Natal e 23 de novembro: a História apagada
O dia 23 de novembro deveria ser feriado municipal em Natal. Deveria ser lembrado como o dia em que um levante militar, de caráter revolucionário, tomou o poder e, durante três dias, governou a pequena Natal. Por Wellington Duarte*
Publicado 24/11/2010 12:52 | Editado 04/03/2020 17:08
Chamada pejorativamente de “intentona”, como se fora um plano insensato ou um ato eivado de loucura, o levante foi usurpado pelas forças que governam até hoje o RN e transformada num ato de coragem por parte dos policiais que resistiram “bravamente” aos ataques comunistas. Um dos soldados mortos na batalha, Luiz Gonzaga, tornou-se herói da Polícia Militar do RN. Bustos e homenagens aos algozes do povo, como Dinarte Mariz, que na década de 60 serviria ao regime militar, foram erguidos em nome da “defesa da democracia”.
O levante, parte de um movimento ancional liderado pela Aliança Nacional Libertador (ANL), dirigida pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), iniciou-se apressadamente na madrugada de 23 de novembro de 1935, quando sargentos, cabos e soldados tomaram o 21º Batalhão de Caçadores e instalaram um Comitê Popular Revolucionário. O governador Rafael Fernandes fugiu apressadamente e as forças rebeldes ocuparam a cidade por quatro dias. logo em seguida o movimento se alastrou por outras cidades do Rio Grande do Norte. Colunas rebeldes ocuparam Ceará-Mirim, Baixa Verde, São José do Mipibu, Santa Cruz e Canguaratema.
Não nos cabe escrever um artigo denso sobre os elementos que estavam presentes no ambiente em que ocorreu o Levante. Não é o espaço adequado.Mas aqueles que se dizem revolucionários; aqueles que se arvoram democratas e aqueles que lutam contra nossa elite paroquial, deveriam reverenciar os verdadeiros heróis de 1935.
Heróis do Governo Popular Revolucionário: Lauro Cortês Lago (funcionário público), Ministro do Interior; Quintino Clementino de Barros (sargento), Ministro da Defesa; José Praxedes de Andrade (sapateiro), Ministro do Abastecimento; José Macedo (carteiro), Ministro das Finanças; João Batista Galvão (estudante), Ministro da Viação. O cabo Estevão assumiu o comando do 21º Batalhão de Caçadores, enquanto o sargento Eliziel Diniz Henriques passou a comandar a Guarnição Federal.
Quatro dias depois as tropas legalistas retomaram o controle da cidade e prenderam diversos líderes revolucionários. Coube a Vargas introduzir o termo “intentona” e desqualificar o movimento. Assim o fez e assim a “história oficial” impôs a re-modelação da história e Natal perdeu uma revolução e “ganhou” uma intentona. Troca não apenas injusta, mas vergonhosa.
As forças de esquerda, derrotadas em 2008 e 2010, devem reverenciar o passado e olhar para o futuro, tirando ensinamento da vontade daqueles guerreiros.
Professor do Departamento de Economia da UFRN
Diretor de Política Sindical da ADURN
Diretor de Política Educacional da CTB-RN
Membro do Diretório Municipal do PCdoB-Natal
Membro do Diretório Estadual do PCdoB
Conselheiro do CORECON-RN