Capistrano: Os comunistas, Lumumba e o colonialismo

Uma das mais belas e significativas páginas da história do movimento comunista internacional é a sua luta contra o colonialismo, contra o imperialismo genocida. Sistema de exploração que levou a miséria, o atraso, as guerras e o subdesenvolvimento aos povos africanos, latino-americanos e asiáticos, fonte de acumulação capitalista.

Patrice Lumumba
Na África o Partido Comunista tem uma longa história de luta, o primeiro partido criado no continente africano foi o da África do Sul, organizado em 1921.

A luta contra o colonialismo foi, e ainda é, uma prioridade do internacionalismo comunista. A autodeterminação dos povos é uma bandeira histórica dos comunistas em todo o mundo, sem independência econômica e política, sem distribuição das riquezas do país com os trabalhadores, não existe democracia e progresso.

A dominação do continente africano se deu no final do século XV com o início das grandes navegações e a expansão comercial da Europa.

Iniciou-se aí a montagem de um sistema de exploração colonial, cruel e desumano. Este sistema vai perdurar até meados do século XX, sendo substituído por outro sistema não menos cruel e desumano, o neocolonialismo.

Carlos Comitini, no seu livro “África Arde”, editora Codecri – 1980, pág. 17, mostra as consequencias do sistema de exploração colonial montado pelos europeus, quando diz: “As condições de miséria, atraso e subdesenvolvimento do continente africano resultam exclusivamente do sistema de exploração colonialista introduzido pelos europeus. O proletariado africano, tanto urbano como rural, é mantido pelo colonizador no mais baixo nível de vida, compatível com a mera subsistência, através de um sistema de espoliação, imposição, restrições e salários destinados a assegurar mão-de-obra abundante e barata a seus empreendimentos”.

Só no início do século XX é que começam a surgir no continente africano, de forma organizada, os primeiros movimentos contra o colonialismo europeu. As guerras de libertação nacional e a luta pela autodeterminação dos povos africanos começam a pipocar por todo o continente. Esses movimentos ganham organicidade com a criação dos Partidos Comunistas em todos os continentes, principalmente na África.

Intelectuais e trabalhadores africanos se filiam ao Partido Comunista nos seus respectivos países. A presença dos comunistas nos movimentos de libertação nacional, não só na África, como na America Latina, Caribe e na Ásia é marcante, somos vanguarda nessa luta, consciente das causas da miséria e do atraso, partimos para luta.

Na África a situação do domínio colonial era mais grave do que no restante do mundo, se ainda hoje a situação da maioria dos países africanos é de dependência, espoliação e guerras tribais, imagine no início do século XX.

Uma das figuras emblemática na luta contra a dominação colonial no continente africano, naquela época, é Patrice Lumumba, líder da independência do Congo (1960). Lumumba, um homem culto, carismático, que marcou a luta contra o colonialismo, liderança símbolo em pró de uma África livre, descolonizada e democrática.

Logo após a independência Lumumba foi eleito Primeiro Ministro do novo país, um ano depois foi preso e no dia 17 de janeiro de 1961 foi barbaramente assassinado.

A União Soviética fez uma bela homenagem a esse importante líder africano colocando o seu nome na Universidade da Amizade criada em Moscou, que passou a ser chamada, Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba.

O Congo, uma ex-colônia belga, também é um exemplo do que foi a exploração colonial, País rico, que a partir das últimas décadas do século XIX, em uma das partilhas geopolíticas do continente africano, feita pelas potências européias da época, passou a ser domínio colonial da Bélgica. Segundo o escritor Adam Hochschild, no seu excelente livro, “O fantasma do Rei Leopoldo” – editora Companhia das Letras, 1999: “O rei Leopoldo II da Bélgica se apropriou do vasto e quase inexplorado território que circundava o rio Congo. Levando a cabo uma pilhagem genocida e escravagista que dizimou cerca de 10 milhões de vidas, metade da população local”. Essa é a história do capitalismo: pilhagem, saques, tortura, assassinatos, luta contra as democracias nascentes nas ex-colônias, causador da miséria e da fome no mundo.

Este ano, no dia 17 de janeiro, completa 50 anos do assassinato de Patrice Lumumba, assassinado pelos agentes da CIA e seus asseclas congoleses, momento oportuno para uma reflexão sobre a África, seu passado e o seu futuro.

Aproveito esse espaço para homenagear, através desse singelo registro, a todos os que lutaram e lutam em defesa de um mundo justo e verdadeiramente democrático. Lembrando, que nós, os comunistas, sempre estivemos presente na luta em defesa da democracia e pela autodeterminação dos povos. Dia 17 de janeiro, dia de luta contra o colonialismo e as suas novas formas de dominação. Lumumba continua vivo na memória dos africanos. Portanto, viva os heróis africanos, viva o socialismo.

 

Antonio Capistrano foi reitor da UERN é filiado ao PCdoB