Funcionários do Bradesco aderem à greve nos bancos
Em greve desde a última quarta-feira, os bancários deram início, ontem, a uma nova fase do movimento. Os piquetes foram estendidos às agências do Bradesco, que até então não haviam sido palco dos atos públicos da categoria.
Publicado 05/10/2010 10:21 | Editado 04/03/2020 17:08
A empresária Marlene Rocha compareceu ao Bradesco da avenida Rio Branco para resolver a instalação de uma máquina de cartão de crédito em seu ateliê de costura. “Vou ter que esperar o atendimento voltar”, lamentava. Um problema comum durante a greve aconteceu novamente ontem, afetando pessoas com cartões bloqueados e dinheiro no banco. “Vim tentar desbloquear o cartão, o que não consegui fazer na máquina. Infelizmente, só poderei sacar meu dinheiro com o final da greve”, resignava-se o comerciante Alberto Ramos. As pessoas que dependiam apenas dos caixas eletrônicos, no entanto, não tiveram problemas.
Segundo o diretor de Imprensa do Sindicato dos Bancários, Marcos Tinoco, ainda não houve avanços nas negociações. “No Brasil inteiro, apenas o Banco de Brasília (BrB) fechou acordo, com reajuste de 13%”, disse. Hoje, às 16h, a categoria promete fazer uma passeata, a partir da sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do RN (Sinte) até o Bradesco da avenida Rio Branco, onde haverá ato público. Ele explica que a Justiça concedeu “interdito proibitório” ao Itaú, considerando que o direito de propriedade estava ameaçado pelo movimento. “Mas nossa assessoria jurídica vai recorrer. Isso já aconteceu outras vezes e nós conseguimos derrubar as decisões”, comenta.
O movimento dos bancários é nacional e cobra 24% de reajuste, mais reposição das perdas acumuladas desde o Plano Real, participação linear nos lucros e isonomia salarial para os funcionários contratados a partir de 1999. A resposta oferecida pelos bancos públicos e privados foi reajuste de 4,29%, rejeitada pela categoria. Continuam funcionando normalmente o autoatendimento nos caixas eletrônicos (inclusive nas agências) e os canais alternativos, como Internet, telefone e lotéricas, além dos chamados “Correspondentes Bancários”, que permitem o pagamento de contas como água e energia em locais como farmácias. Mas os serviços que dependem dos funcionários não estão disponíveis.
A pauta de reivindicações inclui pontos como a proposta de abertura das agências das 9h às 17h, com duas turmas de funcionários; o repúdio ao que chamam de “assédio moral” nos bancos; e a contratação de mais funcionários. A base do Sindicato dos Bancários inclui 118 agências, localizadas principalmente entre Natal e a região do Seridó. São 2.500 bancários no Rio Grande do Norte.
Febraban faz críticas ao movimento
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) divulgou, em seu site, nota em que sobe o tom das críticas à greve. “Diante da radicalização do movimento sindical, que abandonou a mesa de negociações apesar de a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) ter garantido reposição da inflação a fim de negociar aumento real, a entidade e os bancos manifestam sua firme intenção de adotar todas as medidas legais cabíveis e necessárias para garantir o acesso e o atendimento da população nas agências e postos bancários”.
A Federação ressalta que o início do mês é quando os bancos recebem maior afluxo de público, devido ao pagamento de aposentados e pensionistas do INSS. “O que não se pode admitir são os piquetes contratados que barram o acesso da população às agências e postos bancários para impor uma greve abusiva e injustificada. Os bancários vêm recebendo aumento real, acima da inflação, todos os anos, desde 2004, e contam com a melhor convenção coletiva de trabalho do país”.
Lotéricas são alternativa para usar os serviços bancários
As casas lotéricas de Natal estão cada vez mais cheias. No entanto, não é apenas o prêmio de R$ 115 milhões que será sorteado amanhã pela Mega-Sena que está contribuindo para o aumento nas filas. Com a greve dos bancos, as lotéricas se transformaram em uma alternativa rápida a população utilizar serviços que, em geral, seriam realizados nas agências bancárias.
Precisando pagar uma conta na tarde de ontem, o pastor evangélico William Soares Barreto, 29 anos, foi a uma agência bancária por não saber do movimento grevista. Chegando ao local, um funcionário do banco colheu os dados do pastor, imprimiu o boleto bancário e sugeriu que ele fosse a uma lotérica para efetuar o pagamento. “É complicado porque tive que dar duas viagens, mas pelo menos consegui pagar a conta”, disse Willian.
A substituição dos bancos pelas casas lotéricas para a realização de pagamentos, porém, não ocorre apenas durante o período das greves. As longas filas nas agências levaram o funcionário público Nelson Solom, 48 anos, a praticamente abandonar os bancos desde 2002. “Existe uma lei que limita tempo de espera nas filas de banco, mas nunca ficava menos de 30 minutos nas filas. Por isso só vou às lotéricas”, disse. “Como posso resolver quase tudo lá (lotérica), as greves não fazem tanta diferença para mim”, garante.
Além dos pagamentos de contas de água, luz e telefone, a população também pode realizar nas lotéricas saques de até R$ 1 mil, pagar contas com boletos bancários da Caixa e de outros bancos, fazer depósitos de até R$ 1 mil, consultar saldos e extratos de contas da Caixa e Banco do Brasil, receber os benefícios do Bolsa Família, Seguro Desemprego, INSS e FGTS (até R$ 1 mil), e até fazer a declaração anual de isento.
Depósitos judiciais terão mais prazo
O Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região (TRT RN) prorrogou o prazo para depósitos judiciais até o fim da greve dos bancários.
Com o ato, publicado no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho em 1º de outubro de 2010, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho, desembargador José Barbosa Filho, determinou a prorrogação dos prazos para recolhimento dos depósitos recursais e custas processuais, em função da paralisação.
O objetivo é não prejudicar a população, uma vez que os bancos não estão garantindo o atendimento ao público. A decisão considera, também, que o movimento grevista teria inviabilizado depósitos de valores, tanto para o preparo, quanto para as demais custas processuais.
A decisão publicada ontem vale do 29 de setembro até o terceiro dia útil subseqüente ao término do movimento grevista dos bancários.