Motim em penitenciária do MA chega ao fim com 18 mortes

Após 27 horas, terminou às 12h15 de ontem a rebelião no complexo penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. No total, 18 presos foram mortos por rivais. Desses, 15 foram assassinados no presídio São Luís – que é considerado de segurança máxima e abriga perto de 200 internos.

Após 27 horas, terminou às 12h15 de ontem a rebelião no complexo penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. No total, 18 presos foram mortos por rivais. Desses, 15 foram assassinados no presídio São Luís – que é considerado de segurança máxima e abriga perto de 200 internos. Outras três mortes ocorreram na Penitenciária de Pedrinhas, localizada ao lado do presídio, onde houve uma tentativa de rebelião na manhã de ontem, rapidamente controlada pela tropa de choque da PM.

Ao final da revolta nos dois presídios, considerada a maior já ocorrida no estado, os cinco reféns – monitores da empresa terceirizada de segurança Auxílio – que eram mantidos pelos detentos rebelados foram libertados sem ferimentos. Na segunda-feira, primeiro dia do motim, os presos haviam entregue nove corpos de rivais em troca de alimentos. Também na segunda, duas cabeças de detentos foram atiradas aos negociadores. Ao todo, três presos foram decapitados pelos amotinados.

Ontem, após verem frustrada a tentativa de obterem armamento e carro blindado para a fuga, os rebelados do Presídio São Luís exigiram como condição para pôr fim ao movimento a garantia de integridade física e a presença do juiz de Direito Marcelo Lobão. O pastor carioca Marcos Pereira, de 54 anos, da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias também atuou na fase final da rebelião. Ele disse ter sido chamado por um delegado de nome Daniel. O pastor é conhecido nacionalmente por ajudar nas negociações de rebeliões em presídios de todo o país, quando solicitado. Um culto evangélico de 40 minutos com os presos foi promovido pelo pastor.

Os primeiros reféns a serem libertados, por volta das 11h, foram os monitores Ivo Wagner Mesquita Melo e Manoel da Costa de Jesus Filho, que é cardíaco e necessita usar medicamentos controlados. Pouco mais de uma hora depois, saíram Carlos Primo Vilar de Araújo, Daniel Pereira Rodrigues e José Wilter da Conceição Costa. Um monitor – Raimundo de Jesus Coelho – foi baleado no primeiro dia da revolta. Ele está internado no Hospital São Domingos, em São Luís, e seu estado exige cuidados.

Com o fim da rebelião, policiais militares, com o apoio do Grupo Tático Aéreo (GTA), entraram nos dois presídios, iniciando os procedimentos de revista e recontagem dos presos. Três armas de fogo foram apreendidas – dois revólveres calibre 38 e um calibre 32 – além de várias armas brancas artesanais.

Durante a rebelião, os presos reivindicaram que não houvesse retaliação (castigo) aos detentos; agilidade nos processos; solução para a falta d’água; transferência dos presos de Imperatriz e da Baixada para seus locais de origem, onde moram os familiares (também devido à rivalidade); que a visita dos familiares não fosse feita mais na quadra e sim nas celas por causa do sol; e a exoneração do diretor do Presídio São Luís, Henrique Sena de Freitas. Foram apontados como líderes da rebelião os presos conhecidos como “Serequinha”, “Rony Boy” e “Diferente”.

O secretário de Segurança Pública do Maranhão, Aluísio Mendes Filho – que estava fora do estado e só chegou ontem a São Luís –, afirmou que “não havia razão para essa barbárie” e que uma possível motivação política da ação será apurada “a fundo”.

Segundo o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Cézar Bombeiro, as lideranças da categoria já haviam prevenido o sistema de segurança de que essa situação poderia acontecer, mas não teriam sido ouvidos.

Já o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado (Sinpol-MA), Amon Jessen, criticou o governo estadual por contratar uma empresa cearense – a Auxílio – para monitorar os detentos. Jessen afirmou que a situação de rebelião com reféns ocorreu porque os monitores contratados não são aptos para o exercício da função.

De acordo com o juiz da Vara de Execuções Criminais, Jamil Aguiar, as “exigências viáveis” dos presos serão atendidas, na medida do possível.

O secretário Aluísio Mendes informou que ao menos 20 presos – entre eles os principais líderes do motim – serão transferidos para um presídio federal localizado fora do Maranhão, provavelmente o de Campo Grande (Mato Grosso do Sul). Ao ser questionado se Fernando Cutrim, o “Louro Bill” [irmão do ex-secretário de Segurança e deputado estadual reeleito Raimundo Cutrim, PFL] seria mandado a um presídio federal, Aluísio disse que ele “não oferece risco, não é perigoso”.

A brutalidade da rebelião de presos terminada ontem lembrou uma outra, também ocorrida num governo que tinha à frente Roseana Sarney (PMDB) e sob a gestão de Raimundo Cutrim na Segurança Pública. Em 20 e 21 de janeiro de 2001, um motim de 22 horas terminou com três detentos assassinados por rivais: Walderez Brito Gomes; Jodomilson Rodrigues do Nascimento, o “Cacá”; e Carlos Magno Araújo da Silva, o “Carlinhos Chupão”. Este último teve a cabeça cortada por um dos líderes da revolta, Anderson Ferreira dos Anjos, o “Carioca”. Numa cena que foi repetida na recente rebelião, a cabeça de “Carlinhos” foi atirada para fora do pavilhão.

(*) Colaboraram Oswaldo Viviani e Valquíria Ferreira)

Corpos identificados pelo IML (Presídio São Luís):

José Ricardo Vieira Pereira, 20 anos, da Vila Palmeira;

Cleiton Costa Soares, o “Quequê”, 21, da Vila Embratel (decapitado);

Réris Ângelo Santos Silva, o “Banjo” (decapitado);

José Francisco de Souza, o “Chiquinho” (decapitado);

José Ribamar dos Santos Filho, o “Dragão”, 35, de São José de Ribamar;

Milson Silva de Carvalho, o “Spaik”, 36, da Vila Janaína;

José Antonio Ribeiro, o “Bigode”, 43, de Santa Inês (MA);

Eromar de Sousa Ferreira;

Isaquiel Barbosa de Miranda.

Obs.: O Instituto de Criminalística (Icrim) está realizando os procedimentos de identificação dos outros seis corpos encontrados após o termino da rebelião no Presídio São Luís.

Os mortos da Penitenciária de Pedrinhas:

Eriedson de Jesus Santos, o “Gaguinho”, 36 anos, da Liberdade;

Romuel Antônio Sousa Santos, o “Bruce Lee”;

Francisco Wellington Pinto da Silva.

Fonte: Jully camilo – Jornal Pequeno