Sem categoria

Dilma e Lula lamentam a morte de Quércia, aos 72 anos

Orestes Quércia trilhou uma trajetória de vitórias e derrotas na política
O presidente estadual do PMDB de São Paulo e ex-governador, Orestes Quércia, 72 anos, morreu nesta sexta-feira (24), no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, depois de lutar há 10 anos contra um câncer na próstata. O câncer que levou Quércia ao hospital, no início de setembro, obrigou o político a dar fim à candidatura ao Senado. O presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, lamentaram a morte do peemedebista.

quercia - Reprodução

Mesmo afastado da disputa para tratar da doença, Quércia continuou se dedicando à política, na direção estadual do PMDB, cujo controle assegurou com o apoio dos diretórios regionais de São Paulo. Divergindo da orientação nacional do partido, que lançou o deputado Michel Temer para vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, do PT, ele se aliou ao PSDB de José Serra e Geraldo Alckmin.

Em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte, mas não deixou de dizer que nem sempre estiveram do mesmo lado.

"Recebo a notícia da morte do ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, com pesar. Nem sempre estivemos do mesmo lado na política, mas Quércia sempre foi da ala dos desenvolvimentistas, que pensam o país para além de seu tempo", disse.

Lula destacou a expressiva vitória de Quércia ao Senado por São Paulo em 1974, quando concorreu contra Carvalho Pinto, candidato da ditadura militar.

"Sua eleição para o Senado em 1974 foi um marco na luta pelo restabelecimento da democracia. Nesse momento triste, presto minha solidariedade a sua família, seus amigos e correligionários."

Declaração de Dilma e notas do PMDB

A presidente eleita Dilma Rousseff também lamentou a morte do peemedebista.

"É com pesar que recebo a notícia da morte de Orestes Quércia. São Paulo e o Brasil vão se lembrar dele como um expoente da resistência democrática, um governador de muitas realizações e um defensor do desenvolvimento do país. Em todas as circunstâncias, foi um lutador", disse Dilma por meio de nota.

O PMDB de São Paulo também divulga, em sua página oficial, nota lacônica a respeito do falecimento e com informações sobre o velório e o enterro: "o PMDB de São Paulo lamenta informar o falecimento do nosso querido presidente Orestes Quércia. O velório ocorrerá a partir das 14h00 no Palácio dos Bandeirantes, aberto ao público até às 19h00 de hoje (24/12). O sepultamento será realizado no sábado (25/12) às 9h00 no Cemitério do Morumbi em São Paulo".

Na página nacional do partido, figura uma nota assinada pelo presidente nacional, Michel Temer, que, embora suscienta, diz que "sua vida pública sempre foi pautada pela defesa dos interesses nacionais".

Vereador, deputado estadual, prefeito, senador, vice-governador e governador. Sempre concorrendo pelo voto direto, Orestes Quércia nunca perdeu uma eleição até 1986, quando saiu do terceiro lugar nas pesquisas para vencer Antônio Ermírio de Morais e Paulo Maluf na disputa do pelo Palácio dos Bandeirantes. Fez o seu sucessor, Luiz Antônio Fleury Filho, em 1990, mas daí para a frente só amargurou derrotas – ao se candidatar a presidente da República em 1994, a senador em 2002 e, mais duas vezes, a governador, em 1998 e em 2006. Podia perder, mas não desistia.

Biografia

Descendente de imigrantes italianos, Quércia nasceu em 18 de agosto de 1938, em Pedregulho, no interior de São Paulo. Filho de Otávio e Isaura, pequenos comerciantes em Igaçaba, começou a trabalhar cedo, aos sete anos de idade, como atendente no armazém da família. Depois foi fazer arreios na selaria do pai. Improvisou uma oficina para recuperar e revender bicicletas quebradas, início de sua trajetória empresarial. Trabalhou como escriturário, locutor de rádio e repórter de jornal, juntando economias para iniciar seus próprios negócios. Fundou a firma Irmãos Quércia para exploração de dois armazéns em Campinas e, em seguida, se lançou no ramo de imóveis, que se tornaria sua principal atividade.

Escolheu cursar direito na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Campinas. Na faculdade coordenou o jornal do centro acadêmico. Trabalhou como locutor entre 1959 e 1963 nas rádios Cultura e Brasil, além de trabalhar no Jornal de Campinas e na sucursal do jornal Última Hora.

Começou na política em 1963, quando foi eleito vereador em Campinas pelo Partido Libertador. Filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) após o Ato Institucional nº 2. Pelo MDB, em 1966, foi eleito deputado estadual. Voltou para Campinas em 1969 para assumir a prefeitura da cidade.

Nas décadas de 70 e 80, Quércia tornou-se um dos políticos mais influentes no estado conquistando apoio de políticos do interior. Em novembro de 1974, venceu a disputa ao Senado. Em setembro de 1979, apresentou proposta de emenda constitucional convocando uma assembleia nacional constituinte. Em Campinas, no mesmo ano, fundou o Jornal Hoje, publicação posteriormente incorporada ao Diário do Povo.

Já no PMDB, em 1982, foi eleito vice-governador na chapa de André Franco Montoro. Em novembro de 1986, derrotou Paulo Maluf na disputa pelo governo do Estado.

Após a série de vitórias nas urnas que teve seu ápice no governo do Estado, o peemedebista não venceu nenhuma outra eleição. Concorreu à Presidência da República em 1994, mas ficou em quarto lugar. Em 1998, tentou voltar ao governo de São Paulo, mas recebeu apenas 4,3% dos votos válidos.

No governo paulista, Quércia investiu na reforma de estradas, construiu o Memorial da América Latina e criou a Secretaria do Menor, investiu no saneamento básico, inaugurou linhas de metrô, mas endividou o Estado e saiu do governo sob acusação de ter quebrado o Banespa (Banco do Estado de São Paulo). O político também atuou como empresário nos ramos imobiliário e de comunicação, além de investir no setor agropecuário. Após deixar o cargo de governador, Quércia foi presidente nacional do PMDB entre 1991 e 1993.

Em 2010, chegou a lançar candidatura ao Senado. Enquanto o seu partido articulou uma aliança para a eleição de Dilma Rousseff, Quércia e o PMDB paulista ratificaram o apoio já estabelecido ao PSDB, que lançou José Serra como candidato. Em setembro, o peemedebista anunciou, por meio de carta, a desistência da candidatura. O motivo da desistência foi o diagnóstico do retorno de um tumor de próstata que havia sido tratado há mais de 10 anos.

Da redação, com Zero Hora, Estadão e PMDB