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Greve na Espanha faz parte de jornada europeia contra austeridade

Manifestações contra medidas de austeridade ocorrem em 13 capitais europeias, com greve geral na Espanha e mobilização internacional que reúne 100 mil na sede da União Europeia, em Bruxelas (Bélgica). 

- AP

Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de 13 capitais europeias nesta quarta-feira para protestar contra as medidas de austeridade do governo, que, segundo os sindicatos, dificultam a recuperação econômica e punem os pobres.

Em Bruxelas, mega-manifestação reuniu mais de 100.000 pessoas nesta quarta-feira (29), segundo balanço das autoridades e da Confederação Europeia de Sindicatos (CES), organizadora do evento contra as medidas de austeridade adotadas na Europa. Uma fonte policial teria afirmado que pelo menos 50 mil estavam participando.

"A principal sensação das pessoas é que para o sistema bancário há milhões e bilhões de euros, mas que os benefícios sociais estão sendo cortados. Isso não é certo", disse Ralf Kutkowski, alemão que trabalha numa mina de carvão e participava do protesto em Bruxelas, na Bélgica.

Com bandeiras e cartazes dizendo "não à austeridade" e "prioridade para os empregos e o crescimento", os manifestantes seguiram em passeata em direção à sede da União Europeia, na capital belga. Os 50 sindicatos representados incluem mineiros alemães, trabalhadores romenos do setor de gás e funcionários de estaleiros poloneses.

No protesto, que decorre ainda nas ruas da capital belga, participam mais de 100.000 manifestantes oriundos de 24 países, incluindo Portugal, segundo dados divulgados pela imprensa belga. No final da manifestação o secretário-geral da CES, John Monks, irá reunir-se com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

Loucura

No início da marcha Monks classificou como uma "loucura" a intenção, hoje anunciada pelo Executivo de Bruxelas, para impor sanções aos países que violarem o Pacto de Estabilidade e Crescimento, considerando que "só a Suécia e a Estónia se livram de multas". Segundo a AFP, a polícia de Bruxelas fez hoje 148 detenções preventivas, não tendo sido no entanto registado qualquer incidente.

A jornada de luta na Europa foi convocada pela CES em protesto contra as medidas de austeridade aprovadas pelos Estados-membros, sendo esperados hoje cerca de 100.000 manifestantes em Bruxelas vindos de toda a Europa.

Os sindicatos alegam que as medidas são um castigo aos trabalhadores por uma crise que consideram ter sido provocada por banqueiros e comerciantes, muitos dos quais tiveram que ser resgatados mediante a intervenção massiva do governo. Consideram ainda que esta via de austeridade apenas vai contribuir para agravar a situação. Em contrapartida, exigem a implementação de planos de relançamento econômico, capazes de promover o crescimento e a criação de empregos de qualidade.

Comunistas portugueses e franceses

O português Arménio Carlos, membro do executivo da Confederação Nacional dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), afirmou, em declaração veiculada em áudio na página do Partido Comunista Português (PCP), que “esta é uma grande jornada” e apontou como objetivos centrais das mobilizações a exigência da criação de mais emprego, a melhoria dos salários, melhores serviços públicos, contra o desemprego e as injustiças sociais.

Para o porta-voz do Partido Comunista Francês (PCF), responsável no partido pelas questões europeias, Olivier Dartigolles, a jornada é uma resposta à tentativa da União Europeia de cobrar dos trabalhadores a fatura da crise de 2008: “quando se agrava a crise econômica e social, com 120 milhões de pessoas ameaçadas de empobrecimento, 23 milhões de desempregados na União Europeia, uma precariedade galopante e as brutais consequências advindas dos planos de austeridade, a Comissão Europeia está estimulando os governos a ir ainda mais longe em nome do que chamam a Agenda 2020: reforço do pacto de estabilidade, controle dos orçamentos nacionais antes da sua análise e aprovação pelos parlamentos de cada país membro da União Europeia, agravamento das sanções – encontramos com isso toda a panóplia de dogmas neoliberais”.

Dartigolles falou ainda da posição do PCF acerca do movimento: “a jornada de luta deste 29 de setembro é uma ocasião para reafirmar a oposição do PCF, juntamente com o Partido da Esquerda Europeia, às políticas que visam fazer os assalariados pagarem pela crise. Esta jornada permitirá aumentar as convergências europeias de respostas e de alternativas à crise”, declarou ao site do PCF, nesta terça-feira (28).

Em Portugal, a CGTP promove ações em todo o país, com destaque para as manifestações agendadas para Lisboa e Porto.Também estão previstas paralisações de transporte na Grécia, cujo governo teve que ser resgatado pela UE durante o segundo trimestre do ano para evitar sua bancarrota. O governo grego também se viu obrigado a aplicar fortes cortes aos subsídios para os trabalhadores.

Foto: AP
Em Madri, milhares de pessoas foram às ruas em apoio à greve geral

Espanha

Na primeira greve geral em oito anos na Espanha, em protesto contra cortes nos gastos públicos, o Comissões Obreiras (CCOO) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), os dois principais sindicatos do país, registraram, nesta quarta-feira (29), mais de 70 por cento de adesão à greve, o que soma cerca de 10 milhões de trabalhadores. O governo não citou estimativas, mas minimizou a paralisação.

A companhia aérea nacional Iberia disse que irá operar somente com 35% dos seus voos regulares depois que alguns controladores de tráfego aéreo e pessoal de terra se uniram à convocação de greve. A companhia aérea Ryanair cancelou todos seus voos internos, assim como aqueles que partiriam ou chegariam à Espanha.

Poucos ônibus públicos circulavam em Madri, havia lixo sem recolher nas ruas e o consumo de eletricidade em todo o país foi reduzido em 10% nas primeiras horas do dia. Cerca de 80% das viagens na Espanha no sistema de trens de alta velocidade foram canceladas, assim como todos os de média distância. Somente 25% dos trens interurbanos estavam funcionando.

No centro de Madri, centenas de trabalhadores agitaram bandeiras, interditaram ruas e obrigaram algumas lojas a baixar as portas. Na madrugada desta quarta-feira, grupos de piqueteiros bloquearam a passagem de caminhões que iriam entregar produtos para os principais mercados em Madri e Barcelona.

Poucos ônibus circularam na capital e metade dos trens de metrô parou. Mas os sindicatos cumpriram o compromisso de manter um serviço mínimo, segundo o ministro do Trabalho, Celestino Corbacho. 

No norte da Espanha, montadoras de veículos interromperam a produção. A demanda energética no país caiu 20% durante o protesto, segundo a empresa operadora do sistema.

Líderes sindicais disseram que 30 manifestantes foram detidos, mas a maioria foi solta rapidamente.

Indiferença

Os mercados financeiros também reagiram com indiferença, pois analistas descartam a hipótese de o governo recuar nas medidas destinadas a cumprir as metas de redução de déficit público da União Europeia.

O primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero, do Partido Socialista, apresentará na quinta-feira ao Parlamento o seu orçamento para 2011 e prometeu manter as medidas de austeridade e as reformas trabalhistas destinadas a facilitar a contratação e demissão de funcionários pelas empresas.

Obstinação

"Vamos continuar a greve se isso for necessário para derrubar a reforma trabalhista, que ameaça tornar os empregos ainda mais vulneráveis", disse o designer gráfico Alfredo Pérez em um piquete.

Da redação, Luana Bonone, com agências