluno continue no curso. Segundo Tigrinho (2008), a falta de informações sobre a profissão e o curso em que os alunos ingressam levam muitos à evasão.
Se por um lado, o termo “desistência escolar” remete a um sujeito que desistiu de estudar, contraditoriamente não explica os motivos desta desistência. Além disso, pode-se afirmar que essa desistência da escola não significa dizer que ele desistiu de aprender ou de estudar, pois há casos em que o aluno volta a estudar em outra instituição, em outro tempo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa ora desenvolvida, demonstra que a maioria dos alunos da EJA desistem por motivos alheios à escola. Essa característica comum em alunos da EJA fragiliza sua permanência devido a dificuldades para acompanhar o curso.
Com relação às ações das instituições escolares, convém à Escola Municipal Luiz Gonzaga, buscar meios para minimizar a desistência escolar, proporcionando aos educandos condições, para que, ele usufrua dessa escola, incentivando o desenvolvimento de uma política institucional voltada a atender essa clientela, com projetos pedagógicos adequados a ela.
Nesta pesquisa, pode-se concluir que muitos alunos desistentes declararam ter dificuldade de estudo, por problemas que influenciam no seu dia a dia até mesmo a falta de perspectivas futuras. Talvez seja necessário mais esforço individual, persistência, motivação e o momento certo para este aluno concluir a EJA.
Ressaltamos que os dados apresentados nesta pesquisa devem ser considerados a luz de caráter inicial, em compreender o que acontece com os alunos dessa Escola, ao desistir da EJA. Porém não se trata de uma analise conclusiva sobre o assunto, com todas as respostas para as questões relacionadas ao tema. No entanto as considerações objetivam trazer contribuições no sentido de sugerir a Escola Municipal Luiz Gonzaga um estudo aprofundado sobre o tema abordado. Em última instância, este trabalho sinaliza para uma aposta na busca do eterno novo, do construir com um olhar diferenciado e carinhoso com aqueles que ao longo do tempo deixaram de sonhar.
ANDRADE, Eliane Ribeiro. Os sujeitos educandos na EJA. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/index.htm. Acesso em: 23 nov. 2009.