Um ato pela paz e contra as drogas

A missa do 30º Dia da morte do jornalista F. Gomes, celebrada ontem na igreja São José, no Bairro Paraíba, Bispo Diocesano, Dom Manoel Delson Pedreira da Cruz, foi transformada na semente da luta da sociedade caicoense contra o tráfico de drogas, que vem mudando a rotina das cidades.

Durante a homilia, Dom Delson fez referência ao trabalho desenvolvido pelo jornalista nas emissoras de rádio e nos jornais em que trabalhou. “F. Gomes foi incansável e deixou sua marca aonde trabalhou, e sua marca foi a de uma pessoa que não media esforços para ajudar no enfrentamento das drogas, ele será lembrado pela sua luta”, disse.

O bispo também conclamou os presentes a se engajarem no combate ao tráfico de drogas fazendo o que ele chamou de um trabalho de conscientização. “Vamos informar as pessoas dos males das drogas. Vamos fazer um trabalho de formiguinha, indo ao encontro de cada pessoa para mostrarmos o melhor caminho e tentarmos acabar com as drogas em nossa cidade, em nossa comunidade, e vamos fazer isso com paz e serenidade”, disse.

Ao final da celebração os funcionários da Rádio Caicó AM, fizeram homenagem através de uma mensagem que foi lida, e depois a família. A filha de F. Gomes, Érika Sariedna, leu a mensagem que falava da angústia de não ter mais o pai em casa. “Os dias se passaram, a dor não passa… A saudade é cada vez maior. Saudade das ligações, do bom dia, boa noite, do forte abraço e daquele lindo sorriso! Saudades de ouvir sua voz, saudades de chegar em casa e encontrá-lo deitado no sofá”.

Ela também disse que seu pai era uma pessoa de bem. “Costumo dizer que sempre tive muita sorte, pois meus pais sempre foram muito dedicados. Meu pai é o maior exemplo que tenho para seguir em frente como pessoa e até mesmo, profissionalmente. Eu tive um grande exemplo dentro de minha própria casa: meu pai. Um exemplo de homem digno e correto, que sempre lutou para fazer o que é justo”, e finalizou dizendo que “para todos eles jamais estará morto, pois heróis não morrem, tornam-se eternos”, disse.

Após a celebração as pessoas, saíram às ruas de Caicó, seguindo pelas Avenidas Celso Dantas, Coronel Martiniano e Seridó, em direção a Ilha de Sant’Ana, aonde aconteceu o ato público pela paz e contra as drogas. Durante a caminhada, radialistas de emissoras locais, em um trio elétrico conduziram as mais de 2 mil pessoas que vieram de todos os bairros de Caicó, e de cidades vizinhas para prestigiar vestidos de branco simbolizando a paz.

Os batedores do 3º Distrito de Polícia Rodoviária Estadual controlaram o trânsito pelas avenidas onde passou a caminhada. As pessoas também estavam munidas de lenços brancos e com faixas com frases de esperança e pedidos de justiça pela morte de F. Gomes. É que para muitos, existem outras pessoas envolvidas em sua morte.

Na Ilha de Sant’Ana, a população que seguiu para a frente do palco que foi montado, e ali as autoridades discussão, e cantores se apresentaram. A artista Dodora Cardoso, cantou o hino de Sant’Ana, a oração de São Francisco e a música Nós Queremos Paz de Joana, acompanhada em couro pelas milhares pessoas. Os cantores, Galvão Freire e Ronaldo Carlos, executaram músicas de Padre Zezinho e de outros artistas pedindo contra as drogas e pela paz.

A caminhada contra a violência e as drogas contou coma presença de representantes da Maçonaria, dos clubes de serviço como Lions e Rotary. Também estiveram acompanhando o ato público o membro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos da OAB, José Maria José Maria Rodrigues Bezerra, que falou da luta da ordem pelos direitos do cidadão Norte-riograndense.

O advogado Janduí Fernandes, que também conselheiro da OAB/RN, e que atua defendendo os direitos da família de F. Gomes no inquérito, disse que esse ato é um marco na história de Caicó, e que nos próximos dias pretende cobrar celeridade do delegado Ronaldo Gomes, nas investigações.

Radialista foi executado na calçada de casa

O jornalista F. Gomes foi assassinado no dia 18 de outubro por volta das 21 horas, com cinco tiros de revólver calibre 38, quando estava sentado na calçada de sua residência à Rua Professor Viana, no Bairro Paraíba em Caicó. O homicida, identificado posteriormente por João Francisco dos Santos, “Dão”, foi conduzido na mesma noite do fato para a delegacia de polícia, mas o delegado George David Costa Souza Leão, o liberou alegando não ter encontrado indícios suficientes para incriminá-lo, porém no dia seguinte, o delegado Ronaldo Gomes da Divisão de Investigação e Combate ao Crime Organizado – Deicor, foi designado especialmente para o caso e conseguiu que Dão fosse preso temporariamente.

O suspeito confessou no crime ainda na terça-feira, dia 19 de outubro, e foi encaminhado naquela noite para o Presídio de Caicó. A polícia agora investiga a possibilidade de outras pessoas estarem envolvidas no crime de F. Gomes. O delegado não informa nada alegando não querer atrapalhar as investigações.

O preso, Valdir Souza do Nascimento, que está preso em Alcaçuz (Nizia Floresta/RN), cumprindo pena por assalto e outros crimes, é apontado em uma das linhas de investigação da polícia como sendo o mandante da morte de F. Gomes, porém ele nega envolvimento.

No dia 28 de outubro, o preso Valdir Souza, esteve em Caicó, para ser ouvido em um processo que responde por tráfico de drogas, e disse que não participou da morte de F. Gomes. Eu não tenho nada haver com isso. Podem me investigar à vontade”, disse ele.

No dia 05 de novembro, o diretor do Presídio de Caicó, Heider Brito, confirmou que fez a transferência de João Francisco dos Santos, o “Dão”, para o presídio Raimundo Nonato, porque ele havia ameaçado dois presos de morte. “Transferência foi por medida de segurança”, confirmou o diretor.
 

Jornal Tribuna do Norte