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No Senado com Inácio, Vanessa buscará o avanço que a nação exige

Diplomada nesta sexta-feira (17) para ocupar a partir de fevereiro uma vaga no Senado pelo Amazonas, Vanessa Grazziotin tem na bagagem 22 anos de trabalho parlamentar e 30 de militância no PCdoB. Ela diz que ao lado de Inácio Arruda (CE) formará uma “base efetiva de sustentação do novo governo, mas de sustentação de propostas que busquem o avanço e as mudanças que a nação exige”.

Vanessa Grazziotin

Vanessa diz que embora tenha sido conquistada nas urnas uma ampla frente de sustentação, “a base de apoio a Dilma Rousseff é heterogênea e grande parte é muito conservadora”. Por isso, destaca que o papel dos comunistas será no sentido de procurar puxar a base parlamentar para a esquerda. “Apesar de sermos uma bancada pequena, pesa muito a nosso favor a qualidade dos mandatos; os parlamentares comunistas são muito atuantes, presentes e formuladores”, explica.

Dentre os pontos que pretende defender no Congresso estão a redução da jornada para 40 horas semanais; a mudança da política cambial brasileira; a diminuição da taxa de juros e a regulação do mercado financeiro, principalmente ao capital internacional. “É muito injusto: de um lado, vemos muito problema na saúde, na segurança etc. e muitas vezes não se tem recurso, mas por outro lado os recursos que se gasta cada vez que se aumenta ou mantém a taxa de juros é algo extraordinário. O Senado tem papel importante no debate dessa questão e da nossa parte, vamos fortalecer a representação dos estados sob a ótica da defesa progressista da nação”.

Primeira eleita

Vanessa é a primeira senadora eleita pelo estado, mas não a primeira a ocupar uma cadeira pelo Amazonas. Eunice Michilles substituiu João Bosco Ramos de Lima (Arena) após sua morte em 1979, inaugurando a participação feminina no Senado brasileiro.

Segundo a comunista, apesar de ser uma Casa conservadora, o Senado ainda tem uma melhor proporção de mulheres em relação à Câmara. “O Parlamento brasileiro tem uma presença feminina muito pequena, mas o Senado, de alguns mandatos para cá, apresenta um percentual de participação de 12%, enquanto na Câmara é de 8%. E se é recente a presença da mulher no Senado mais do que na Câmara, nossa ascensão no Senado se deu de maneira mais rápida”.
Outro aspecto destacado por ela é que tem havido mudanças no caráter da Casa. “Hoje, há senadores oriundos do movimento popular, o que de fato não havia, e aumentou o número de parlamentares ligados ao povo, às questões sociais”.

Luta árdua

Nestas eleições, mais um item passou a fazer parte da bagagem acumulada por Vanessa Grazziotin ao longo de sua trajetória política: o enfrentamento e a vitória sobre um antigo coronel amazonense que há anos reina na política local, o senador Arthur Virgílio (PSDB).

“Acho que o resultado refletiu a opção da população por um tipo de senador que o estado do Amazonas queria e ficou claro que ele representava outro projeto”, avalia Vanessa. “Trabalhamos no sentido de pontuar a campanha no campo político e acho que foi isso que determinou a nossa vitória. Primeiramente, a gente encaminhou tudo de forma muito limpa e mostrando a minha trajetória, o trabalho do PCdoB, o projeto que defendemos para o país e como seria minha conduta como senadora. Assim, conseguimos demarcar campo”. Soma-se a isso o apoio que Vanessa teve de diversas forças e lideranças sociais e políticas, entre elas o ex-governador e senador eleito Eduardo Braga (PMDB) e o governador eleito Omar Aziz (PMN).

A consagração da comunista nas urnas, no entanto, não foi fácil. Já no começo da sua campanha, o campo de sustentação do governo Lula estava desunido no estado. Embora o PT nacional apoiasse Vanessa, o local decidiu compor outra coligação. “Ou seja, a esquerda se dividiu muito. A direção nacional do PT trabalhou politicamente no sentido de não viabilizar a candidatura ao Senado, mas infelizmente, por uma questão política local, ela foi mantida, o que dificultou muito a nossa campanha”.

A diferença de pouco mais de 28 mil votos num estado cujo eleitorado é de mais de 2 milhões de pessoas demonstra o grau de acirramento que Vanessa enfrentou. Uma das questões mais complicadas foi lidar com a campanha suja e despolitizada que o tucano adotou e que perdurou mesmo depois de oficializado o resultado das urnas. “A características dele (Virgílio) é de ser uma pessoa muito desequilibrada e que se acha o melhor de todos. Passou a campanha inteira me atacando de uma forma muito desleal e baixa, que são características dele”, disse.

Uma decisão da justiça eleitoral no último mês de campanha determinou o direito de resposta a Vanessa devido à veiculação de mentiras pelo tucano em seu programa, entre elas a de que a comunista teria votado contra o salário mínimo de R$ 600. Apesar disso, Virgílio conseguiu manter o ritmo de suas aparições na televisão “porque ele usava as inserções dos candidatos de sua coligação, de maneira que foram eles que perderam tempo de propaganda”, relata. Além disso, na ocasião foram questionadas pesquisas feitas pelo Ibope que divergiam de outras sondagens e mostravam o tucano bem à frente da comunista.

Vencida a eleição, Virgílio procurou ganhar no tapetão, denunciando uma suposta compra de votos baseada no uso de cartões de banco para o pagamento das equipes da campanha da chapa de que Vanessa fazia parte. “Todos os que trabalharam para os três majoritários de nossa coligação eram contratados. Usamos esses cartões para cumprir uma determinação legal e ele veio dizer que foi para comprar votos. Chegou-se ao ponto de seu aliado, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), ter feito pronunciamento no Senado dizendo que distribuímos 100 mil desses cartões. Mas, a investigação está acontecendo e nós temos confiança e tranquilidade absolutas quanto à nossa conduta”, finalizou.

De São Paulo,
Priscila Lobregatte