Livro analisa relação dos militares com ciência e desenvolvimento

Nesta quinta-feira (16/9), será lançado o livro “O militar e a ciência no Brasil”, no Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro. A obra, uma compilação de textos de oito autores, é organizada pelo pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, Manuel Domingos Neto, e evidencia o quanto se avançou, no país, em termos científicos, tecnológicos e industriais, graças aos investimentos aplicados durante os anos de Regime Militar.

“A relação entre militares e ciência, que é bem estudada em vários países do mundo, precisa ser estudada na perspectiva histórica, com a isenção e certo distanciamento, também no caso brasileiro”, afirma o pesquisador da Universidade Federal da Bahia, Olival Freire Jr, que assina um dos capítulos da obra. Doutor em História da Ciência, Freire conversou com o Portal Vermelho e pontuou passagens importantes da participação dos militares na institucionalização da produção de conhecimentos científicos e tecnológicos. Confira:

Vermelho – O que motivou o livro? Qual, de fato, a relação dos militares com a ciência no Brasil?

Olival Freire – A motivação inicial é por se tratar de um tema meio interditado. Um pouco pela nossa experiência na Ditadura, nós temos uma tendência a rechaçar qualquer ligação com o meio militar. O problema é que o Regime durou 20 anos, e o Brasil tem mais de 500 anos. Quando você olha para uma escala de tempo mais larga, as relações entre militares e ciência são antigas no país. Um dos capítulos do livro, por exemplo, analisa a relação dos engenheiros militares, ainda na colônia, na construção das cidades, na construção das fortificações, mostrando uma relação entre ciência e tecnologia, e militar, desde os tempos remotos. A outra motivação é mais recente, é que o Brasil precisa desenvolver vários projetos. Dois deles são o projeto de lançamento de Satélite, onde o país tem patinado; e o projeto Nuclear de construção de usina de beneficiamento de urânio. São projetos que só o Governo para editar, porque têm relação com a Segurança Nacional, e são projetos importantes em termos de desenvolvimento científico e tecnológico intensos. Então, a nossa motivação, portanto, foi essa de que a relação entre militares e ciência, que é bem estudada em vários países do mundo, precisa ser estudada na perspectiva histórica, com a isenção e certo distanciamento, também no caso brasileiro.

V – De que trata especificamente o seu capítulo, “O interesse militar pelo laser: o caso Sergio Porto”?

OF – Sérgio Porto é um dos físicos brasileiros mais brilhantes do século 20. Migrou e fez carreira nos EUA e, na altura de 1970/72, o Regime Militar o atraiu de volta ao Brasil com a oferta de condições de trabalho importantes à época. Ele foi o criador do Instituto de Física da Unicamp. Eu mostro nesse trabalho que, na verdade, o interesse maior do Brasil era o projeto que Sergio tinha de utilizar o laser pra enriquecer urânio. De fato, esse projeto não vingou; hoje o país enriquece urânio utilizando outro método que não o laser, mas Sergio Porto desenvolveu uma intensa atividade entre 70 e 79, quando faleceu de um ataque no coração, e contribuiu com um importante trabalho de pesquisa. 

V – É possível pontuar avanços específicos na área da ciência por conta dos investimentos e pesquisa dos militares?

OF – Com certeza. Esse também é um dos aspectos que motivou as pessoas que estão envolvidas na elaboração desse livro. Porque, justamente no período do final do Governo Costa e Silva e quando entra o Governo Médici, portanto um período que vai de 68/69 até 73/74, é quando o Brasil toma quatro iniciativas que foram essenciais para o desenvolvimento científico no país: a reforma universitária; a institucionalização da pós-graduação; a criação da carreira de dedicação exclusiva, o que permitiu estabilizar pesquisadores aqui no país; e o aumento significativo no financiamento à ciência e tecnologia. Para você ter uma idéia, atualmente, os oito anos de Governo Lula tem sido de muito apoio à ciência e tecnologia, e os pesquisadores mais antigos fazem sempre a referência de que esse período se compara ao do regime militar em termos de apoio à área científica e tecnológica.

– Então, o senhor diria que, os anos de Regime Militar, foram os de maior incentivo em ciência e tecnologia?

OF – Até o período recente do Governo Lula. Só agora que esses incentivos foram suplantados. Isso no mesmo regime que perseguiu, que cassou os brasileiros, ou seja, é um aspecto contraditório da História que nos interessa muito.

O livro ainda não tem previsão de lançamento na Bahia. Interessados podem adquiri-lo pela internet, através do site http://www.grammanet.com.br/loja/livros/o-militar-e-a-ciencia-no-brasil.html.

De Salvador,
Camila Jasmin