Walter Sorrentino: PCdoB avança eleitoralmente

A trajetória eleitoral do PCdoB pós-redemocratizaçao é de notável continuidade e progressividade. Agora em 2010, chegou a 2,9% dos votos proporcionais para deputados federais, elegendo bancada de 15 membros. Cresceu, proporcionalmente, 40% na votação. Antes também alcançou crescimento regular e expressivo. Em 2006, foi o que mais cresceu, juntamente com o PV. Em 2010, um dos que mais cresceu, atrás do PSB e PR.

O que é menos evidente é que, nos últimos oito anos, tendo-se aberto um novo ciclo político no país com o governo Lula e a ativa participação do PCdoB nessa vitória, houve uma inflexão na tática eleitoral, consequentemente na qualidade da acumulação de forças.

Em 2004 o PCdoB lançou já candidatos a prefeitos em importantes cidades; em 2006 alcançou ser o 5º partido mais votado ao Senado, em eleição de vaga única. Em 2008 elevou-se sobremaneira as candidaturas a prefeito e foi o 7º partido mais votado nas capitais. Em 2010 aprofunda essa trajetória, disputando o governo no Maranhão e o senado em nove Estados.

Desse modo, chega a representar quase 8% dos votos válidos ao senado de todo o país (em votação binominal, portanto em base correspondente a 200% do eleitorado), ou 14% dos votos válidos dos nove Estados onde concorreu. Foram 12.561.430 votos, só em nove Estados! Elegeu Vanessa Grazziotin no Amazonas; Netinho de Paula em São Paulo alcançou marca histórica inultrapassada por qualquer outro comunista com mais de 7,6 milhões de votos; e um bom desempenho nos demais Estados. Por menos de um décimo porcentual não chegou ao segundo turno ao governo do Maranhão, tendo erguido Flávio Dino à condição de líder da oposição popular no Estado.

Por isso, ao analisar os resultados eleitorais do PCdoB, é preciso ver as coisas em perspectiva de uma determinada trajetória de acumulação de forças. Além de progressividade nos resultados proporcionais, em realidade, a trajetória eleitoral teve uma espécie de recomeço com a era Lula, um período transicional no modo de situar o partido nas eleições. Isso produzirá frutos cumulativos ao longo de mais tempo.

Por exemplo, Netinho de Paula, Vanessa, Flávio Dino e Orlando Silva Jr, houvessem sido lançados como candidatos a deputados federais, possivelmente elegeriam a si próprios e mais outras duas vagas, podendo levar o resultado à marca de 21 federais eleitos. Porém, não teria se situado nas disputas majoritárias, aquelas que dialogam com toda a sociedade, e manteria o partido sob constrangimento crescente na acumulação de forças.

Por outro lado, com o comportamento mais recente, pode-se esperar um crescimento exponencial dependendo da correlação entre as eleições municipais e as federais. Por exemplo, a Bahia – onde não por acaso obteve-se o melhor resultado proporcional com a eleição de três federais e três estaduais – foi o Estado onde se obteve a maior bancada de prefeitos e vereadores dois anos atrás. Como se sabe, no Brasil, essa é uma correlação estatisticamente confirmada e a mais relevante entre eleições sucessivas. Mais que pelas candidaturas presidenciais (haja vista o exemplo Heloísa Helena presidente há quatro ano e seu partido hoje; ou o não crescimento do PV este ano malgrado Marina Silva), é nas eleições de base que se implantam raízes eleitorais num sistema de eleições sucessivas.

Por último, outra expressão indireta mas fundamental do avanço é ter eleito boa parte dos deputados estaduais em chapas próprias. Não é a mesma coisa que fazê-lo em coligação; é mais afirmativa da legenda e da força militante do próprio partido, exige mais trabalho de base permanente, que é o que determina as possibilidades de êxitos eleitorais dos comunistas.

Por essas razões, são satisfatórios os resultados do PCdoB de 2010 e apontam para uma acumulação progressiva, como foi dito, além de permitir crescimentos exponenciais no futuro. Foi certo e até imprescindível situar-se nessa nova chave de acumulação eleitoral. Possivelmente, tenha até tardado relativamente na cena política do país. Mas os frutos vão aparecendo e as eleições de 2012 poderão ser um impulso acelerado na mesma direção. Ou seja, se vale o que já foi alcançado, colhendo o que plantamos nos últimos anos, mais vale o que será.

Claro, em política tudo depende das circunstâncias e da relação de forças. A acumulação ou desacumulação é determinada, em primeiríssima instância, pelo quadro menos ou mais progressista da nação. Por essa razão, uma terceira vitória das forças populares é vital para os comunitas. É o que está em jogo nas próximas quatro semanas. O processo político brasileiro em curso sob a liderança de Lula tem raízes profundas e não circunstanciais. A oposição não teve projeto e é tarde para improvisar. Mas tem estratégia e tem força. O campo popular não pode cometer erros nem subestimar o adversário.

O fato é que o campo de Dilma teve expressiva maioria eleitoral em todo o país à presidência, no Senado e Câmara, em importantes governos estaduais, vitórias das quais o PCdoB é igualmente partícipe. Dilma pode e deve ganhar, garantindo e ampliando ainda mais esses apoios.

Por isso, os resultados do PCdoB só podem ser avaliados na contextualização dos resultados do segundo turno. É para ele esforço que converge toda a energia, garra, disposição e visão política dos comunistas, para galvanizar a união de forças do povo capazes de garantir que o Brasil ocupe seu lugar no mundo e o povo brasileiro tenha o lugar que lhe cabe na nação. Agora é Dilma!

*Secretário de Organização do PCdoB