Niko Schvarz: com Lula no centro do debate, Dilma tem vantagem
Menos de duas semanas nos separam das eleições gerais brasileiras, que vão renovar o Senado, o Executivo e o Legislativo estaduais – mas o foco é principalmente na eleição presidencial. Isso em grande parte concentra a atenção da América e também no mundo, dado o relevante papel que o Brasil passou a desempenhar na arena política internacional. É algo que vai além do interesse em torno das eleições parlamentares no próximo dia 26, domingo, na Venezuela.
Por Niko Schvarz, no La Republica
Publicado 22/09/2010 05:30
Há uma expectativa bem fundada de que, em ambas as instâncias de decisão, seus respectivos povos consolidem suas posições em favor de forças de governo à esquerda, avançadas e progressivas, no novo cenário configurado na América Latina desde o início do novo século e milênio.
No caso do Brasil, vemos a afirmação da candidatura presidencial de Dilma Rousseff, sob a legenda do PT e do conjunto de forças de esquerda, e a ampliação da sua liderança sobre José Serra, candidato do PSDB e das forças de direita. Desde que foi lançada a campanha, as pesquisas indicam uma constante: Dilma vai em linha ascendente, e Serra está estagnado ou regride. O fosso alarga-se.
Pesquisa do Instituto Sensus, encomendado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e lançado nesta terça (14) mostra Dilma Rousseff com 50,5% das intenções de voto, enquanto José Serra figura com 26,4%. Com esses números, Dilma triunfaria no primeiro turno.
Esses dados correspondem a uma pesquisa estimulada, na qual se menciona aos entrevistados os nomes dos candidatos. No levantamento anterior com as mesmas características, realizado em 24 de agosto, Dilma tinha 46% das intenções de voto e Serra, 28,1%. Como pode ser visto, a vantagem de Dilma foi acentuada pelas duas pontas (ela subiu e seu oponente desceu) e agora é de 24,1 pontos percentuais.
Marina Silva, a candidata do Partido Verde, atingiu 8,9% na última pesquisa – 0,8 ponto a mais do que no levantamento anterior. O candidatos Zé Maria, do PSTU, e Plínio Sampaio, do PSOL, têm cada um 0,6% das intenções de voto. Há ainda outros candidatos com taxas mais baixas.
A mais recente pesquisa também examina a possibilidade de um segundo turno (se Dilma não exceder 50% dos votos válidos no primeiro. Neste caso, Dilma venceria com 55,5% dos votos, enquanto Serra obteria 2,9%. Brancos e nulos correspondem a 5,9%, enquanto 5,7% não sabem ou não responderam.
Também se realizou uma pesquisa chamada espontânea, em que se pergunta ao entrevistado em quem ele votará sem sugerir nenhum nome. Neste caso, Dilma alcança 44,3% frente aos 23% de Serra. A vantagem é de 21,3 pontos percentuais (ligeiramente menor do que no levantamento estimulado). Aqui Marina Silva teria 7,1% de intenções de voto. 72,7% dos entrevistados afirmam que já decidiu em quem votar, 12,4% admitiram que podem mudar sua opinião e 11,2% permaneceram indecisos.
Esse levantamento da CNT/Sensus, que está registrado sob o número 104, entrevistou 2 mil pessoas em 136 municípios de 24 estados, de 10 a 12 de Setembro, e tem uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Uma pesquisa posterior do Datafolha, realizada entre 13 e 15 de setembro com 11.784 entrevistados, dá 51% para Dilma e 27% para Serra. A vantagem é de 24 pontos percentuais, como no levantamento anterior.
A campanha eleitoral está entrando em sua fase final. Houve vários debates televisivos entre os principais candidatos. No centro da campanha estão as realizações do governo Lula, de que a candidatura de Dilma como uma continuação e extensão de seus benefícios para os mais amplos segmentos da população. Ela enfatiza a forma como o Brasil foi capaz de superar a crise econômica global e criar, em 2009, 1.765.980 novos empregos.
Sob o governo Lula, até junho deste ano, haviam sido criados quase 14 milhões de novos empregos – e o ministro do Trabalho, Carlos Luppi, garante que até o final do ano (e do mandato) a cifra vai chegar a 15 milhões. A massa de trabalhadores no emprego formal cresceu 50%: de 28,7 milhões para 42,6 milhões.
Desde 2003, os salários subiram de 18,25% acima da inflação, e em maior proporção entre as mulheres do que entre os homens. Entre 2004 e 2009, 7,1 milhões de trabalhadores passaram a ter acesso à Previdência Social e ao seguro-desemprego. Houve uma redução significativa do trabalho infantil.
Um índice dos programas sociais: com o programa Luz para Todos, a luz elétrica foi universalizado na prática, atingindo 98,9% dos domicílios. A rede de abastecimento de água potável subiu de 83,9% de domicílios atendidos em 2008 para 84,4% em 2009.
* Niko Schvarz é jornalista e escritor uruguaio, membro da direção da Frente Ampla e do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo